27 Junho 2025
Durante a Semana de Ação Climática em Londres, representantes de onze países, da União Europeia e do Banco Mundial reuniram-se com as ministras brasileiras Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) para consolidar apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em Inglês). O mecanismo, proposto pelo Brasil na COP28, busca combinar recursos públicos e privados para recompensar financeiramente países que mantenham e ampliem suas florestas tropicais, com previsão de lançamento na COP30, em Belém.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 26-06-2025.
O fundo inova ao garantir que pelo menos 20% dos recursos sejam destinados a Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, grupos que recebem apenas 1% do financiamento climático global atualmente, mas protegem vastas áreas florestais. Como apurou o Capital Reset, Noruega, Reino Unido e Alemanha já se comprometeram a fazer os primeiros aportes financeiros.
A adesão desses três países europeus representa um primeiro passo concreto para a implementação do fundo, que busca criar incentivos financeiros para a conservação ambiental em escala global. Em sua coluna em O Globo, Lauro Jardim destaca que a ministra Marina Silva fez questão de assinalar a combinação de capital público e privado para recompensar países que mantenham suas florestas em pé. “Não se trata de uma proposta apenas do Brasil, mas de uma construção coletiva com parceiros como Reino Unido, Noruega e Banco Mundial”, afirmou.
O modelo do TFFF difere dos mecanismos tradicionais por funcionar como um fundo de investimento autossustentável, não dependente de doações. Os pagamentos serão proporcionais à área de floresta preservada em cada país, verificada por imagens de satélite, com deduções em caso de desmatamento. A meta é mobilizar US$ 4 bilhões anuais – valor que supera em até 400 vezes os mercados voluntários de carbono atuais. Durante os debates em Londres, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou que o fundo representa “a resposta certa” para conciliar desenvolvimento e conservação florestal diante da emergência climática.
A implementação do TFFF ainda enfrenta desafios técnicos e políticos antes de sua efetivação na COP30. Enquanto países como Colômbia, Indonésia e nações europeias demonstraram forte apoio, a adesão plena do setor privado e a definição de critérios rígidos de monitoramento permanecem como obstáculos. O fundo precisará equilibrar as demandas de países desenvolvidos, que exigirão transparência nos resultados, com as necessidades de nações em desenvolvimento, que buscam flexibilidade para crescimento econômico sustentável.
Especialistas apontam que o sucesso do TFFF poderá redefinir o financiamento climático global, criando um modelo replicável para outros biomas ameaçados. Se implementado conforme planejado, o fundo não apenas injetará recursos sem precedentes na conservação florestal, mas também reconhecerá formalmente o papel central dos Povos Indígenas na proteção ambiental. No entanto, alertam que o mecanismo não pode ser visto como solução isolada, devendo ser complementado por políticas nacionais robustas contra o desmatamento ilegal e por iniciativas de desenvolvimento sustentável nas regiões florestais.
Aos que veem com desconfiança os métodos de compensação e financiamento, Frances Seymour, referência mundial em proteção às florestas, explicou à Folha que é possível, sim, encontrar modelos favoráveis à conservação ambiental – e não apenas ferramentas que funcionem como passes livres para poluir.
“Essa é uma preocupação legítima, mas os dados mostram que, na verdade, empresas que compram créditos voluntariamente têm melhor desempenho na redução de emissões do que aquelas que não compram”, detalhou Seymour. “É possível fazer ambos: reduzir ao máximo o que é técnica e economicamente viável e, depois, compensar o que não pode ser evitado”.
As iniciativas brasileiras em Londres contaram com a aprovação pública do rei Charles III, enquanto o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), comemorou ao lado do Príncipe William a confirmação da realização, na capital fluminense, da cerimônia anual do Earthshot, prêmio ambiental criado pelo herdeiro do trono britânico, em novembro. A informação é do Valor.