29 Outubro 2024
Análise da UNFCCC indica que as NDCs atuais reduziriam emissões de gases de efeito estufa em menos de 3% até 2030 em relação a 2019.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-10-2024.
A menos de duas semanas para a abertura da COP29 de Baku, os governos receberam ontem (28/10) mais um “puxão de orelha” pela falta de ambição de seus compromissos nacionais contra a crise climática. Uma nova análise da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) estimou que as atuais Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) levariam a uma redução diminuta das emissões de gases de efeito estufa até o final desta década.
De acordo com o relatório de síntese da UNFCCC, os compromissos atuais de mitigação dos países, se plenamente implementados, reduziriam as emissões globais em 2,6% até 2030 em relação aos níveis de 2019. Esse valor está muito aquém do corte de 43% recomendado pela ciência para limitar o aumento da temperatura média global em 1,5°C neste século.
As projeções da UNFCCC indicam que as NDCs atuais garantiriam um volume total de emissões de 51,5 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) em 2030, menos de 3% abaixo do volume observado há cinco anos (52,9 GtCO2e), além de quase 50% a mais do registrado em 1990 e 8,3% acima do total de emissões em 2010.
Para efeito de comparação, de acordo com o 6º relatório de avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas), o total de emissões ao final da década precisa ficar abaixo de 30,15 GtCO2e para manter a viabilidade da meta de 1,5°C de aquecimento até 2100.
Na análise da UNFCCC fica claríssima a necessidade de financiamento climático para os países em desenvolvimento: pelas NDCs atuais, as emissões projetadas para 2030 aumentariam em relação às emissões de 2019 se não forem implementadas as reduções condicionadas. Isto é, sem financiamento climático para as reduções condicionadas, as emissões globais de gases de efeito estufa continuarão a crescer.
Outra análise, divulgada na semana passada pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), já tinha antecipado o quadro difícil que os países precisarão enfrentar para manter viva a meta de 1,5°C de aquecimento. O relatório indicou que a manutenção das políticas climáticas atuais para as próximas décadas limitaria o aquecimento médio do planeta a 3,1°C até o final do século, mais do que o dobro da meta de Paris.
A insuficiência dos compromissos climáticos atuais reforça a necessidade de que os países apresentem novas NDCs que sejam bem mais ambiciosas que as atuais, destacou o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell. Este será um dos temas de discussão na COP29 de Baku, onde também será definido o futuro do financiamento internacional para ação climática no próximo ciclo das NDCs (2025-2030).
“As descobertas do relatório são gritantes, mas não surpreendem”, afirmou Stiell. “As novas NDCs devem ter metas de emissões mais ambiciosas para toda a economia, divididas em setores e gases, e devem ser confiáveis, apoiadas por regulamentações, leis e financiamento substantivo para garantir que esses objetivos sejam cumpridos.”
AFP, Al-Jazeera, Bloomberg, Independent, Reuters, RFI e Sky News, entre outros veículos, repercutiram a análise da UNFCCC.
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Compromissos nacionais de mitigação estão muito aquém do necessário para conter crise climática, diz ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU