16 Abril 2025
"Essas mulheres, e somente elas, permaneceram fiéis ao mestre em cujo seguimento estavam envolvidas, portanto, somente elas podem ser testemunhas da paixão, morte e sepultamento de Jesus, um sepultamento digno de um homem justo, não de um malfeitor que não o merecia e, portanto, acabava em uma vala comum", escreve Enzo Bianchi, em artigo publicado por La Stampa-Tuttolibri, 12-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Também este ano, na Páscoa, não lembraremos suficientemente que Jesus se mostrou vivo a mulheres naquela manhã. A fé pascal foi anunciada primeiramente às suas discípulas: justamente elas foram as apóstolas dos apóstolos. Sim, as primeiras testemunhas da ressurreição são mulheres, mostrando que os evangelhos relatam o nascimento da fé na ressurreição de Jesus pelas mulheres.
Na morte de Jesus na cruz, as mulheres discípulas vindas da Galileia estavam presentes e, portanto, testemunhas. As discípulas sempre seguiram Jesus com continuidade e perseverança até o sepultamento, ao contrário dos discípulos que abandonaram Jesus na hora de sua prisão no Getsêmani.
Essas mulheres, e somente elas, permaneceram fiéis ao mestre em cujo seguimento estavam envolvidas, portanto, somente elas podem ser testemunhas da paixão, morte e sepultamento de Jesus, um sepultamento digno de um homem justo, não de um malfeitor que não o merecia e, portanto, acabava em uma vala comum. Ao estarem com Jesus, não há interrupção entre sua morte e ressurreição.
É justamente às mulheres discípulas que é reservado o primeiro testemunho da vitória de Jesus sobre a morte: o que é humanamente inacreditável, inaudito e indescritível, é um anúncio confiado às mulheres, cujo testemunho era considerado juridicamente inválido pelos homens da época. Mas sobre a anunciação pascal feita às mulheres e pelas mulheres, caiu imediatamente o silêncio! O relato delas foi esquecido, seu primeiro anúncio da ressurreição não é mais mencionado. O mesmo acontece com o que é cronologicamente o primeiro anúncio (kérygma) da ressurreição a ser colocado por escrito, por Paulo: “Cristo (...) no terceiro dia, conforme as Escrituras, apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez”. Para onde foram as primeiras aparições, aquelas feitas às mulheres? Na história escrita por homens, são decisivos quinhentos irmãos, dos quais nada se sabe, e não as mulheres discípulas, cujos nomes e o fato de terem estado com Jesus são conhecidos!
Não nos esqueçamos de que Celso, o filósofo pagão que no final do século II se envolveria em uma dura polêmica contra o cristianismo, critica a fé cristã justamente por ser fundada nas palavras das mulheres (cf. Orígenes, Contra Celso II, 55)! Há um paralelismo significativo com o que lemos no evangelho de Marcos: os inimigos, e não os discípulos, lembram-se da verdade! Os discípulos esqueceram tanto a promessa-profecia da ressurreição quanto o anúncio da mesma feito pelas mulheres.
No entanto, o que aconteceu permanece indelével nos evangelhos.
É verdade que os nomes das mulheres testemunhas da ressurreição mudam nos três evangelhos sinóticos, mas entre elas está sempre Maria de Magdala, que no quarto evangelho se torna a discípula representativa de todas as outras, e isso é certamente um sinal da importância que ela tinha no grupo dos apóstolos e na memória da Páscoa de morte e ressurreição de Jesus.
Maria de Magdala no túmulo no dia de Páscoa é a figura central do último livro de Laura Verrani dedicado às mulheres da Bíblia, Libere, le audaci donne della Bibbia (Livres. As ousadas mulheres da Biblia, em tradução livre), publicado pela San Paolo.
Laura Verrani é uma estudiosa de teologia que estuda catequese bíblica na diocese de Turim há mais de vinte anos. Em 2022, publicou Lo scisma emerso. Conflitti, lacerazioni e silenzi nella Chiesa del Terzo Millennio, no qual, juntamente com Francesco Antonioli, ofereceu reflexões estimulantes a partir de fatos e situações concretas da vida da igreja. Nesse último livro, Verrani tem a capacidade de extrair uma lição para os dias de hoje do mundo feminino da Bíblia. Esquecemos que não foi apenas Abraão que deixou a antiga cidade mesopotâmica de Ur dos Caldeus para partir para a terra prometida, mas com ele partiu também sua esposa Sara, sua companheira em uma história de esterilidade sem herdeiro e, portanto, sem futuro. Nem mesmo Abraão compreender que nada do que está em seu futuro acontecerá sem Sara. A idosa e estéril Sara, fecunda em seu sorriso, dará à luz Isaque, o filho da promessa, e o novo começo não acontecerá sem ela, sem as mulheres. “Pensar apenas no homem”, comenta Verrani, ”como se Abraão fosse o único interlocutor confiável de Deus, que promete coisas impossíveis, mas tão desejadas, é um risco e uma tentação que atravessa séculos e gera atitudes previsíveis e tão profundamente enraizadas que nem sequer são percebidas”. Caminha-se em direção a um possível cumprimento junto com Sara e as mulheres que também são herdeiras da promessa.
Livro "Lo Scisma emerso. Conflitti, lacerazioni e silenzi nella Chiesa del terzo millennio", de Francesco Antonioli e Laura Verrani (Editora Terra Santa, 2022)
E, além disso, os desafios das mulheres do Êxodo: as parteiras Puá e Sifrá, que têm a coragem de dizer na cara do Faraó que as mulheres judias dão à luz mais rapidamente do que as egípcias porque são “cheias de vitalidade”; graças ao olhar de Miriam, seu irmão Moisés permanece unido ao seu povo; a filha do Faraó desobedece à ordem do pai e resgata aquela criança hebraica das águas do Nilo, dá-lhe o nome de Moisés (salvo das águas) e o cria como um filho. Essas trabalhadoras, princesas, escravas, “têm em comum o fato de serem mulheres e a normalidade cotidiana em que se movem livres, apesar do Egito, apesar do Faraó”. É claro que será Moisés quem libertará Israel da escravidão do Egito, mas são essas mulheres que, ao criar obstáculos ao poder tirânico, possibilitam as condições para a libertação, “com suas ideias claras sobre a estupidez de homens embriagados por um poder insensato, que não devem ser ouvidos nem por engano”.
Laura Verrani também apresenta outras figuras de mulheres livres e ousadas da Bíblia. Noemi e Rute, mulheres capazes de recomeçar do nada, e a viúva de Sarepta, que libera a profecia, e ainda Judite, que nos força a ir além dos estereótipos. Das histórias dos evangelhos, escolhe Maria e Isabel, as mulheres que dão início ao evangelho, a mulher curvada que sabe levantar a cabeça, a mulher samaritana sedenta de vida, Marta e Maria livres para serem discípulas. Mas, na verdade, é Maria Madalena que representa todas as mulheres discípulas de Jesus e, de certa forma, é a mulher das mulheres na Bíblia.
No Evangelho segundo João, Maria Madalena é a única mulher a ir ao sepulcro, é a primeira a encontrar o Ressuscitado que a chama pelo nome “Maria!”, e é a primeira a anunciar aos apóstolos “Eu vi o Senhor!”. Para Laura Verrani, “é hora de parar de manter Madalena parada diante do túmulo, onde se gostaria de recordá-la apenas em lágrimas, silenciando a voz de seu testemunho pascal”. E acrescenta: “Depois de dois milênios, precisamos aprender a confiar nela e no poder da proclamação pascoal das mulheres. É uma questão de entender e decidir por qual fé queremos viver: se o passado e algumas vendas nos bastam”.
Esse é um livro libertador que nos lembra de como é cada vez mais necessário que a igreja, as igrejas, redescubram sem medo o mundo feminino da Bíblia e voltem a se inspirar nas palavras e no comportamento de Jesus em relação às mulheres, assumindo seus pensamentos, sentimentos e atitudes humaníssimos e, ao mesmo tempo, decisivos também para a forma da comunidade cristã e para as relações que existem nela entre homens e mulheres.