06 Junho 2025
Brasil enfrenta receios quanto aos impactos negativos de propostas como o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental e a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
A informação é publicada por ClimaInfo, 05-06-2025.
Com a COP30 se aproximando, o cenário internacional se mostra cada vez mais desafiador para as negociações climáticas. A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o atual recuo da União Europeia (UE) em sua liderança ambiental agravam a incerteza no panorama global.
Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, “já houve outras conferências em tempos muito delicados, mas a singularidade do que estamos vivendo agora é que há uma incerteza institucionalizada, e muito por conta do que tem feito Donald Trump. Parece que a instabilidade virou a norma”. Ela também alerta que a atuação da UE está enfraquecida por fatores geopolíticos e comerciais, o que pode prejudicar seu papel nas negociações, noticiou a Folha.
Outro ponto de preocupação é o atraso generalizado na entrega das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que deveriam conter metas atualizadas para 2035. Apenas 21 dos 194 países que ratificaram Acordo de Paris apresentaram suas propostas, apesar do prazo oficial ter se encerrado em fevereiro. Essa defasagem pode comprometer o esforço coletivo pela limitação do aquecimento global em 1,5°C.
As poucas propostas nacionais já submetidas também levantam alertas: segundo o Climate Action Tracker, apenas a proposta do Reino Unido está alinhada aos objetivos do Acordo de Paris. A NDC do Brasil, por sua vez, foi considerada incompatível com as metas climáticas. As atenções se voltam agora para os demais países do G20, responsáveis por 80% das emissões globais, especialmente para a China.
O Brasil, como anfitrião da COP30, tem buscado acelerar a entrega das metas por meio de articulações com a ONU. Em cúpula virtual convocada por Lula e António Guterres, o presidente chinês Xi Jinping afirmou que a NDC chinesa para 2035 incluirá todos os setores da economia e todos os gases de efeito estufa. Unterstell considera que a relação entre Brasil e China pode ser estratégica, especialmente na cooperação sobre florestas.
No entanto, a presidência brasileira da COP30 enfrenta desafios internos. Apesar da boa reputação diplomática, há receios quanto aos impactos negativos de propostas como o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental e a exploração de petróleo na foz do Amazonas. “A tensão está altíssima, e todos esses elementos tiram, sim, o nosso brilho. E mais do que isso, vão tirar muito a atenção sobre as coisas que precisam acontecer”, afirma Unterstell.
Meghie Rodrigues lembra na Folha que apesar dos retrocessos, neste momento sintetizados pelo avanço do PL da Devastação (2159/2021), o Brasil registrou avanços significativos no combate ao desmatamento em 2024, com queda de mais de 30% em todos os biomas, exceto na Mata Atlântica, que manteve a mesma taxa do ano anterior — após uma redução de 60% em 2022. Segundo o MapBiomas, essa é a primeira redução em seis anos, atribuída a políticas como o Fundo Amazônia e ações do governo federal. Para Carlos Rittl, da Wildlife Conservation Society, o país caminha para o terceiro ano consecutivo de queda expressiva no desmatamento, o que reforça o papel da ministra Marina Silva.
Além disso, o governo tem trabalhado na reconstrução da governança ambiental, com iniciativas como o Plano Clima, que estabelece medidas de combate às mudanças climáticas até 2035. Taciana Stec, do Instituto Talanoa, ressalta que o plano, ainda em desenvolvimento, passou por ampla consulta pública e representa um avanço importante, podendo se tornar uma das principais contribuições do Brasil para a COP30. Esses esforços indicam uma retomada das políticas ambientais após anos de desmonte, com foco em adaptação e mitigação dos efeitos do clima.
Lideranças da Sociedade Civil e de Organizações Indígenas, por sua vez, seguem temendo não ter espaço de fala proporcional à sua importância para o debate dos temas climáticos em Belém, como noticia a Folha. Já a expectativa dos cientistas amazônidas é que a COP30 deixe um legado de valorização de povos tradicionais e da ciência feita na região.
UOL Ecoa, Nexo, Folha, entre outros, noticiaram as expectativas de diferentes grupos para a COP30.
A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou à CNN que há uma "grande expectativa" de que o grupo de 30 ministros das Finanças, formado a pedido da presidência brasileira da COP30, consiga superar impasses históricos no financiamento climático. O "Roadmap Baku-Belém", que visa canalizar US$ 1,3 trilhão para financiar ações climáticas em países em desenvolvimento até 2035, será finalizado até outubro e objeto de debate na COP30. "Estamos muito encorajados", disse Rosito, ressaltando a importância do multilateralismo em meio a conflitos globais, embora os EUA ainda não integrem a iniciativa. O grupo, liderado por Fernando Haddad, busca mobilizar recursos por meio de bancos multilaterais, mercados de carbono e reformas regulatórias, com próxima reunião marcada para junho em Sevilha.