O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho do Corpo e Sangue de Cristo – Ciclo B (Marcos 14,12-16.22-26), publicado por Religión Digital, 27-05-2024.
Naturalmente, a celebração da missa mudou ao longo dos séculos. Dependendo da época, os cristãos destacaram alguns aspectos e negligenciaram outros. A missa tem servido de enquadramento para celebrar coroações de reis e papas, prestar homenagens ou comemorar vitórias de guerra. Os músicos transformaram isso em um concerto. O povo integrou-o nas suas devoções e costumes religiosos...
Passados vinte séculos, talvez seja necessário recordar alguns traços essenciais da Última Ceia do Senhor, tal como foi recordada e vivida pelas primeiras gerações cristãs.
No pano de fundo daquele jantar há uma firme convicção: os seus seguidores não ficarão órfãos. A morte de Jesus não poderá quebrar a sua comunhão com ele. Ninguém precisa sentir o vazio de sua ausência. Os seus discípulos não ficam sozinhos, à mercê das vicissitudes da história. No centro de cada comunidade cristã que celebra a Eucaristia está Cristo vivo e atuante. Aqui está o segredo de sua força.
A fé dos seus seguidores é alimentada por ele. Não basta comparecer a esse jantar. Os discípulos são convidados a “comer”. Para alimentar a nossa adesão a Jesus Cristo precisamos reunir-nos para ouvir as suas palavras e introduzi-las nos nossos corações; precisamos aproximar-nos da comunhão com Ele, identificando-nos com o seu estilo de vida. Nenhuma outra experiência pode nos oferecer alimento mais sólido.
Não devemos esquecer que “comungar” com Jesus é comungar com alguém que viveu e morreu “doado” totalmente aos outros. É assim que Jesus insiste. O seu corpo é um “corpo dado” e o seu sangue é um “sangue derramado” para a salvação de todos. É uma contradição abordar a “comunhão” com Jesus resistindo à preocupação com algo que não seja o nosso próprio interesse.
Não há nada mais central e decisivo para os seguidores de Jesus do que a celebração desta Ceia do Senhor. Por isso temos que cuidar tanto disso. Bem celebrada, a Eucaristia molda-nos, une-nos a Jesus, alimenta-nos com a sua vida, familiariza-nos com o Evangelho, convida-nos a viver numa atitude de serviço fraterno e sustenta-nos na esperança do reencontro final com Ele.