28 Janeiro 2013
O padre jesuíta Ladislas Orsy, professor visitante do Georgetown University Law Center, em Washington, disse em uma palestra na última quinta-feira em Roma que, embora todo concílio ecumênico da história da Igreja tenha levado ao debate – e às vezes até mesmo ao cisma –, também sempre levou mais de 50 anos para que os ensinamentos e as reformas de um concílio se enraizassem na comunidade cristã.
A reportagem é de Cindy Wooden e publicada por Catholic News Service, 25-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Portanto, é óbvio que podemos ver uma grande confusão hoje; é óbvio que podemos ver até uma negação do concílio ou que podemos até ouvir uma forma de explicar que se afasta do concílio", disse Orsy durante um discurso que fazia parte das celebrações da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no Centro Pro Unione de Roma.
O Vaticano II pode ser examinado como um evento histórico, e os teólogos podem usar uma grande variedade de ferramentas acadêmicas para propor diferentes interpretações dos seus ensinamentos, mas uma coisa que os católicos não podem negar é o ensino da Igreja de que o Espírito Santo está ativo nos seus concílios ecumênicos, afirmou.
Orsy perguntou ao público: "Vocês estão surpresos de que há um pouco de confusão hoje na Igreja Católica Romana, quando isso aconteceu no caso de Niceia, ao lidar com o próprio fundamento da nossa fé?". O Concílio de Niceia, em 325 afirmou a divindade de Cristo.
As deliberações de Niceia levaram ao debate e à divisão, disse, mas ao longo dos séculos "essa onda de energia" do Espírito Santo "silenciosamente se apoderou da Igreja, e a confusão se ordenou por si mesma". Hoje, afirmou, os cristãos da linha principal, embora divididos em uma grande variedade de questões, professam os princípios básicos da sua fé usando o credo de Niceia.
"Apenas olhando para o que aconteceu depois de Niceia", disse, "não é improvável" pensar que a obra do Espírito Santo que começou no Concílio Vaticano II continua na Igreja e que, "talvez, digamos, daqui a 100 anos" as pessoas vão reconhecer quão profundamente ele impactou a Igreja.
O jesuíta disse que espera viver "alguns anos mais" para que possa tentar entender mais sobre aonde o Espírito Santo está levando a Igreja por meio dos ensinamentos do Vaticano II e do processo contínuo para que esse ensinamento crie raízes na vida dos católicos.
Em sua palestra, Orsy analisou particularmente a declaração Dignitatis Humanae do Vaticano II sobre a dignidade humana e a liberdade religiosa.
O canonista jesuíta disse que o documento, aprovado no último dia do concílio, toma os pontos de vista sobre a Igreja, o mundo e a pessoa humana expressados em outros documentos do Vaticano II e os aplica a "situações da vida real".
O documento reafirmou o ensino tradicional da Igreja de que todos os seres humanos têm uma obrigação de procurar a verdade e de lutar pela perfeição a que Deus chama todas as pessoas, mas insistiu que a verdade não pode ser imposta a ninguém.
O documento reafirma o "respeito pela verdade, mas afirma que a caridade tem a sua própria prioridade, às vezes até acima da verdade", instando a Igreja a se moldar mais em Cristo, "que nunca impôs a verdade que ele proclamava com nenhum tipo de violência".
O concílio, afirmou, articulou uma "visão inovadora da pessoa humana" e afirmou que, "reconhecendo a liberdade da pessoa humana, honramos uma qualidade divina na pessoa humana", que foi criada à imagem e semelhança de Deus.
A declaração, disse Orsy, representou uma transição "do âmbito onde os mais elevados critérios para julgar a pessoa eram verdades abstratas, gerais e impessoais para o âmbito da caridade e do amor, onde a regra normativa é honrar a dignidade da pessoa".
"A conclusão final não é impor a verdade, mas sim abraçar a pessoa", afirmou.
Veja também:
Concílio Vaticano II. 50 anos depois. Revista IHU On-Line, no. 401
O papel da teologia no Concílio e o estatuto os teólogos e teólogas hoje
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Confusão sobre o Vaticano II é normal, mesmo 50 anos depois, afirma jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU