País lembra os 80 anos da libertação do campo de concentração entre alertas contra "radicalização global" do nacionalismo radical. Ultradireitista AfD chega pela primeira vez à liderança de pesquisa de intenção de voto.
A reportagem é publicada por DW, 06-04-2025.
A Alemanha lembrou neste domingo (06/04) os 80 anos da libertação do campo de concentração de Buchenwald com alertas contra a "radicalização global e a mudança mundial" representadas pelo extremismo de direita.
"Devido à brutalização, à radicalização e à mudança mundial para a direita, posso agora – e isso me deixa desconfortável – imaginar mais claramente como é que isto pode ter acontecido naquela época", salientou o ex-presidente alemão Christian Wulff.
No seu discurso, o antigo chefe de Estado (2010-2012) apelou ainda para um compromisso ativo com a democracia. "Temos uma responsabilidade permanente, contínua e eterna por isso, porque o mal nunca mais deve prevalecer", alertou Wulff, que criticou ainda o partido de ultradireita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD).
Ascensão da AfD
A legenda ficou em segundo lugar nas últimas eleições gerais alemãs, em fevereiro passado, e continua em ascensão na Alemanha, chegado, pela primeira vez, à liderança das sondagens, empatando com a aliança conservadora formada pela União Democrata Cristã CDU e a União Social Cristã CSU em pesquisa do instituto Insa divulgada neste domingo pelo jornal Bild am Sonntag, com 24%.
Segundo Wulff, aqueles que "banalizam" esta força política "estão ignorando o fato de que a ideologia da AfD está criando um ambiente propício para que as pessoas se sintam desconfortáveis na Alemanha".
Na cerimônia na cidade de Weimar, que contou com vários sobreviventes do Holocausto, Mario Voigt, governador do estado da Turíngia – onde a AfD é a principal força política desde as eleições estaduais de 2023 –, Mario Voigt, salientou que Buchenwald foi "um lugar de desumanização sistemática" e que o que aconteceu no campo de extermínio "foi concebido para quebrar o espírito humano e a sua dignidade".
Ele ressaltou que atualmente "o antissemitismo, a ideologia nacionalista e o pensamento autoritário são cada vez mais ruidosos e predominantes nas ruas, nos parlamentos e nas mídias sociais".
Voigt disse também que o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, mostrou que "a intenção de exterminar os judeus não é coisa do passado".
Crítica a participação de filósofo
Na preparação da cerimônia, autoridades israelenses se opuseram à participação do filósofo Omri Boehm, neto de um sobrevivente do Holocausto e um conhecido crítico do governo israelense e das suas ações em Gaza, levando os organizadores a retirarem o convite.
O campo de Buchenwald, fundado em 1937, estava localizado no que é hoje o estado da Turíngia, no leste da Alemanha.
Mais de 56 mil dos 280 mil prisioneiros em Buchenwald e campos satélites foram assassinados pelos nazistas ou morreram em consequência de fome, doenças ou experimentos médicos antes de o campo ser libertado pelas tropas do Exército dos EUA, em 11 de abril de 1945.
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