19 Março 2025
A desidratação recente dos fluxos de recursos para o financiamento climático internacional em favor da ampliação dos gastos com defesa militar pode criar um mundo ainda mais perigoso que o atual, com risco maior de guerras. O alerta é da CEO da COP30 no Brasil, Ana Toni, depois de vários governos anunciarem cortes orçamentários de ajuda internacional para reforçar a compra de armamentos e outros gastos de defesa.
A informação é publicada por ClimaInfo, 18-03-2025.
Em entrevista ao Guardian em Londres, Ana Toni lembrou que as mudanças climáticas servem como um “acelerador de desigualdades e pobreza”, o que pode intensificar conflitos domésticos e internacionais com potencial de se tornarem guerras. “A luta contra a mudança do clima precisa ser vista como algo que não está divorciado da grande questão de segurança”, destacou.
O alerta acontece enquanto vários países desenvolvidos, com destaque para o Reino Unido, Alemanha e França, estão reduzindo sua previsão de financiamento para ação climática internacional e redirecionando esses recursos para a compra de armamento e treinamento militar. Esse tema é bastante delicado na Europa, que não conta mais com o apoio incontestável dos Estados Unidos de Donald Trump para conter a ameaça geopolítica da Rússia.
“Precisamos levar a mudança do clima a sério, caso contrário, teremos ainda mais guerras no futuro. Então, esse equilíbrio entre as necessidades de defesa de curto prazo e a necessidade de longo prazo de evitar essa luta maior contra as mudanças climáticas é absolutamente necessário”, comentou a CEO da COP30.
Já em entrevista à Rádio Eldorado, do Grupo Estado, Ana Toni contextualizou o debate sobre transição energética no Brasil e no mundo. Para ela, esse tema “chegou atrasado para a sociedade brasileira” em relação ao resto dos países, o que se deve ao fato do Brasil ter uma matriz elétrica predominantemente renovável e uma matriz energética “mais limpa” do que as outras nações do mesmo porte.
A questão ganhou destaque por conta do impasse na exploração de combustíveis fósseis na região da foz do Amazonas, um tema que colocou em xeque as credenciais verdes do país antes da COP30. “Cada país tem a sua peculiaridade, as suas necessidades e o mais importante no tema de energia é adensar [a discussão] e ter um debate de como essa transição vai acontecer no Brasil”, disse.
Por falar em combustíveis fósseis, O Globo repercutiu a carta publicada nesta 3ª feira (18/3) pela Transparência Internacional e outras 260 organizações nas quais cobram da presidência brasileira da COP30 e do secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) medidas eficazes de transparência e de combate à influência indevida do Big Oil nas negociações sobre o clima.
“Por muito tempo, lobistas do ramo de combustíveis fósseis têm inundado os espaços de negociação climática global anual, as COPs. Ao lado de outras indústrias altamente poluidoras (por exemplo, o setor agropecuário no Brasil), estes lobistas têm atrasado os processos de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, de redução de emissões e de proteção das comunidades afetadas”, destacou o documento.
O texto também afirma que o Brasil tem uma “oportunidade única” no comando da COP30 para restabelecer o curso da diplomacia climática global.