08 Mai 2025
"Uma tendência que viu ressequir a capacidade dos teólogos de lidar com os problemas difíceis no século XX e que atingiu suas extremas consequências no século XXI. Com Bento XVI, parecia que apenas um teólogo, eleito Papa, fosse mais do que suficiente. E com Francisco, passou a ideia de que a teologia é inútil – a menos que seja tão 'rápida' que não se consiga segurá-la ou tão genuflexa que não se importe com o que o evangelho diz ao longo do tempo", escreve Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por Corriere della Sera, de 07-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Muito em breve a jukebox midiática mudará de disco. Depois de cantar o estilo único, irrepetível e extraordinário do antigo Papa, tocará a mesma música para o novo Papa, cujo nome só saberemos daqui a um ou dois dias. Todos, no entanto, sabem desde já que, seja quem for, ele precisará de algo que a Igreja pôde dispensar por muito tempo, mas não para sempre: isto é, um conhecimento teológico, exegético, histórico e canonista digno desse nome. Houve uma época em que esse conhecimento maduro existia. Foi no Vaticano II, quando algo tipicamente conciliar aconteceu: bispos e teólogos, que sobreviveram à época da condenação, tiveram que conversar entre si. Compreender o evangelho no tempo enquanto a paixão ecumênica transformava os ódios entre cristãos em obediência ao mandamento mais difícil de Jesus.
Após o concílio, aquele vínculo se dissolveu. Chegou o tempo das disputas assimétricas: aquelas em que alguns exploravam a grande tradição por sua própria conta e risco (Tillard, para citar apenas um), outros podiam se valer dos jornais (basta pensar em Hans Küng) e alguns podiam impor sanções a uns ou a outros (Ratzinger, por exemplo). Assim, uma mensagem clara foi transmitida: “A menos que você seja um espírito tão católico a ponto de ser livre (estou pensando em nomes como Orsy, Gy Schnackenburg, Corecco ou Alberigo, por exemplo), limite-se a repetir as encíclicas, estude pouco e consulte o Catecismo sobre qualquer coisa...”.
Uma tendência que viu ressequir a capacidade dos teólogos de lidar com os problemas difíceis no século XX e que atingiu suas extremas consequências no século XXI. Com Bento XVI, parecia que apenas um teólogo, eleito Papa, fosse mais do que suficiente. E com Francisco, passou a ideia de que a teologia é inútil – a menos que seja tão “rápida” que não se consiga segurá-la ou tão genuflexa que não se importe com o que o evangelho diz ao longo do tempo. O resultado está diante de todos. Se forem tirados Kasper, Semeraro e Theobald, as ideias de Francisco não têm desenvolvimentos.
É por isso que, por exemplo, os três níveis complementares de sinodalidade – aquela permanente do C8, aquela dos bispos que representam a communio ecclesiarum, aquela da congregatio fidelium que Francisco chamava de assembleia – foram inspirados por modelos insuficientes e permaneceram inacabados. As questões dogmáticas, históricas e exegéticas mais profundas estão, portanto, todas sem solução; e não são coisas que o novo papa possa resolver do papamóvel, colocando a direção das faculdades romanas a cargo dos jesuítas ou fazendo com que um dominicano escreva para ele uma encíclica. Terá que iniciar um longo trabalho que não pode ser adiado por muito mais tempo. Caso contrário, com a morte de todo papa, acontecerá o que vimos este ano: um debate pobre no silêncio de uma igreja que parece cheia de emoções e escassa de pensamento.
Agora que estão sozinhos e costuram suas especificações, esperemos que os cardeais se lembrem de pedir àquele que será eleito bispo de Roma uma “reforma da teologia” não menos enérgica do que a realizada nas finanças: lá, bastava não roubar, aqui a questão é mais complicada.