18 Abril 2025
Agravamento da crise climática, tensões geopolíticas e ataques ao multilateralismo são desafios no caminho da COP30, destacou a ministra.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 15-04-2025.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) defendeu uma postura sóbria do Brasil na preparação e na condução da COP30, que acontecerá em Belém (PA) no mês de novembro. Para ela, a despeito do tom festivo de alguns setores, a Conferência da ONU sobre o Clima não será uma ocasião de celebração, mas sim de luta pela sobrevivência da Humanidade frente à crise climática.
“O Brasil (…) tem que ter esse espírito de que não é festa, é luta. Não é Copa do Mundo, não é Olimpíada, é uma COP. A gente poderia dizer que nós estamos vivendo a pedagogia do luto, a pedagogia da dor por muitas coisas, inclusive pela ameaça ao multilateralismo, à solidariedade e à colaboração entre os Povos”, disse Marina em evento em Brasília nesta 3ª feira (15/4).
Além da postura sóbria, Marina também ressaltou que a COP30 terá a Amazônia como pano de fundo, mas não será dedicada ao bioma. “Não me canso de dizer que é a COP no Brasil, não é a COP do Brasil. É a COP na Amazônia, não é a COP da Amazônia, que deve ser uma COP sóbria, que carregue o peso de termos chegado no ano passado a 1,5oC de [elevação da] temperatura da Terra”, destacou. Agência Brasil e Valor repercutiram a fala.
A defesa do multilateralismo também é uma preocupação do climate champion da COP30, Dan Ioschpe. Em entrevista à Folha, o empresário lamentou a desestabilização internacional precipitada pela volta de Donald Trump ao poder nos EUA e defendeu que a ação global como o caminho para viabilizar soluções para a crise do clima.
“O multilateralismo, ou seja, a ênfase na solução dos problemas sob um ponto de vista global, é muito útil e favorece o avanço de questões como o clima. Agora, nós podemos contar com um mundo estável em termos geopolíticos? Não. Temos que ter um certo realismo, entender que o desenho geopolítico é dinâmico e temos que conviver com isso e tocar essa agenda”, disse Ioschpe.
Indicado há pouco menos de duas semanas para o posto, Ioschpe ainda está se acostumando com as atribuições do climate champion, mas já sabe que precisará aparecer mais para impulsionar o principal objetivo do Brasil para a COP30 – transformá-la na “COP da implementação”.
“Não acredito em barreiras intransponíveis. Mas a gente precisa de foco, relevância e resiliência. Se você está muito desfocado, muito pulverizado, a resiliência diminui. Se você se concentrar em temas muito importantes, eles acabam cruzando as barreiras pela sua própria relevância”, comentou Ioschpe ao Capital Reset.
Em tempo: A pré-COP, evento final de preparação para as negociações da COP30, não acontecerá na sede da Conferência, em Belém. Marcada para os dias 13 e 14 de outubro, a sessão será realizada em Brasília (DF), sob a justificativa de não coincidir com o período de celebração do Sírio de Nazaré na capital paraense. O tradicional evento religioso reúne milhares de fiéis de todo o país, e a realização da pré-COP em Belém poderia causar um problema logístico - que já enfrenta críticas quanto à limitação da rede hoteleira. Folha e Pará Terra Boa deram a notícia.