26 Abril 2025
Em função das normas do Conclave, quando o novo Papa for à sacada, não agradecerá a Deus por tê-lo escolhido: ele fez isso em sua ordenação e o repete todos os dias que o céu lhe concede de exercê-lo com firme doçura.
O artigo é de Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, publicado por no “Corriere della Sera” de 24-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No mundo hiperpúblico, o Conclave agrada. Agrada seu segredo (muito relativo), suas tensões (menos astutas do que no cinema), seus atores (que não são dois blocos, mas pequenos núcleos), o mito da instituição “milenar” (não é assim). Intriga, além disso, o interminável jogo do “na realidade” a que se presta.
De fato, aqueles que sabem com que intensidade muitos fiéis e cardeais que realmente creem em Deus pedem a graça de um bom pastor, muitas vezes acabam dizendo que “na realidade” a verdadeira escolha é feita de trincheiras teológicas ou de vingança no campo sempre verde da moral sexual. Por outro lado, mesmo entre aqueles que veem todo o rigor de um simples procedimento eleitoral (com um quórum estratosférico), há aqueles que concluem que “na realidade” é a mão de Deus que faz tudo (uma tese apoiada pelo fato de que Ele parece deixar verdadeiras nulidades irem para muitas dioceses, mas de Roma cuida pessoalmente). Por último, sempre chega alguém que explica ao povo que “o Espírito Santo já escolheu” o papa: mas, por agrado às mídias, obriga 135 homens celibatários a uma inútil tourada sem touro, em que todos estão vestidos de vermelho. A ideia é gerada forçando um relato bíblico. Quando se trata de escolher como substituir Judas, os Atos dos Apóstolos nos dizem que a Igreja ora a Deus para revelar o pré-escolhido: depois disso, no entanto, não há votação, mas um sorteio. Um método usado em algumas igrejas (na Rússia, para nomear o Patriarca Tychon em 1917). Em Roma, o Papa foi escolhido de várias maneiras, mas nunca assim. Por quê? Romanesca tibieza em relação ao misticismo? Timidez dos pontífices que poderiam ter escolhido? O motivo é outro e mais importante.
Assim como não se pode pensar em uma ortodoxia sem ícones ou em um protestantismo sem corais, a Igreja Católica é impensável sem seu sistema de normas, no qual ela deve aprender continuamente a confiar (mas não muito) e a desconfiar (sem exagerar). Seu plúmbeo peso institucional, de fato, pode abafar a semente evangélica; mas sem sua proteção, até mesmo o ministério de unidade do Papa pode se tornar um desnorteado arbítrio. As Normas do conclave, peneiradas pelo tempo, no caso em questão, são preciosas porque foram concebidas desvinculadas da atualidade. Como aquelas que admitem até mesmo um cardeal excomungado no Conclave; e que, portanto, hoje não exoneram Angelo Becciu de votar. Como o Papa não retirou seu título (como Pio XI fez com o Cardeal Billot), ele tem que cumprir um dever no Conclave, muito mais forte do que reivindicações corretas ou tortuosas de direitos.
Em função das normas do Conclave, quando o novo papa for à sacada, não agradecerá a Deus por tê-lo escolhido: ele fez isso em sua ordenação e o repete todos os dias que o céu lhe concede de exercê-lo com firme doçura. Ele agradecerá aos cardeais, como fizeram Luciani, Wojtyla, Ratzinger e Bergoglio. E cumprirá o dever que o Credo lhe impõe: agir para que a Igreja seja una e católica, o centro manso e profético de uma comunhão impermeável a quem lhe promete impor por lei a moral caso deixe de ver no pobre a face de seu Senhor.