12 Junho 2025
A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) – organismo da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) – acaba de divulgar um comunicado para “juntar a sua voz a todos os que clamam pela Paz” na Faixa de Gaza, onde afirma claramente que “repudia as práticas desumanas e desrespeitadoras do Direito da guerra” da parte de Israel e pede “em especial ao governo português ações concretas de suspensão da cooperação com o Governo” daquele país.
A informação é publicada por 7 Margens, 11-06-2025.
Intitulado “É TEMPO DE GRITAR PELA PAZ” (assim mesmo, em maiúsculas), o comunicado começa por reconhecer que a guerra “foi desencadeada como reação aos deploráveis ataques terroristas da responsabilidade do Hamas que vitimaram cidadãos israelitas inocentes” e por condenar o fato de alguns deles continuarem até hoje como reféns. Mas logo de seguida aponta que a reação de Israel “há muito excedeu critérios de legítima defesa e proporcionalidade”, dado que “provocou, e continua a provocar, a morte de várias dezenas de milhar de palestinianos inocentes”, sendo “particularmente abjeta e revoltante a morte e o sofrimento de crianças, a quem é negado o futuro”.
Para o organismo da Igreja Católica portuguesa, não restam dúvidas: “a reação de Israel tem assentado em práticas, que se qualificam como crimes de guerra e contra a humanidade, com o alvo sistemático de civis indefesos, e a recusa de fornecimento de água e alimentos necessários à sobrevivência das pessoas que ali vivem”.
“Consideramos por isso, como tantas vozes internacionais que se fazem ouvir cada vez mais alto, que devem ser levados a sério os propósitos do governo israelita, com o apoio do governo norte-americano, de eliminação e deportação coletiva da população residente na Faixa de Gaza. Estes propósitos não favorecem a libertação dos reféns israelitas, não reduzem a adesão de muitos palestinianos ao Hamas, nem contribuem para que, no futuro, os povos desta região possam viver em paz e segurança”, pode ler-se na nota da CNJP.
O comunicado – publicado seis dias depois de um apelo lançado no 7Margens para que a Igreja Católica portuguesa levantasse a sua voz sobre o que se passa em Gaza – acrescenta ainda que são “igualmente inaceitáveis tanto as manifestações de ódio contra o povo judeu como a associação automática entre críticas às políticas do governo de Israel e o antissemitismo, uma vez que a denúncia da situação atual é partilhada por muitas pessoas de fé e cultura judaicas”.
“Com esta nota, a Comissão Nacional Justiça e Paz repudia as práticas desumanas e desrespeitadoras do Direito da guerra, e espera da parte dos governos da União Europeia, pedindo em especial ao governo português, ações concretas de suspensão da cooperação com o governo de Israel, sob pena de incoerência com os princípios de defesa dos direitos humanos que regem essa União”, conclui o organismo católico, associando-se ao secretário-geral da ONU, António Guterres, “no sublinhar de que o caminho para uma paz justa para a Terra Santa só pode ser alcançado através do reconhecimento de dois Estados que correspondam aos direitos dos povos israelita e palestiniano”.
A CNJP deixa depois o apelo a todas as comunidades religiosas, em particular a comunidade católica, para que “continuem unidas na oração pela Paz naquela região do mundo e em todos os contextos feridos pela guerra, dando testemunho de que a fé não pactua com a indiferença nem com a violência, mas é caminho de reconciliação, justiça e compromisso com a dignidade de todos os seres humanos”.
E propõe a todas as comunidades cristãs que, ao longo do mês de junho, unam as suas vozes numa oração que a seguir reproduzimos:
Escuta, Israel, o clamor que se ergue do pedaço de terra que transformaste em campo de concentração.
O clamor daqueles que se encontram reféns de terroristas e às mãos da tua cólera desmedida.
Escuta, Israel, a voz do Senhor Nosso Deus que te manda ter piedade do órfão e da viúva.
Lembra-te, Israel, de como o nosso Pai Abraão se abeirou do Altíssimo para lhe pedir clemência da cidade inteira ainda que nela apenas houvesse dez homens justos. “Destruirás o justo com o injusto?” (Gn 18, 23). E lembra-te de como por causa dos dez justos o Senhor poupou Sodoma (Gn 18, 31).
"A misericórdia e a verdade vão encontrar-se, vão beijar-se a paz e a justiça; da terra há de brotar a verdade, e a justiça espreitará do céu" (Sl 85, 11-12).
Não mais sangue, Israel. Não mais sangue. "A força de um rei está em amar a justiça" (Sl 99, 4). Não em aniquilar, nem mesmo os inimigos.
Lembra-te, Israel, dos duros cativeiros que sofreste e não queiras pagar o mal com o mal, nem curar as tuas feridas com crueldade.