23 Julho 2025
Explorar combustíveis fósseis na Foz do Amazonas pode emitir 4,7 bilhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, mais de duas vezes o que o Brasil emitiu em 2023, mostrou o físico especializado em mudanças climáticas e pesquisador do ClimaInfo Shigueo Watanabe Jr.. Agora, um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution por pesquisadores da UFRJ, da USP, Universidade de Exeter (Reino Unido) e Fundação Hermínio Ometto avalia os efeitos da atividade petrolífera na região sobre a biodiversidade. A conclusão também é devastadora.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 23-07-2025.
A pesquisa traz uma análise inédita da sobreposição entre os blocos de exploração de petróleo e gás fóssil na Foz e áreas oficialmente classificadas como prioritárias para conservação da biodiversidade. E conclui que o modelo atual de expansão do petróleo na Amazônia representa riscos ambientais crescentes, diretos e indiretos.
Com base em análise geoespacial de dados públicos, o estudo mostra que 30 blocos na Foz do Amazonas, entre já concedidos e que foram ou podem ainda ser ofertados, sobrepõem diretamente áreas classificadas como de “prioridade extremamente alta” pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em 13 deles a sobreposição ultrapassa 80% da área total, destaca o Nexo.
O bloco mais emblemático, o FZA-M-59, operado pela Petrobras, já teve sua licença negada diversas vezes pelo Ibama – apesar da pressão política sobre o órgão ambiental tornar a autorização cada vez mais provável. A pesquisa mostra que a maioria dos blocos está a apenas 21 km de áreas prioritárias para a conservação, o que compromete seriamente a integridade ecológica da região.
O estudo critica a ausência de instrumentos para uma avaliação estratégica das oportunidades e riscos da região, o que fragiliza a governança ambiental e expõe o Brasil a riscos jurídicos e reputacionais. Uma opção prevista em portaria conjunta do MMA e do Ministério de Minas e Energia (MME) é a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), que tem entre seus objetivos “subsidiar ações governamentais com vistas ao desenvolvimento sustentável e ao planejamento estratégico das atividades de exploração e produção de petróleo”. Mas que não foi feita para a Foz do Amazonas.
A eliminação dos combustíveis fósseis, tanto para conter as mudanças climáticas como para proteger a biodiversidade, é urgente, mostram vários estudos científicos. O impasse recai sobre quem deve primeiro eliminá-los. O presidente Lula, acertadamente, cobra tal ação dos países ricos. Afinal, foram eles que mais queimaram derivados de petróleo, gás e carvão na história. Por isso, são os principais responsáveis pela crise climática.
O problema é que Lula usa a inação das nações mais desenvolvidas para justificar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas e em outras bacias da Margem Equatorial, destaca Alexandre Gaspari, do ClimaInfo, em artigo no Valor. Porque, no frigir dos ovos, a conta climática continuará mais pesada para os países em desenvolvimento, como o Brasil. Além disso, Lula argumenta que os combustíveis fósseis da região financiarão a transição energética brasileira. O que os dados do Fundo Social, formado por recursos do pré-sal para financiar ações climáticas, entre outros fins, provam que não procede.
A Shell e outras empresas do setor de petróleo abandonaram uma tentativa para definir uma estratégia de emissões líquidas zero, “após serem informados de que tal padrão exigiria que parassem de desenvolver novos campos de petróleo e gás”, segundo documentos obtidos pelo Financial Times, em matéria repercutida pela Reuters.
Shell, Aker BP e Enbridge deixaram a Science Based Targets initiative (SBTi) desde o final do ano passado após a circulação de versões preliminares dos padrões estipulando que não deveriam desenvolver novos campos de petróleo e gás após apresentarem um plano climático à SBTi, ou até o final de 2027, o que ocorresse primeiro. Também foi estabelecido que a produção de petróleo e gás deveria cair significativamente.