Na semana que marca o Dia dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais, não podemos deixar de falar de um dos maiores expoentes da luta por Reforma Agrária. "A mulher marcada para viver", Elizabeth Teixeira, foi agraciada o título de doutora Honoris Causa. Ao longo da semana, o MST está promovendo diversas ações para chamar a atenção da necessária justiça social no campo. Nas tensões tarifárias entre Estados Unidos e Brasil, o país trabalha para manter a soberania. No meio ambiente, ultrapassamos os limites de recursos disponíveis para esse ano e o Dia da Sobrecarga da Terra nos colocou, mais uma vez, no cheque especial. Em Gaza, os horrores da ofensiva apocalíptica são trazidos em primeira pessoa. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana no IHU Cast.
Hoje, 25 de julho, celebramos o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural. Por isso, fazemos memória à resistência camponesa, falando daquela que é um dos maiores símbolos da luta por justiça agrária no país: Elizabeth Teixeira, mulher centenária que recebeu o título de doutora honoris causa em 18 de julho na Universidade Federal da Paraíba. A vida da primeira liderança mulher das ligas camponesas foi retratada no filme de Eduardo Coutinho, Cabra marcado para morrer, há mais de 40 anos. “Sua trajetória atravessou a repressão, a clandestinidade e o silêncio imposto pela ditadura militar. Mesmo diante das violências sofridas após o assassinato de seu companheiro, João Pedro Teixeira, nunca abandonou a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo”, salientou reportagem do MST.
A Semana Camponesa, que faz alusão ao dia dos trabalhadores rurais, que tem como lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular!”, é marcada por mobilizações em todo o país. Com início no estado da Bahia, é um momento em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST busca por diálogo e negociação com setores públicos pela defesa da reforma agrária e da agricultura familiar. Em alusão à data, o MST publicou no dia 21 uma carta aberta à sociedade brasileira. “No documento, o movimento denuncia a estagnação da Reforma Agrária, critica ataques promovidos pela direita no Congresso Nacional e exige do presidente Lula o cumprimento de compromissos históricos com políticas estruturantes para o campo”.
São 122 mil famílias, ligadas ao MST, que estão em mil 250 acampamentos à espera da reforma agrária. Contudo, conforme aponta Dom José Ionilton de Oliveira, “hoje, a reforma agrária caminha a passos de tartaruga. Um pedaço aqui, outro ali. Claro que o governo divulga que está fazendo, mas é insignificante diante do tamanho da necessidade real”. O bispo também acredita que há uma falta de mobilização dentro da igreja do Brasil, que passou por uma transformação conversadora: “tínhamos uma Igreja das Comunidades Eclesiais de Base, próxima do povo e comprometida com causas sociais. Hoje temos uma Igreja mais voltada à espiritualidade, ligada a movimentos eclesiais”.
Os recursos planetários acabaram ontem, 24 de julho, Dia que marca a Sobrecarga da Terra. Uma estimativa de quanto a nossa civilização supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar seus recursos naturais utilizados ao longo de um ano. Estamos consumindo demais, exaurindo a natureza a um ritmo mais acelerado do que ela consegue se recuperar e agora estamos usando o cheque especial e em débito com o meio ambiente. Ainda assim, a patrola do lobby do agro, dos combustíveis fósseis e das mineradoras continua atropelando a legislação ambiental.
Inevitável, diante o colapso que se aproxima, não voltarmos a falar do PL da Devastação. A semana começou com a mobilização para que o presidente Lula vete o projeto. Entidades da sociedade civil pedem o veto integral na campanha #VetaTudoLula. O clamor, vem também da ciência, que acende o alerta vermelho: “o Brasil está em vias de se tornar inóspito à vida”.
O artigo do professor emérito da Unicamp, Luiz Marques, deixa claro que o governo pode estar prestes a consolidar um genocídio da população brasileira. Conforme alerta o pesquisador, “a subserviência do poder executivo ao agronegócio deve dar lugar à defesa do povo brasileiro, não apenas pelo veto presidencial, mas sobretudo pela convocação da sociedade a reagir a um Congresso nacional que representa apenas interesses espúrios. Caso contrário, o governo se tornará cúmplice dessa licença para matar. O país biologicamente mais rico do mundo é extremamente vulnerável à emergência climática e está em vias de se tornar inóspito à vida, com crescente mortandade de organismos humanos e não humanos por extremos climáticos. O ecocídio em curso no Brasil é também um genocídio do povo brasileiro.
E se o colapso do sistema terra se aproxima, os algoritmos fazem questão de ocultar essa informação. No artigo Apagão digital do jornalismo socioambiental: como os algoritmos estão silenciando a mídia independente, Henrique Cortez assinala que “mudanças nos algoritmos do Google e redes sociais reduziram em mais de 90% o alcance da mídia socioambiental, criando um 'deserto jornalístico' no segmento mais crítico para o futuro do planeta”.
A Corte Internacional de Justiça divulgou decisão histórica sobre responsabilidade de nações na proteção do clima. Países têm o dever de prevenir crise climática, segundo o órgão. Em matéria do ((o))eco, a advogada Helena Rocha, explicou que a medida abre a possibilidade de processos no âmbito internacional, “um Estado poderia entrar com uma ação contra o outro pelo dano sofrido e solicitando, dessa forma, a reparação". Além disso, pontua, “o Direito internacional é incorporado como parte do Direito interno também. Então, esse parecer pode ser usado como um parâmetro interpretativo do Direito interno do países”.
Em resposta ao tarifaço imposto por Trump, o Brasil continua tentando fazer valer a soberania e os interesses do país diante da chantagem estadunidense. O governo brasileiro apresentou uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio - OMC contra a imposição de tarifas arbitrárias aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos. Além disso, avança o projeto de um sistema de GPS nacional, para independência frente às de redes controladas por outras nações.
Com 93% dos brasileiros usando o PIX, ele tornou-se uma ameaça ao sistema financeiro estadunidense. É visto como concorrência desleal” para as bandeiras norte-americanas de cartões, porque é instantâneo, não cobra taxas de pessoas físicas e para as jurídicas, a taxa é inferior à das financeiras. Para o prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, o “Brasil está reinventando o dinheiro”. O problema, conforme resume tradução de Antonio Martins, é que "o sistema quebra o mito do Estado ‘ineficiente’, ameaça lucros financeiros parasitários e pode tornar obsoletos os bancos privados".
Os estudos dos impactos do tarifaço estão alertando para perdas econômicas e, claro, de empregos. No Rio Grande do Sul, a estimativa é que as perdas financeiras sejam equivalentes a maior enchente da história. A reportagem, "Trump ameaça mais de 145 mil empregos no RS para salvar família Bolsonaro e ajudar Big Techs", denuncia que "a guerra é comercial, mas também tem interesses político-ideológicos". Enquanto a CNI estima perda de R$ 2 bilhões para a economia gaúcha e há 22 mil empregos ameaçados diretamente, Eduardo Leite, de olho nas eleições de 2026, fez vídeo para mostrar sua inércia e desinteresse na soberania nacional.
Faltam palavras para descrever a ofensiva apocalíptica que se desenrola em Gaza. Por isso, apresentamos números para explicar: mais de 67 mil mortos e desaparecidos, sendo mais de 19 mil crianças e 12 mil e 500 mulheres. Desde 7 de outubro de Israel já lançou mais de 125 mil toneladas de bombas sobre a Faixa, destruindo 88% do território. 877 civis foram mortos e outros 5.666 foram feridos enquanto aguardavam a distribuição de alimentos. Cerca de 80% da infraestrutura que distribui água foi destruída. Com um palestino morto pelas forças israelenses a cada 12 minutos em julho, quase 119 pessoas mortas por dia, este mês é o mais mortal desde janeiro de 2024. Em entrevista ao IHU, Arlene Clemesha enfatiza que “o brutalismo e o niilismo é a normalização da morte, da necropolítica e da eliminação de pessoas”.
A viagem do Patriarca Latino Pierbattista Pizzaballa e o Patriarca ortodoxo grego, Teófilo III, à Gaza, começou na sexta-feira, 18 de julho, após o bombardeio israelense à única igreja católica da cidade. O Patriarca católico foi embora no sábado, mas antes de partir declarou: “O ataque à nossa igreja é uma tragédia, mas não maior do que o que acontece todos os dias em Gaza”. No retorno, ainda chocado e impressionado, Pizzaballa, que antes era pragmático e cauteloso nas suas declarações, agora fala com o coração: "A ajuda humanitária não é apenas necessária; é uma questão de vida ou morte. Negá-la não é um atraso, mas uma sentença. Cada hora sem comida, água, remédios e abrigo causa danos profundos". O cardeal ainda afirmou: “o silêncio diante do sofrimento é uma traição à consciência”.
O documentário "Gaza: Jornalistas Sob Fogo", de Robert Greenwald, volta sua câmera para a Palestina, destacando a situação de jornalistas e crianças no enclave. A trama se concentra em três jornalistas palestinos que foram mortos. O filme é lançado na mesma semana em que a agência de notícias AFP fez um alerta sobre a situação de seus jornalistas que permanecem em Gaza: “nossos últimos repórteres vão morrer de fome”.
Por trás da barbárie israelense, as Big Techs e o poderoso Vale do Silício. Enquanto a Meta exibe anúncios de arrecadação de fundos para comprar drones para o Exército de Israel em Gaza, as empresas de tecnologia do Vale do Silício estão indo para a guerra. Isso não é uma metáfora. Depois de anos evitando vínculos públicos com o complexo militar-industrial, as Big Techs passaram a assinar grandes contratos militares com o Pentágono e Israel.
Para Jung Mo Sung, vivemos um tempo angustiante e “estranho”, em que o Israel destrói e destrói a faixa de Gaza, matando crianças, mulheres e homens civis nas filas de comidas e água, em nome de que nunca mais haja holocausto do “povo escolhido por Deus”. O mesmo nome de Deus adorado por países cristãos em que os seus governantes aceitam passivamente essas ações ou não sabem como ou não têm coragem para parar essa matança. Tantas mortes, que no fundo são sem sentido, e tanta insensibilidade frente a essas mortes só podem ser justificadas em nome de um Deus.
Giuseppe Savagnone adverte que “A interpretação fundamentalista e fanaticamente nacionalista dos textos bíblicos feita por figuras como Ben-Gvir e seus apoiadores é uma traição, não uma consequência estrutural, do judaísmo. São eles, com sua religiosidade distorcida, e não a Bíblia, que estão na raiz da violência que testemunhamos.
“Meu Deus, estes são tempos tão angustiantes! [...] Tentarei ajudar-te para que tu não sejas destruído dentro de mim [...] Uma coisa, porém, se torna cada vez mais evidente para mim, ou seja, que não podes ajudar, mas somente nós que te ajudamos e, desse modo, ajudamos a nós mesmos.” Em um campo concentração nazista, uma jovem judia holandesa, Etty Hillesum, escreveu no seu diário essa oração da manhã de domingo do dia 12 de julho de 1942.
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