10 Junho 2025
O evento, que reuniu pelo menos 19 mil pessoas em uma rota de Paris a Chartres, atrai um público cada vez mais jovem.
A reportagem é de Daniel Verdú, publicada por El País, 09-06-2025.
Às 14h, o padre, usando luvas e de costas para os fiéis, voltado para Deus (como ditava a rigorosa tradição), inicia a missa, inteiramente em latim. A liturgia, na Catedral de Chartres, maravilha gótica a 100 quilômetros de Paris, constitui o esplendor máximo do rito tridentino, o Santo Graal do tradicionalismo católico. Quase ninguém entende uma palavra, mas não importa; há um missal com traduções para as mil pessoas que podem assistir à celebração dentro da igreja. E, acima de tudo, é uma reivindicação monumental de um ramo marginalizado da Igreja moderna que cresce a cada ano, impulsionado pela ascensão do conservadorismo em diferentes cantos do mundo, e culmina aqui, sob o olhar atento do Vaticano. É uma peregrinação de três dias cujo número de seguidores cresce a cada edição.
A onda de peregrinos convocada nesta segunda-feira pela associação Nossa Senhora da Cristandade, sempre para o dia da Segunda Páscoa (os restos do véu da Virgem são conservados na catedral), não parou de aumentar nos últimos anos. Eram 500 em 1983. Este ano, segundo as inscrições, pelo menos 19.000 participaram. Percorrem cem quilômetros de árduos caminhos que separam Paris da Catedral de Chartres, carregando bandeiras e cruzes. Animam as horas cantando e rezando em latim e acariciando o terço enquanto empurram carrinhos de bebê ou os mais pequenos tomam uma cerveja. Ritos anteriores ao Concílio Vaticano II, como a Missa Tridentina (oferecida de costas e em latim), constituem agora um desafio à Santa Sé, que, sob o Papa Francisco, há quatro anos, restringiu essas práticas a casos excepcionais.
"Comecei aos 18 anos e já faz 40. Amamos Jesus e queremos que ele una os corações para a comunhão do mundo", explica Cécile de Beir, fotógrafa e uma das organizadoras do evento.
As inscrições aumentam 8% a cada ano, e a idade dos peregrinos diminui: a média atual é de 20 anos. São 1.700 crianças e 500 adolescentes entre 13 e 16 anos. Entre eles estão François Aubert, de 21 anos, e seu amigo, Étienne Régent, de 19. Este ano, eles fizeram a peregrinação de bicicleta. "Viemos porque, no mundo de hoje, é muito difícil se conectar com a verdade, com algo autêntico. Este tipo de missa deveria ser mais frequente, pois resgata o sentido do sagrado. Não somos contra a missa moderna, mas preferimos esta", observa Aubert, embora ambos admitam não entender uma palavra de latim.
O número de fiéis presentes no evento, onde hordas de fiéis começam a chegar antes da missa, faria um festival de música pop ou uma rave techno parecer insignificante em comparação. Cerca de 3.300 famílias peregrinas, 10 mil adultos solteiros, 1.700 estrangeiros, 1.200 voluntários, 6 mil "anjos da guarda" — pessoas com deficiência que acompanham a peregrinação com orações —, 90 líderes de organizações, 430 clérigos, incluindo o abade Jean de Massia, capelão-geral. E uma dúzia de grandes pregadores, como D. Athanasius Schneider, bispo auxiliar da Arquidiocese de Astana (Cazaquistão), e Mons. Patrick Chauvet, ex-reitor de Notre-Dame de Paris. Também esteve presente o bispo de Chartres, D. Philippe Christory, que abriu as portas de sua catedral e presidiu a missa.
Os organizadores não escondem que Christory não é fã do festival, mas ele o realiza como se não tivesse escolha e prefere coexistir pacificamente com uma tradição revivida pelo escritor e poeta Charles Péguy, que, ninguém esconde, é uma fabulosa fonte de renda para a indústria hoteleira da cidade.
A marcha, no entanto, também tem um componente reacionário e contido de protesto, especialmente durante os anos de Francisco, que se opôs completamente a esse tipo de celebração. Em julho de 2021, com um motu proprio (documento papal), o Pontífice limitou a celebração das Missas Tridentinas (em razão do Concílio de Trento), ou seja, aquelas oficiadas no rito antigo anterior ao Concílio Vaticano II. Até então, elas continuavam sendo realizadas por grupos conservadores e pelo setor mais à direita da Igreja, já que Bento XVI a permitiu em um documento de 2007 para evitar novas fraturas como a que havia ocorrido com os lefebvrianos, um dos principais grupos tradicionalistas. Agora, eles devem pedir permissão aos bispos para celebrá-las, e são autorizados em pouquíssimos casos. "Respeitamos o que Francisco promulgou. Ele era o chefe da Igreja, é claro. Embora não seja algo confortável para nós. Esperamos que este Papa nos ame", observa De Bier.
O poder da peregrinação de Nossa Senhora da Cristandade já transcendeu fronteiras e conta com sua versão em espanhol há três anos. Todo verão, ela percorre o norte da Espanha por 85 quilômetros, da Catedral de Oviedo à Basílica de Covadonga. A primeira edição incluiu 400 quilômetros; a segunda, 900; e este ano, 1.200 quilômetros.
O rito antigo, no qual a missa é celebrada em latim, voltada para trás e com outro missal, ainda era usado por alguns grupos católicos na Europa Central e nos Estados Unidos. Bento XVI o autorizou, embora teoricamente excluído da reforma do Concílio Vaticano II, porque queria acomodar diferentes sensibilidades e evitar novas fraturas, como as que ocorreram quando o bispo francês Marcel Lefebvre foi excomungado. Ele havia desafiado Paulo VI anos antes com uma missa desse tipo diante de 7 mil fiéis. Os lefebvristas foram excluídos da Igreja em 1988 com João Paulo II, quando o próprio Lefebvre ordenou quatro bispos.
A Missa Tridentina foi instituída por volta de 1570, após o Concílio de Trento. As orações são rezadas pelos sacerdotes em voz baixa e apenas em latim. Além disso, eles devem usar luvas para não tocar diretamente na Eucaristia e permanecer de costas para os fiéis. Esse rito deixou de ser usado em 1969, quando foi substituído pela atual missa de Paulo VI. A questão agora é o que o novo Papa Leão XIV fará com essa celebração cada vez mais popular.