30 Abril 2025
"Em momentos como este [de eleição papal], há uma tentação de nos apegarmos, de controlarmos, de declararmos: Sabemos do que a Igreja precisa. Mas talvez um ponto de partida melhor seja a humildade. Possivelmente, como os lírios do campo ou a Igreja primitiva reunida em confusão e admiração. Somos convidados a confiar que algo maior está se revelando – agora mesmo".
A seguir, reproduzimos o editorial do National Catholic Reporter, 28-04-2025.
Em todo o mundo, e especialmente nos corredores sombrios do Vaticano, forças humanas tentarão moldar o resultado da eleição papal. Isso é de se esperar. Conclaves, apesar de todo o seu ritual e mística espiritual, ainda são assuntos humanos. Cardeais leem o humor da Igreja. Eles formam alianças. Alguns sussurram. Alguns manobram. Alguns conspiram. Alguns se retiram para rezar.
A história das eleições papais é repleta de política, estratégia e intriga.
Nada disso é novidade.
É por isso que Hollywood fez um filme sobre um conclave.
Contudo, seríamos ingênuos se imaginássemos que o Espírito Santo está ausente do processo, frágil demais para suportar o manuseio rude das mãos humanas.
Nos próximos dias, ouviremos previsões de todos os cantos, inclusive nas páginas de notícias do National Catholic Reporter. Quem está ganhando influência? Quem está caindo em desuso? Quem é teologicamente liberal ou conservador? Quem é velho demais? Jovem demais? Quem tem a experiência gerencial certa, o temperamento necessário, fala as línguas certas e vem da parte essencial do mundo?
Algumas dessas análises são úteis.
Tudo isso está incompleto.
Porque a verdade mais profunda – que admito não ser sempre fácil de aceitar e inútil para as casas de apostas em Las Vegas – é que o Espírito tende a falar mais claramente não quando buscamos o controle, mas quando o abandonamos.
Isso se aplica à vida da igreja, assim como às nossas próprias vidas. Organizamos, planejamos e criamos estratégias – e, no entanto, a vida se desenrola em seus próprios termos misteriosos. A sabedoria através dos tempos nos diz isso claramente: seja nos Salmos, no Tao Te Ching, entre os pais e mães do deserto, ou na vida espiritual de santos e poetas, a entrega muitas vezes abre a porta para uma compreensão mais profunda.
As Escrituras Hebraicas nos dizem que a sabedoria começa com admiração. Não com maestria. Não com controle. Mas com admiração. "Aquietai-vos e sabei", escreve o salmista – não com eficiência e realização.
Nos Evangelhos, Jesus aconselha um desapego semelhante: "Observai os lírios do campo e vede como crescem! Não trabalham, não fiam". Ele exorta à confiança no desenrolar da vida, não como uma fuga da responsabilidade, mas como um convite à libertação da ansiedade. Essa entrega não é passiva. É uma atenção mais profunda ao que é.
Deixar ir não significa abrir mão da esperança. Significa criar espaço. Significa reconhecer que não vemos o quadro completo. Significa confiar que a graça pode agir não apenas apesar dos nossos esforços, mas às vezes através deles e além deles.
Sim, haverá política neste Conclave. Haverá esperanças e decepções. Haverá aqueles que manipularão os acontecimentos e aqueles que ficarão em silêncio, sentados em oração. Mas, em algum lugar no meio de tudo isso, também pode haver um sussurro. Algo inesperado. Algo não previsto. Algo que ninguém poderia ter planejado.
Afinal, quem poderia ter previsto que um jesuíta argentino de óculos sairia naquela sacada em 2013, seria apresentado com o nome de Francisco, diria "Irmãos e irmãs, boa noite" e se curvaria gentilmente diante do povo?
E vejam aonde esse momento nos levou: rumo à misericórdia, ao encontro, a uma Igreja mais confortável nas margens. Não uma Igreja perfeita. Não a Igreja totalmente transformada das nossas visões mais ousadas. Mas uma que, por meio de Francisco, se inclinou com mais ousadia para o Evangelho.
É assim que o Espírito frequentemente se move. O Espírito não ignora a história, mas entra nela. Não ignorando a política, mas influenciando-a através dos corações daqueles que estão dispostos a ouvir.
Em momentos como este, há uma tentação de nos apegarmos, de controlarmos, de declararmos: Sabemos do que a igreja precisa. Mas talvez um ponto de partida melhor seja a humildade. Possivelmente, como os lírios do campo ou a Igreja primitiva reunida em confusão e admiração. Somos convidados a confiar que algo maior está se revelando – agora mesmo.
Não conhecemos os caminhos de Deus. Mas mesmo em nossas dúvidas, suspeitamos que Deus – se tal presença ainda estiver viva em nosso mundo – nos move em direção a uma plenitude maior. Essa é a fé que reivindicamos. Esse é o mistério que chamamos de Espírito Santo.
Acompanhemos este próximo conclave com curiosidade, integridade e, sim, com esperança. Não uma esperança cega, mas aquela que surge quando paramos de tentar orquestrar o resultado e começamos a prestar atenção à silenciosa possibilidade de que, mais uma vez, algo sagrado possa nos surpreender.