26 Abril 2025
"Onde o Papa Francisco abriu as maiores brechas foi certamente no campo do diálogo ecumênico e inter-religioso e com os não crentes e, acima de tudo, naquele da organização da estrutura eclesiástica católica, em particular da Cúria Romana. Nesses campos, ele se moveu com a sensibilidade não de um intelectual ou de um refinado teólogo (como o papa que o precedeu, Joseph Ratzinger) nem de um líder eclesiástico com uma forte visão política (como o Papa Wojtyla), mas com a sensibilidade de um pastor capaz de escutar e determinado a abrir portas e janelas de uma igreja que, especialmente durante o pontificado de Ratzinger, parecia incapaz de enfrentar qualquer renovação e desafio do mundo", escreve o teólogo e pastor italiano Eugenio Bernardini, ex-moderador da Mesa Valdense, órgão representativo e administrativo da Igreja Valdense, em artigo publicado por NeV, 21-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nunca antes um papa havia ousado ou desejado escolher o nome Francisco para o seu pontificado. Naquela noite de 13-03-2013, muitos protestantes italianos, especialmente os valdenses, ficaram impressionados com a escolha desse nome, que se reportava claramente a Francisco de Assis e às suas escolhas religiosas que começaram com uma história de conversão muito semelhante àquela que, algumas décadas antes, havia sido feita por Valdo de Lyon, o iniciador do movimento valdense, e que compartilhou com ele a ideia de uma Igreja a serviço dos humildes e excluídos, inspirada e renovada pela Palavra de Deus. Se aquele era o caminho que o Papa Francisco queria percorrer, os evangélicos italianos só podiam compartilhar e apoiar.
E a promessa daquele nome certamente foi concretizada nos doze anos de seu pontificado. No entanto, não em todos os níveis: o peso da biografia pesa sobre todos, a cultura de onde se vem e que contribuiu à própria formação e também as experiências que marcam uma vida, mesmo aquelas dos crentes mais sinceros. O Papa Bergoglio teve uma formação tradicional e não podia ser descrito como realmente conservador, mas também não como realmente progressista. No plano ético, por exemplo, ele tinha dificuldade para se mover na nova sensibilidade em relação a temas como a família, a interrupção da gravidez, a homossexualidade e o fim da vida, assim como no plano devocional suas referências permaneceram aquelas tradicionais do catolicismo romano. Mas mesmo nessas áreas ele teve uma atitude sóbria, aberta à diversidade, buscando valores compartilhados em vez de valores divergentes.
Onde o Papa Francisco abriu as maiores brechas foi certamente no campo do diálogo ecumênico e inter-religioso e com os não crentes e, acima de tudo, naquele da organização da estrutura eclesiástica católica, em particular da Cúria Romana. Nesses campos, ele se moveu com a sensibilidade não de um intelectual ou de um refinado teólogo (como o papa que o precedeu, Joseph Ratzinger) nem de um líder eclesiástico com uma forte visão política (como o Papa Wojtyla), mas com a sensibilidade de um pastor capaz de escutar e determinado a abrir portas e janelas de uma igreja que, especialmente durante o pontificado de Ratzinger, parecia incapaz de enfrentar qualquer renovação e desafio do mundo.
Ir em direção aos outros e às suas casas e não esperar que os outros venham até você e às suas casas, aceitar o diálogo e o encontro mesmo com aqueles que são diferentes de você e o contradizem, fazer com que a misericórdia prevaleça em vez do julgamento, a substância mais do que a forma. Tudo isso acompanhado de um caráter muito “latino”, extrovertido, mesmo que às vezes tímido, sorridente, que gostava de estar e parecer próximo em vez de distante, intolerante com o protocolo imposto por seu status, que ele se divertia em quebrar com surpresas contínuas, até mesmo com visitas repentinas a igrejas, paróquias, ruas, a casas particulares, como recentemente na casa da idosa líder radical Emma Bonino. E, acima de tudo, com um interesse verdadeiro e profundo pela pessoa que estava diante dele e que ele olhava nos olhos, buscando a sinceridade e a amizade, mesmo além de culturas e credos.
O que restará de seu pontificado? É impossível dizer hoje, pois depende muito da escolha de seu sucessor. As nomeações de cardeais que ele fez, juntamente com as de bispos locais, foram quase todas (não todas, ele também fez concessões à alma tradicionalista de sua igreja) orientadas a apoiar sua linha de renovação pastoral, mas o quanto elas realmente incidiram no corpo poliédrico e resistente do catolicismo romano o resultado do próximo conclave nos dirá. Isso é o que acontece quando alguém é um reformista e não um reformador: embora continuamente acusado pelos moderados de sua igreja de querer protestantizar o catolicismo romano, Bergoglio nunca foi nem quis ser Martinho Lutero. Sua ação de renovação, embora eficaz, que certamente obteve consenso para um catolicismo que antes parecia muito fechado e em retirada, exigia um pontificado mais longo, uma audácia maior para apressar os tempos e, portanto, hoje precisaria de um sucessor com a vontade de seguir seus próprios passos.
Naturalmente, como protestante italiano, só posso esperar que o Espírito sopre com força nas salas onde serão tomadas as decisões importantes, deixando abertas aquelas portas e janelas que alguns tentarão fechar invertendo a rota de Francisco.