14 Mai 2025
"O presidente Donald Trump volta a se queixar de que as bases militares estadunidenses na Ásia são muito caras para os Estados Unidos. Como parte da nova rodada de negociações tarifárias com o Japão e a Coreia do Sul, Trump está pedindo a esses países para que paguem pela manutenção das tropas estadunidenses. Eis uma ideia muito melhor: fechar as bases e trazer os militares de volta aos Estados Unidos", afirma Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Columbia e conselheiro dos três últimos secretários-gerais da ONU, em artigo publicado por El Viejo Topo, 10-05-2025. A tradução é do Cepat.
O presidente Donald Trump volta a se queixar de que as bases militares estadunidenses na Ásia são muito caras para os Estados Unidos. Como parte da nova rodada de negociações tarifárias com o Japão e a Coreia do Sul, Trump está pedindo a esses países para que paguem pela manutenção das tropas estadunidenses. Eis uma ideia muito melhor: fechar as bases e trazer os militares de volta aos Estados Unidos.
Trump sugere que os Estados Unidos estão prestando um grande serviço ao Japão e à Coreia do Sul ao posicionar 50 mil soldados no Japão e quase 30 mil na Coreia do Sul. No entanto, esses países não precisam dos Estados Unidos para defendê-los. São países ricos e certamente podem cobrir suas próprias defesas. Mais importante ainda: a diplomacia pode garantir a paz no nordeste da Ásia de forma muito mais eficaz e a um custo muito menor do que uma presença militar estadunidense.
Os Estados Unidos agem como se o Japão precisasse de proteção contra a China. Vamos dar uma olhada na história. Nos últimos mil anos, período em que a China foi a potência dominante na região durante praticamente todos os anos, exceto os últimos 150, quantas vezes ela tentou invadir o Japão? Se você respondeu zero, acertou. A China nunca tentou invadir o Japão, sequer uma única vez.
Alguém poderia objetar citando as duas tentativas em 1274 e 1281, há cerca de 750 anos. É verdade que, quando os mongóis governaram temporariamente a China entre 1271 e 1368, enviaram duas frotas para invadir o Japão, e em ambas as ocasiões foram derrotados por uma combinação de tufões (conhecidos na tradição japonesa como ventos kamikaze) e defesas costeiras japonesas.
O Japão, por outro lado, tentou repetidamente atacar ou conquistar a China. Em 1592, o arrogante e errático líder militar japonês Toyotomi Hideyoshi lançou uma invasão à Coreia com o objetivo de conquistar a China da dinastia Ming. Não foi muito longe, morrendo em 1598 sem sequer subjugar a Coreia. Em 1894/95, o Japão invadiu e derrotou a China na Guerra Sino-Japonesa, transformando Taiwan em uma colônia japonesa. Em 1931, o Japão invadiu o nordeste da China (Manchúria) e criou a colônia japonesa de Manchukuo. Em 1937, o Japão invadiu a China, dando início à Segunda Guerra Mundial na região do Pacífico.
Ninguém hoje pensa que o Japão esteja prestes a invadir a China, e não há razão histórica ou lógica para acreditar que a China queira invadir o Japão. Este não precisa de bases militares estadunidenses para se proteger da China.
O mesmo se aplica à Coreia. Nos últimos mil anos, a China nunca invadiu a Coreia, com uma exceção: quando os Estados Unidos ameaçaram a China. A China entrou na guerra no final da década de 1950, ao lado da Coreia do Norte, para combater as tropas americanas que avançavam em direção à fronteira chinesa. Na época, o general estadunidense Douglas MacArthur recomendou imprudentemente atacar a China com bombas atômicas e propôs apoiar as forças nacionalistas chinesas, então baseadas em Taiwan, para invadir a China continental. Felizmente, o presidente Harry Truman rejeitou as propostas de MacArthur.
A Coreia do Sul precisa de dissuasão contra a Coreia do Norte, é verdade, mas isso seria muito mais eficaz e confiável por meio de um sistema de segurança regional envolvendo a China, Japão, Rússia, Coreia do Norte e Coreia do Sul, do que por meio da presença estadunidense, que frequentemente ajudou a alimentar o arsenal nuclear e o desenvolvimento militar da Coreia do Norte, em vez de restringi-los.
Na realidade, as bases militares estadunidenses no leste asiático servem mais para projetar o poder dos EUA do que para defender o Japão ou a Coreia. Eis aqui mais um bom motivo para eliminá-las. Embora os EUA afirmem que suas bases no leste asiático sejam defensivas, a China e a Coreia do Norte as veem como uma ameaça direta, uma vez que criam a possibilidade de um ataque preventivo e encurtam perigosamente o tempo de reação a uma provocação ou mal-entendido estadunidense.
A Rússia questionou de maneira contundente a presença da OTAN na Ucrânia pelas mesmas razões justificáveis. A OTAN participou frequentemente de operações de mudança de regime apoiadas pelos EUA e posicionou sistemas de mísseis perigosamente perto da Rússia. Como temia a Rússia, a OTAN está ativamente envolvida na guerra na Ucrânia, fornecendo armas, estratégia, inteligência e até mesmo apoio para ataques com mísseis em território russo.
Trump está atualmente obcecado por duas pequenas instalações portuárias no Panamá, de propriedade de uma empresa de Hong Kong, argumentando que a China ameaça a segurança dos EUA e exigindo que as instalações sejam vendidas a um comprador estadunidense. Os Estados Unidos, por outro lado, cercam a China não com dois pequenos portos, mas com grandes bases militares no Japão, Coreia do Sul, Guam, Filipinas e no Oceano Índico, próximas às rotas marítimas internacionais da China.
A melhor estratégia para as superpotências é respeitar as fronteiras umas das outras. China e Rússia não deveriam abrir bases militares no Hemisfério Ocidental. A última vez que isso foi tentado, quando a União Soviética instalou armas nucleares em Cuba em 1962, o mundo correu o risco de aniquilação nuclear. Nem a China nem a Rússia demonstram qualquer intenção de fazê-lo hoje, apesar das provocações dos EUA ao estabelecer bases em suas proximidades.
Trump está buscando maneiras de economizar dinheiro, o que é uma ótima ideia, considerando que o orçamento federal dos EUA está perdendo US$ 2 trilhões por ano, mais de 6% do PIB dos Estados Unidos. O fechamento de bases militares no exterior seria um excelente ponto de partida.
Inicialmente, Trump parecia inclinado a favorecer essa opção, mas os republicanos no Congresso pediram aumentos, e não cortes, no gasto militar. No entanto, com cerca de 750 bases militares estadunidenses em 80 países, é hora de fechá-las, economizar dinheiro e retornar à diplomacia. Obrigar os países anfitriões a pagar por algo que não beneficia nem a eles nem os Estados Unidos é um desperdício de tempo, recursos e capital diplomático.
Os Estados Unidos deveriam propor um acordo básico com a China, a Rússia e outras potências: “Vocês manterão suas bases militares fora do nosso solo, e nós manteremos as nossas fora do seu”. A reciprocidade entre as grandes potências poderia economizar trilhões de dólares em gastos militares na próxima década e, mais importante, salvar o mundo do risco de uma catástrofe nuclear.