27 Mai 2025
A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltará a analisar os efeitos que uma guerra nuclear teria sobre a saúde e os serviços de saúde quase quarenta anos depois do último relatório que apresentou sobre o assunto (1987), missão que lhe foi confiada esta segunda-feira por 86 dos seus Estados-membros reunidos na sua Assembleia Anual.
A reportagem é publicada por Página|12, 27-05-2025.
O desconforto que esta questão causou reflete-se no fato de que — ignorando a regra não escrita de que as questões apresentadas à Assembleia devem ser aprovadas por consenso — a resolução que reatribuiu esta tarefa à OMS teve de ir a votação, na qual houve 28 abstenções e 14 países votaram contra.
A votação foi solicitada pela Rússia e explicitamente apoiada pela Coreia do Norte. Ambos os países se opuseram à iniciativa.
À medida que a ameaça nuclear que era evidente durante a Guerra Fria desaparecia, a OMS parou de preparar relatórios sobre as consequências da guerra nuclear para a saúde, bem como sobre as consequências das armas nucleares para a saúde e o meio ambiente.
Em um contexto de graves tensões geopolíticas envolvendo países com armas nucleares, um grupo de estados insulares (Ilhas Marshall, Samoa e Vanuatu) conseguiu criar uma coalizão significativa de países de todas as regiões que apoiaram a resolução adotada na segunda-feira.
Os países que mais fortemente apoiaram a orientação da OMS para reconsiderar a questão com base nos mais recentes avanços científicos e tecnológicos foram aqueles cujos territórios foram palco de testes nucleares no século XX.
Os Estados Unidos realizaram tais testes nas Ilhas Marshall, o Reino Unido na Austrália e no Pacífico, e a França na Argélia.
Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Polônia, entre outros países europeus, além de Turquia, Paquistão e Índia (sendo estas duas últimas potências nucleares), se abstiveram de votar, justificando que outras organizações já realizam avaliações semelhantes às que a OMS está sendo solicitada a fazer novamente.
Rússia e Coreia do Norte, que votaram contra, disseram que o pedido excedia o mandato da organização de saúde e exigiria recursos consideráveis em um momento em que a organização enfrenta uma crise financeira.
Organizações da sociedade civil também pressionaram para que essa questão voltasse à agenda da OMS, em especial a Organização Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear, criada no início da década de 1980 e que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1985 por seu trabalho.
"Estamos satisfeitos que a grande maioria das nações reconheça a importância de atualizar esses estudos críticos", disse Charles Johnson, diretor de políticas da Associação.
Para esta organização, os eventos recentes reforçam a necessidade de restabelecer o mandato da OMS para fornecer "evidências confiáveis e atualizadas sobre o risco que a guerra nuclear representa para a sobrevivência humana e a estabilidade dos sistemas terrestres".