22 Mai 2025
A hospitalidade das comunidades de acolhimento a refugiados em Uganda chama a atenção internacional. O país acolheu mais de 1,8 milhão de refugiados e requerentes de asilo fugitivos dos conflitos do Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Sudão e Eritreia.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A política de acolhimento em Uganda garante aos refugiados o direito ao trabalho, acesso à educação e livre circulação. “Complementando essa política está o papel vital das comunidades anfitriãs, como ocorre nos distritos de Adjumani, Obongi, Lamwo, Kikuube e Kiryandongo, no Norte e Oeste do país, cuja generosidade e resiliência são a espinha dorsal da resposta de Uganda aos refugiados”, atesta a comunicadora Stella Namatovu para o jornal The Observer, de Uganda.
As comunidades anfitriãs frequentemente compartilham recursos limitados, como água, instalações de saúde, escolas, terras aráveis, permitindo que os refugiados se dediquem à agricultura tanto individualmente como em comunidade, algumas vezes com pontos de tensão.
“A generosidade das comunidades anfitriãs em fornecer terras transformou os assentamentos de refugiados em mais do que apenas abrigos temporários. Eles se tornaram centros de produtividade e crescimento”, relata Stella. Tudo isso tem um custo, que depende de recursos humanitários que se tornam escassos. Recentemente, as rações alimentares para refugiados foram cortadas, tanto que o governo de Uganda e as organizações de ajuda humanitária estão apelando para um maior apoio global.
O corte de recursos esteve na pauta da reunião da Equipe de Liderança do Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial (FLM), que reuniu representantes de programas nacionais de apoio, igrejas e agências doadoras, via conferência online, nos dias 6 e 8 de maio.
A presidente da organização alemã Brot für die Welt (Pão para o Mundo) e da Ajuda a Catástrofes da Diaconia, pastora Dra. Dagmar Pruin, apresentou uma reflexão sobre “um mundo em crise”, enquanto as agências humanitárias e de desenvolvimento lutam para definir os seus papéis e prioridades face à redução dos recursos financeiros.
Em meio a “muita incerteza”, disse Pruin, organizações religiosas estão lutando para responder ao impacto dos cortes de financiamento do governo Trump, representando algo em torno de 46% do financiamento global, cortado da noite para o dia. A diretora do Serviço Mundial da FLM, Maria Immonen, frisou que o corte de apoio ao multilateralismo e à ajuda ao desenvolvimento vinha ocorrendo mesmo antes da eleição de Trump.
O representante da FLM no programa Quênia-Somália, Girma Gudina, demonstrou como os cortes de financiamento afetaram crianças no Quênia, onde luteranos administram 45 escolas em dois campos de refugiados. As aulas continuam, afirmou, também para reduzir os riscos relacionais, como o casamento precoce de meninas ou o envolvimento de meninos com drogas, mas a qualidade da educação caiu, com menos professores e com turmas de até 140 crianças!
Em Uganda, relatou Adriana Cranco Chitana, do 1,8 milhão de refugiados, mais da metade são crianças. Num contexto de redução de verbas, ela relatou como a FLM procura trabalhar em estreita colaboração com organizações comunitárias locais para oferecer apoio aos mais vulneráveis.