09 Julho 2025
Tal como prometido na semana passada, a Secretaria-geral do Sínodo divulgou esta segunda-feira, 7 de julho, as “Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo 2025-2028”. O documento – já disponível em português – faz jus ao título, apontando uma série de caminhos para que toda a Igreja prossiga o caminho iniciado por Francisco, mas a sua grande novidade é o anúncio da criação, por parte de Leão XIV, de mais dois Grupos de Estudo.
A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7 Margens, 07-07-2025.
O novo Papa, que reuniu com os membros do Conselho Ordinário da Secretaria-geral do Sínodo no dia 26 de junho, não só confirmou os Grupos de Estudo instituídos por Francisco no ano passado para aprofundar a reflexão sobre determinados temas do ponto de vista canônico, teológico e pastoral, como acrescentou dois novos: um sobre “A liturgia em perspectiva sinodal” e outro sobre “O estatuto das Conferências Episcopais, das Assembleias Eclesiais e dos Concílios Particulares". Quanto à Secretaria-geral do Sínodo, fica com a tarefa de “garantir que as decisões do Papa, que amadurecem também com base nos resultados desses Grupos, sejam harmoniosamente integradas ao caminho sinodal em curso”, pode ler-se no documento. Não são referidas datas para a apresentação de conclusões por parte destes novos grupos, pelo que se depreende que tenham como prazo o mesmo dos restantes: 31 de dezembro deste ano.
O texto, com 23 páginas organizadas em quatro capítulos, abre com uma introdução do cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, que sublinha que neste mundo que “está preso numa espiral de violência e guerra sem fim, que tem cada vez mais dificuldade em criar oportunidades de encontro e diálogo”, há mais do que nunca a necessidade de uma Igreja que saiba ser “sinal e instrumento” da “unidade de todo o gênero humano”.
O cardeal afirma então que muitas Igrejas locais no mundo estão “a seguir com entusiasmo” o caminho sinodal, mas reconhece que outras “ainda se perguntam como empreender a fase de implementação ou estão a dar os primeiros passos”. Tendo isso em conta, o documento “Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo” pretende ser “um horizonte a confrontar” e um impulso a “avançar com coragem”, enfrentando resistências e dificuldades.
Assegurando que a Secretaria-geral do Sínodo permanece à disposição de todos, Mario Grech refere que esta continua a ter como missão ouvir, acompanhar, “animar o diálogo e a troca de dons entre as Igrejas”, mas também, com base nas contribuições e perguntas recebidas, oferecer “mais estímulos e instrumentos”.
Configurando-se já como um desses “estímulos e instrumentos”, o novo documento visa ajudar a compreender em que consiste, afinal, esta “fase de implementação do processo sinodal” na qual se encontra atualmente a Igreja. A isso mesmo é dedicado o primeiro capítulo, onde pode ler-se que não se trata de “uma tarefa adicional solicitada por Roma”, nem de um momento para formular “hipóteses abstratas”. Tampouco é um “retorno” ou “uma pura repetição do que já foi experimentado”. A fase de implementação – esclarece-se – “faz parte da vida ordinária das Igrejas”, que deverão identificar “caminhos formativos para alcançar uma conversão sinodal tangível nas diversas realidades eclesiais”.
O documento prossegue alertando que todos são chamados a envolver-se, porque este “não pode ser um caminho limitado a um núcleo de adeptos”. É essencial, pois, envolver aqueles que até agora permaneceram “à margem” do caminho sinodal, “pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais”, em particular os pobres e excluídos. Da mesma forma, é necessário um “cuidado especial” para “escutar aqueles que expressaram dúvidas e resistências”. Nesse sentido, é feito o convite às Igrejas para que busquem “instrumentos de escuta” em diversos contextos e não apenas nas paróquias, mas, por exemplo, nas universidades, nos centros de escuta e acolhimento, nos hospitais e prisões, nos ambientes digitais.
O texto reitera, então, que “o principal responsável” pela fase de implementação em cada Igreja local é o bispo diocesano ou eparquial, que deverá recorrer a outras figuras e organismos, como os vários Conselhos (presbiteral, pastoral, econômico) e, sobretudo, às equipes sinodais diocesanas/eparquiais, cujo trabalho, na fase de consulta, foi “precioso”.
“A sua contribuição será também fundamental na fase de implementação”, aponta o documento, defendendo que as equipas existentes sejam valorizadas e renovadas, reativadas no caso de terem sido suspensas, e eventualmente formadas onde não existam. Essas equipes devem incluir “leigos e leigas, padres e diáconos, consagrados e consagradas de diferentes idades e portadores de diferentes culturas e modelos de formação”, e a oportunidade de convidar representantes de outras comunidades cristãs ou religiões como “observadores” deve ser avaliada. O bispo, se não fizer parte, será “regularmente informado” sobre o trabalho e terá de se reunir com a equipa “quando for oportuno”.
Enquanto isso, a Secretaria-geral do Sínodo permanecerá sempre “de porta aberta” para ouvir as necessidades, intuições e propostas das Igrejas locais, “facilitar” o seu trabalho e responder às solicitações de conteúdo e metodologias. Nessa perspectiva, serão promovidas conferências, seminários de estudo e momentos de reflexão partilhada. E será acompanhada a organização das assembleias continentais de avaliação (no primeiro trimestre de 2028) e da assembleia eclesial de outubro de 2028, como ocasiões “para partilhar experiências de renovação de práticas e estruturas em sentido sinodal”, a fim de as submeter ao Papa para “validação definitiva”.
As “Pistas” recordam depois a estrutura e o conteúdo do Documento Final (DF) da Assembleia de 2024, um texto que definem como “rico e orgânico” cujo conhecimento “é essencial promover”. Assim, defende o novo texto, será “oportuno” proporcionar “momentos e/ou ferramentas de formação, acompanhamento e orientação na leitura”, recomenda-se.
Reconhecendo que “não é possível indicar, entre as muitas áreas de atenção do DF, aquelas que devem ser consideradas universalmente prioritárias”, a Secretaria-geral considera que “as circunstâncias locais podem, mais do que legitimamente, tornar de indiscutível importância e urgência abordar um ponto específico que em outros lugares não tem a mesma prioridade”. E dá exemplos: “pode ser o caso das relações entre a Igreja Latina e as Igrejas Católicas Orientais em algumas áreas, ou do impulso ecuménico ou do diálogo inter-religioso em outras, o que exigirá dar uma forma particular, mesmo estrutural e institucionalizada, ao compromisso de caminhar juntos”.
Considerando esta necessidade de “caminhar juntos como Igreja”, é reiterado o apelo às Igrejas locais para “partilharem os passos dados em algumas áreas específicas”, nomeadamente no que diz respeito ao “acesso efetivo a funções de responsabilidade e papéis de liderança que não exigem o sacramento da Ordem por parte de mulheres e homens não ordenados, leigos e leigas, e consagrados”.
O documento deixa ainda uma recomendação: que o método sinodal não se reduza “a uma série de técnicas de gestão de reuniões”, mas seja vivido como uma “experiência espiritual e eclesial que implica o crescimento num novo modo de ser Igreja”.
Por fim, lança um convite a toda a Igreja: “olhar com confiança para o caminho” dos próximos anos, até porque o método sinodal já permitiu aos fiéis “ser surpreendidos pelo Espírito Santo e colher frutos inesperados na fase de consulta e escuta, bem como durante as sessões da Assembleia Sinodal, suscitando o espanto e o entusiasmo de muitos participantes”.
E conclui com um convite, também, à participação no Jubileu das equipas sinodais, que terá lugar a 24, 25 e 16 de outubro: “Que a ocasião de caminhar juntos fisicamente em direção à Porta Santa se torne uma oportunidade para trocar dons e celebrar aquela esperança que não desilude, a única capaz de nutrir o compromisso de levar por diante, como Igreja sinodal, a missão confiada pelo Senhor Jesus aos seus discípulos”.