Em defesa da mulher. Artigo de José Antônio Pagola

Foto: Wikimedia Commons

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04 Outubro 2024

  • Deus quer uma vida mais digna, segura e estável para essas esposas submetidas e maltratadas pelo homem nos lares da Galileia.

  • Depois de Jesus, nenhum cristão poderá legitimar com o Evangelho nada que promova discriminação, exclusão ou submissão da mulher.

  • O que nós seguidores de Jesus estamos fazendo para revisar e mudar comportamentos, hábitos, costumes e leis que vão contra a vontade de Deus ao criar o homem e a mulher?

O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum – B (Marcos 10,2-16), publicado por Religión Digital, 30-09-2024.

Eis o artigo.

O que mais fazia sofrer as mulheres na Galileia dos anos trinta do século I era sua submissão total ao homem dentro da família patriarcal. O marido podia até mesmo repudiá-las a qualquer momento, abandonando-as à própria sorte. Esse direito se baseava, segundo a tradição judaica, nada menos que na lei de Deus.

Os mestres discutiam sobre os motivos que podiam justificar a decisão do marido. Segundo os seguidores de Shammai, só se podia repudiar a mulher em caso de adultério; de acordo com Hillel, bastava que a mulher fizesse qualquer coisa "desagradável" aos olhos de seu marido. Enquanto os doutos homens discutiam, as mulheres não podiam erguer sua voz para defender seus direitos.

Em algum momento, o questionamento chegou até Jesus: "Pode o homem repudiar sua esposa?" A resposta desconcertou a todos. As mulheres não podiam acreditar. Segundo Jesus, se o repúdio está na lei, é por causa da "dureza de coração" dos homens e sua mentalidade machista, mas o projeto original de Deus não foi um casamento patriarcal dominado pelo homem.

Deus criou o homem e a mulher para que fossem uma só carne. Ambos são chamados a compartilhar seu amor, sua intimidade e toda a sua vida, com igual dignidade e em comunhão total. Daí o grito de Jesus: "O que Deus uniu, que o homem não separe" com sua atitude machista.

Deus quer uma vida mais digna, segura e estável para essas esposas submetidas e maltratadas pelo homem nos lares da Galileia. Ele não pode abençoar uma estrutura que gere superioridade do homem e submissão da mulher. Depois de Jesus, nenhum cristão poderá legitimar com o evangelho nada que promova discriminação, exclusão ou submissão da mulher.

Na mensagem de Jesus, há uma pregação dirigida exclusivamente aos homens, para que renunciem à sua dureza de coração e promovam relações mais justas e igualitárias entre homem e mulher. Onde se ouve hoje essa mensagem? Quando a Igreja chama os homens a essa conversão? O que estamos fazendo, nós seguidores de Jesus, para revisar e mudar comportamentos, hábitos, costumes e leis que vão claramente contra a vontade original de Deus ao criar o homem e a mulher?

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