A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de Lucas 24, 46-53, que corresponde a Festa da Ascensão do Senhor, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto". Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.
Neste domingo, celebramos com toda a Igreja a festa da Ascensão de Jesus ao céu. Como introdução, devemos considerar a cultura greco-romana clássica na qual o evangelista — Lucas — se move e a comunidade para a qual ele escreve. Há vários casos de personagens que, após sua morte, são glorificados de maneira semelhante a Jesus, por exemplo, Hércules, Augusto, Drusila, Alexandre, o Grande. Marcos, em seu Evangelho, nos diz que, após a Ascensão, Jesus “sentou-se à direita de Deus”. O Evangelho de Lucas, que é a primeira obra dirigida a Timóteo, prévio ao Livro de Atos, onde a ascensão de Jesus também é relatada. São dois relatos diferentes que tentam nos deixar com uma mensagem: Jesus foi glorificado!
Nós nos perguntamos: o que significa para nós o fato de Jesus ter sido glorificado? Como isso afeta nossa vida e a vida de nossas comunidades? A partir dessa pergunta, acolhemos as palavras do evangelho: “Disse Jesus a seus discípulos: ‘Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”.
Durante quarenta dias, junto com a comunidade do primeiro século, procuramos reconhecer e testemunhar a presença de Jesus Ressuscitado. Em meio à dor de sua partida, às dúvidas de um futuro incerto, ao medo dos “judeus”, tocamos com nossas mãos, reconhecemos com nossos olhos e com o ardor de nossos corações diante de suas palavras, sua presença Ressuscitada em nosso meio! E assim entendemos o que já estava escrito em nossos corações, e que ele o havia dito várias vezes: “O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia”.
Neste domingo, também somos chamados a acolher sua mensagem para proclamar, em seu nome “a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. É um convite ousado de Jesus para comunicar sua presença nas diversas situações que nos toca viver. A conversão e o perdão dos pecados contêm o convite a entrever a permanência de Deus, que nos ama com um amor incondicional, que não é proporcional aos nossos esforços, méritos ou pecados. O “reconhecimento” de Seu amor e de Sua presença traz consigo uma mudança de vida, deixando o pecado — que é o não amor — e nos convida a nos abrirmos continuamente para recebê-Lo, para acolhê-Lo nas diferentes situações em que Ele se apresenta, com Sua ternura e carinho de Pai.
Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu.
Só o Espirito Santo pode levar adiante este chamamento a sermos testemunhas de sua presença. É ele quem conduz e torna presente a vida do Ressuscitado em nosso meio. As boas notícias são comunicadas, os bons lugares são compartilhados e por isso o convite de Jesus para sermos testemunhas não é uma exigência, mas a consequência generosa de quem sabe que é amado pelo Pai e quer que outros despertem para conhecer esse amor. A testemunha é simplesmente um mensageiro que traz esta boa notícia: Deus é Pai e ama a cada pessoa com um amor incondicional e original. Não é um amor generalizado, mas um amor pessoal e individual que deve ser experimentado individualmente. A conversão é o convite para “darmos volta”, como fez Maria Madalena quando chorava diante do sepulcro, para reconhecer na voz do “jardineiro” a presença amorosa de Jesus ressuscitado.
Leão XIV renovou o convite ao amor numa de suas primeiras declarações oficiais aos cardeais após sua eleição: “Irmãos e irmãs, esta é a hora do amor! O coração do Evangelho é o amor de Deus que nos faz irmãos e irmãs. Com meu predecessor Leão XIII, podemos nos perguntar hoje: se esse critério ‘prevalecesse no mundo, não cessariam todos os conflitos e a paz não retornaria?’” Leão XIV cita Leão XIII com frequência, mas reflete Leão X: "Vamos desfrutar do papado".
Neste domingo Jesus convida-nos a ser testemunhas de esse amor, de um amor que renova, que transforma. Não é um sentimentalismo passageiro, mas um amor fortalecido na incompreensão, no dor da rejeição e na cruz. Os/as discípulos/as foram testemunhas de todo isto e a memória permanente de sua vida, de suas palavras são sempre a força e o a esperança para continuar anunciando-O!
Nesta festa da Ascensão de Jesus, que traz a memória da vida de Jesus e da presença do Espírito no meio da comunidade, fazemos nossas as palavras do Papa Leão à Cúria Romana para traduzi-las também em oração: “A memória é um elemento essencial em um organismo vivo. Ela não se dirige apenas ao passado, mas nutre o presente e guia o futuro. Sem memória, o caminho se perde, perde-se o sentido de direção” (Papa Leão à Cúria Romana: 'Os papas vêm e vão, a Cúria permanece')