Ascensão do Senhor – Ano C – Subsídio exegético

27 Mai 2022

 

 

"A fé testemunhada por quem experimentou a ressurreição, confirmada pela vinda do Espírito Santo (At 1,6-8; 2,1-13) é a base de toda ação evangelizadora da Igreja. Crer no Cristo vivo, sentado à direita do Pai é o motivo que lança homens e mulheres para a missão através dos séculos e milênios. Esta certeza do Cristo vivo se expressa também na certeza da vitória da vida sobre a morte de todos os seguidores do mestre. É também a certeza da vitória do bem sobre o mal. Este mesmo Senhor vivo não se afastou da comunidade. A fé diz que ele continua presente em todas as pessoas que se reúnem em seu nome (Mt 28,20)."

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:


Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

Leituras do dia

Primeira Leitura: At 1,1-11
Segunda Leitura: Ef 1,17-23
Salmo: 46,2-3.6-9
Evangelho: Lc 24,46-53

 

O Evangelho


Para maior clareza seria oportuno ler o texto mais amplo, isto é, Lc 24,36-53, depois comparar com At 1,1-11 e anotar todas as diferenças: o local, o gesto de Jesus e o tempo não conferem, embora os dois textos sejam do mesmo autor: Lucas. Por que ele modificou o relato? Nem At 1,1-11, nem Lc 24,36-53 são crônicas históricas, mas teológicas

 

O que é a ascensão? Qual seu sentido teológico?

 

A ascensão é a culminância de toda missão de Jesus. Agora tudo está consumado. O Pai deu razão a seu Filho sobre todos os poderes deste mundo. Depois da ascensão de Jesus, os discípulos voltam para Jerusalém, cheios de alegria. A Igreja que crê no Ressuscitado, vivendo em meio aos conflitos deste mundo, mesmo sem ter a presença física de Jesus, tem todos os motivos de estar alegre, pois ele envia o que o Pai prometeu: o Espírito Santo.

 

A fé testemunhada por quem experimentou a ressurreição, confirmada pela vinda do Espírito Santo (At 1,6-8; 2,1-13) é a base de toda ação evangelizadora da Igreja. Crer no Cristo vivo, sentado à direita do Pai é o motivo que lança homens e mulheres para a missão através dos séculos e milênios. Esta certeza do Cristo vivo se expressa também na certeza da vitória da vida sobre a morte de todos os seguidores do mestre. É também a certeza da vitória do bem sobre o mal. Este mesmo Senhor vivo não se afastou da comunidade. A fé diz que ele continua presente em todas as pessoas que se reúnem em seu nome (Mt 28,20).

 

Relacionando com as outras leituras

 

Entre a Páscoa e a Ascensão se vão quarenta dias (At 1,1-11). Nem Mc 16,16ss, nem mesmo Lc 24,46ss afirmam isto. Mateus e João não narram a ascensão de Jesus. Os quarenta dias não são relatos históricos, mas teologicamente lembram os quarenta anos do Povo de Deus no deserto (Ex 16ss), bem como os quarenta dias de Moisés no Monte Sinai (Ex 24,15-18); lembram também os quarenta dias de chuva do dilúvio (Gn 7,4); Elias caminhou por quarenta dias até o Horeb (1Rs 19,8); Jesus, antes de iniciar sua vida pública, foi para o deserto, onde rezou, jejuou por quarenta dias (Mc 1,12s; Mt 4,1ss; Lc 4,1ss). Quarenta significa tempo de preparação. Assim os escravos libertos, Moisés, o dilúvio, Elias e Jesus se prepararam para uma nova realidade deixando para trás um estilo de vida para assumir outro. Uma vez que agora Jesus não estará mais fisicamente presente na Igreja, os discípulos se preparam por quarenta dias para depois ir ao mundo e anunciar o Evangelho. Quem vai evangelizar precisa ter experiência do Cristo Vivo. A mensagem da paixão, morte e ressurreição é central no anúncio dos pregadores. Por isto, agora eles têm base para testemunhar. Ainda hoje, a Igreja se prepara durante quarenta dias (quaresma), todos os anos, para celebrar a Páscoa.

 

E, por fim, o que dizer da ascensão? A arte sacra representa Jesus subindo como um foguete para o céu. Mas vale dizer: o mistério da Ascensão escapa da observação física. Já a arte sacra, e mesmo os textos bíblicos representam este mistério de forma palpável, para que se possa entender. Certamente Jesus foi ao céu, mas isto não deve ser visto como fenômeno observável pelos sentidos, até porque o céu não está lá encima, ou seja, não é um lugar geográfico. Este mistério só pode ser abarcado pela fé. A verdade é que, Ele, o Ressuscitado está vivo junto ao Pai e é o Senhor da história. Não é mais visível como foi quando vivia aqui na Terra. Agora, a realidade é outra. Jesus está vivo, mas não está mais dentro dos limites físicos: geográficos e temporais. Os discípulos o experimentaram vivo e agora devem continuar a obra iniciada por Jesus. Para isto se requer seu firme testemunho sob o impulso do Espírito Santo (At 1,6-8; 2,1-13). Eles não devem ficar olhando para céu com saudades do passado, esperando sua volta, mas devem ir ao mundo, evangelizar. Seu compromisso é anunciar o Cristo vivo a todos os povos.

 

Ef 1,17-23: é preciso pedir a sabedoria a Deus para conhecer o mistério realizado na pessoa de Jesus Cristo, quando o Pai o ressuscitou dos mortos.

 

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