16 Abril 2025
"Entramos na Semana Santa acompanhados pela voz de um jornalista 'laico' por excelência, mas repetidamente ansioso para se debruçar além das fronteiras da religião. Ele é Eugenio Scalfari, que morreu em 2022 aos 98 anos, quase sempre no palco da comunicação".
O artigo é de de Gianfranco Ravasi em “Il Sole 24 Ore” de 13 de abril de 2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Acredito no Gólgota porque foi lá que se celebrou o sacrifício de um justo, de um fraco, de um pobre. Aquele sacrifício se repete todos os dias e é o verdadeiro e único pecado do mundo: o sacrifício, a dominação, a humilhação do pobre, do fraco, do justo. O Gólgota representa o pecado do mundo.
Entramos na Semana Santa acompanhados pela voz de um jornalista “laico” por excelência, mas repetidamente ansioso para se debruçar além das fronteiras da religião. Ele é Eugenio Scalfari, que morreu em 2022 aos 98 anos, quase sempre no palco da comunicação. Foi em 2010 que ele publicou um texto com o emblemático título Ragionando con Martini di peccato e di resurrezione (Discutindo com Martini sobre pecado e ressurreição), trazendo à cena um personagem igualmente conhecido, o cardeal Carlo M. Martini, arcebispo de Milão, que morreria pouco depois, em 2012, e que seria então substituído como interlocutor no discurso religioso pelo papa Francisco, que ascendeu ao trono pontifício em 2013.
Desse diálogo, extraímos um parágrafo que tem como símbolo o Gólgota, que em aramaico significa “caveira”, em latim Calvário. Para Scalfari, a cruz incrustada naquele esporão rochoso de Jerusalém, com apenas alguns metros de altura, é a síntese universal do pecado do mundo quando é manchado pelo abuso do pobre, do fraco e do justo. É, portanto, uma advertência contra todos os prepotentes da história, famosos ou ocultos; é um sinal de esperança para todas as vítimas, porque aquela cruz será despojada de seu cadáver crucificado e dará lugar ao Ressuscitado na aurora da Páscoa.
Os crentes e os agnósticos são, portanto, convidados a fixar o olhar nela e a não arrancar aquele homem na cruz. Outra figura “laica”, Natalia Ginzburg, escrevia: “Não removam o crucifixo das paredes porque ele é o sinal da dor humana. O crucifixo faz parte da história do mundo”.