30 Mai 2023
Uma pesquisa entre católicos que viajarão da França para Portugal em agosto para a Jornada Mundial da Juventude sugere que os jovens estão pelo menos interessados na missa tradicional.
A reportagem é de Matthieu Lasserre, publicada por La Croix International, 26-05-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pela primeira vez em seus 40 anos de história, os organizadores de uma peregrinação católica tradicionalista que percorre 140 quilômetros, da Catedral de Notre Dame em Paris até à Catedral de Notre Dame em Chartres, tiveram que recusar peregrinos devido ao grande fluxo de inscrições. Um número recorde de 16.000 pessoas se inscreveu na chamada “Peregrinação da Cristandade”, durante a qual se celebra a missa na forma pré-Vaticano II. E, segundo os organizadores, metade desses peregrinos tem menos de 20 anos.
Isso significa que a missa tradicional está realmente fazendo sucesso entre os jovens? Uma pesquisa realizada pelo La Croix entre os mais de 30.000 jovens católicos franceses que viajarão a Lisboa nas próximas semanas para a Jornada Mundial da Juventude de 2023 sugere que alguns certamente gostam da antiga missa em latim.
Cerca de 38% dos entrevistados expressaram vários níveis de satisfação com a liturgia tridentina. Destes, 8% afirmaram que se trata de sua missa preferida; 11% disseram gostar tanto quanto da missa em francês; e 19% disseram que a frequentam ocasionalmente. Em muitas igrejas, os jovens de 18 a 35 anos constituem grande parte das assembleias tradicionalistas, “um bom terço, sem contar as crianças”, segundo vários deles em várias dioceses da França.
O primeiro argumento apresentado pelos jovens a favor da missa de São Pio V é que ela exponenciaria o “sentido do sagrado”. Na liturgia tridentina (resultado da reforma do Concílio de Trento no século XVI), o celebrante está voltado para o altar e recita as orações em voz baixa em latim.
“Tenho a sensação de que estou lá acima de tudo por Cristo”, destacou Jeanne (nome fictício), uma parisiense de 28 anos, mãe de uma família que assiste à missa do Vaticano II. “Eu me esqueço de quem é o padre, cuja personalidade fica em segundo plano, e me foco naquilo que é essencial: a importância do Santo Sacrifício”, disse ela.
Albane, uma mulher de 30 anos de Marselha, concorda. Ela aprecia especialmente os rituais da missa pré-conciliar.
“Estou atenta a cada gesto, até à menor genuflexão, porque me ajudam a compreender o mistério da Eucaristia”, disse ela. “E o grande espaço dedicado ao silêncio é propício à oração.”
Jean de Tauriers é o presidente da Notre-Dame de Chrétienté (“Nossa Senhora da Cristandade”), uma organização leiga sem fins lucrativos que começou a organizar a Peregrinação de Chartres em 1983. Ele acredita que as pessoas são atraídas pela tradicional missa em latim devido à sua ênfase na dimensão vertical da oração.
“Muitas pessoas dizem que rezam melhor nessa missa, que enfatiza a transcendência”, disse Tauriers. Ele argumentou que o fato de o Rito Antigo permanecer o mesmo há cinco séculos também tranquiliza alguns jovens católicos em busca de estabilidade.
“Eu rezo com o missal da minha tataravó”, disse Élodie, da Diocese de Le Mans. “Eu sinto que estou seguindo os passos das raízes da Igreja e de todos os grandes santos que rezaram com essas mesmas palavras”, explicou ela.
Essa ancoragem histórica, importante em comunidades tradicionalistas nas quais a grande maioria dos fiéis é conservadora, serve de referência em uma sociedade francesa marcada pelo declínio do catolicismo.
Cyprien é um exemplo. Aos 22 anos, natural de Versalhes, uma diocese onde os tradicionalistas estão entre os mais numerosos da França, ele disse ter retornado à fé católica graças à missa tridentina.
“O modernismo prejudicou a Igreja”, insistiu, rejeitando qualquer ligação com uma abordagem política. “Com a missa em latim, estamos colocando a Igreja de volta no centro da vida social, reafirmando os valores católicos e o ensino do catecismo.”
“A vantagem do Rito Tridentino é que ele oferece um pacote completo que parece eficaz”, argumentou Paul Airiau, historiador católico especializado em tradicionalismo.
“É uma coerência musical e ritual, com a garantia de estabilidade da forma, seja qual for o local. E funciona, porque esse conjunto se explica em relação a uma certa visão da Igreja e do mundo. Há uma dimensão muito estruturada com a formação política, espiritual, teológica e filosófica e uma dimensão do absoluto própria da juventude”, explica Airiau.
Frequentemente descritas como comunidades compostas por famílias abastadas e isoladas da vida diocesana, as comunidades tradicionalistas parecem estar se abrindo cada vez mais para os recém-chegados. Isso é ainda mais verdade dada a estética cuidadosa dessa liturgia. Seus diversos ornamentos, casulas douradas e incensos parecem atrair e fascinar alguns jovens que estão distantes da Igreja e que, como resultado disso, não têm preconceitos em relação à missa em latim.
“O mundo tradicionalista tende a dizer que isso atrai. Precisamos ser cautelosos e ver se isso se confirma em longo prazo”, disse o historiador Airiau. “Mas é verdade que há vários anos ele vem recrutando fora de seu campo habitual. Não é uma dinâmica nova, mas tem sido subestimada. Existe agora uma hibridação entre a juventude tradicional e a não tradicional”, apontou.
Dos cerca de dez jovens que o La Croix entrevistou, muito poucos disseram que frequentavam apenas as missas tridentinas. A grande maioria assiste às missas ordinárias com maior ou menor regularidade, por razões de gosto ou geografia.
Essa fluidez litúrgica pode ser observada até nas missas na forma ordinária pós-Vaticano II. Muitos jovens se ajoelham para receber a Eucaristia, enquanto as gerações mais velhas permanecem mais reticentes em relação às práticas preconizadas pelo Rito Antigo.
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Quase 40% dos jovens católicos franceses gostam da missa tridentina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU