12 Abril 2025
Buchenwald foi um dos maiores campos de concentração nazista dentro da Alemanha. Hoje, manter viva a memória desse período é desafio diante do crescimento do extremismo de direita.
A reportagem é de Christoph Strack, publicada por DW, 11-04-2025.
As construções na colina de Ettersberg parecem destoar da paisagem ao redor. Elas estão cercadas por uma floresta que se avista de longe, a noroeste da área urbana da metrópole cultural Weimar, na Turíngia.
Mas o que de longe parece um lugar idílico guarda, na verdade, uma história terrível: a do campo de concentração nazista Buchenwald, um dos maiores em solo alemão. Ali, de 1937 a 1945, nazistas prenderam cerca de 280 mil: judeus, dissidentes, comunistas, homossexuais, detentos estrangeiros, "ciganos" (sinti e roma), testemunhas de jeová e líderes religiosos malquistos.
Buchenwald era o próprio inferno – um dos vários infernos da máquina nazista de perseguição e assassinato. Além das instalações em Ettersberg, o complexo incluía mais de 50 pequenos subcampos, a maioria em locais de produção de bens importantes para a guerra.
Em Buchenwald foram mortas até abril de 1945 cerca de 56 mil pessoas, a maioria judeus. A libertação só veio nas semanas finais da Segunda Guerra Mundial, com a aproximação dos primeiros tanques americanos. Ao perceber a movimentação, prisioneiros deflagraram uma rebelião no dia 11 de abril de 1945, evitando a fuga de diversos soldados da SS (Schutzstaffel ou esquadra de proteção), o braço armado do partido nazista.
Após o fim da guerra, a Turíngia passou a fazer parte do território alemão sob ocupação soviética. Logo os soviéticos passaram a usar suas instalações para um "campo especial", prendendo ali principalmente líderes locais do partido nazista, policiais ou empresários que mantiveram linhas de produção com trabalho forçado. Até 1950, outras 7 mil pessoas morreram ali.
Faz 80 anos que o campo foi libertado dos nazistas. Passado tanto tempo, restam poucas testemunhas e sobreviventes dos horrores daquele período. Essas lembranças dolorosas têm importância histórica. Para mantê-las vivas, ferramentas digitais são cada vez mais importantes.
"Ainda há 15 sobreviventes, 15 no máximo, que foram convidados", afirma o historiador Jens-Christian Wagner sobre a solenidade que ocorreu no 6 de abril. Ele dirige a fundação que administra os memoriais dos campos de concentração Buchenwald e Mittelbau-Dora.
Wagner lembra a cerimônia de 60 anos, em 2005. Naquela época, cerca de 500 sobreviventes compareceram ao evento. Em 2015, nos 70 anos da libertação de Buchenwald, pouco mais de 80 – a maioria já bem idosa – viajaram até Weimar.
A DW conheceu um deles à época, o ex-piloto da Força Aérea do Canadá Ed Carter-Edwards, então com 92 anos. O avião dele foi abatido no verão de 1944 próximo a Paris, e ele foi levado para Buchenwald, onde passou três meses e meio. "Eles tratavam as pessoas como animais", disse, citando, aos soluços, os nomes dos amigos que não sobreviveram ao campo de concentração. Carter-Edwards morreu em 2017.
"Todos nós somos responsáveis por lembrar – cada cidadão, cada cidadã", diz Wagner. Trata-se, frisa ele, de marcar posição e de se opor ao racismo, ao extremismo de direita e ao antissemitismo.
Para o historiador, os "partidos democráticos" cometeram um "erro enorme" ao adotar a retórica da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) para falar sobre migração. Ele diz que esse debate acabou "normalizando" narrativas xenófobas.
O estado da Turíngia, onde fica Weimar, é um dos bastiões da AfD. Ali, o partido teve seu melhor desempenho em todo o país, conquistando 38,6% dos votos na eleição geral em fevereiro deste ano – quase o dobro do resultado nacional, de 20,8%. No Parlamento da Turíngia, a AfD também ampliou seu espaço, assumindo 32 dos 88 assentos após as eleições regionais em setembro de 2024. A bancada estadual é liderada por Björn Höcke, político notório por flertar com o extremismo.
"Estamos no olho do furacão", diz Wagner, referindo-se à Turíngia, ao citar a ascensão mundial de movimentos extremistas e autoritários de direita, inclusive na Alemanha. A situação é "extremamente preocupante", frisa. "Por muito tempo, achamos que as pessoas tinham aprendido a lição da época do nazismo." Mas ele diz já não ter mais tanta certeza disso.
Wagner afirma que o nazismo e seus crimes foram "notoriamente minimizados", posições que glorificam o nazismo teriam sido até mesmo defendidas. Ele alerta que é de fundamental importância para as estruturas que sustentam a democracia do país refletir sobre o passado nazista da Alemanha, mas que essa consciência estaria diminuindo.
Os memoriais na colina de Ettersberg que Wagner administra já foram alvos diversas vezes de vandalismo. Em 2024, ele mesmo sofreu ameaças diretas. E hoje, diz o historiador, funcionários do local também temem pela própria segurança de vez em quando. "Não devemos nos deixar intimidar, mas precisamos ser cautelosos", explica.
Em Buchenwald, há um crematório, um campo de cinzas e uma "praça de chamada", espaço onde os prisioneiros tinham que se apresentar todos os dias e todas as noites para contagem. Há também um "bloco das crianças" e o "Instituto de Higiene", onde médicos da SS conduziam experimentos em prisioneiros em cooperação com a indústria farmacêutica e pesquisadores, em busca de vacinas.
O portão de entrada do campo de concentração, que ostenta a frase "Jedem das Seine" (a cada um o que é seu), foi muito retratado na imprensa. O relógio na pequena torre acima dele marca sempre 15h15 – a hora em que o inferno dos prisioneiros acabou.
Hoje, o local onde ficava o campo de concentração tem poucas construções, muita área livre e muitos pedregulhos, faias e carvalhos nos fundos do terreno, e a vista sobre as terras turíngias.
Perguntado sobre qual lugar ali tem um significado especial para ele, Jens-Christian Wagner reflete por um momento antes de citar o "pequeno campo". Ali, em estábulos que formavam um "campo dentro do campo", prisioneiros eram selecionados antes de serem enviados para o trabalho forçado. No início de 1945, doentes foram aglomerados nos barracos e deixados à própria sorte; mais de 6 mil morreram em menos de cem dias.
"A partir de fevereiro de 1945, o local se transformou em um campo de sofrimento e morte para os prisioneiros levados de Auschwitz para Buchenwald", diz Wagner.
O local foi destruído logo depois da libertação do campo de concentração.
Wagner diz que, na época da Alemanha Oriental, o local do "pequeno campo" estava tomado pelo mato e não era muito lembrado. Agora, uma clareira ali exibe as fundações arqueológicas do confinamento. "Continua sendo um lugar de sofrimento e luto."