12 Abril 2025
Agentes atiraram bombas de gás contra parte dos manifestantes; entre eles, a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG)
A informação é de Martina Medina, publicada por Brasil de Fato, 10-04-2025.
Um grupo de indígenas sofreu repressão policial durante a marcha do Acampamento Terra Livre (ATL) no Congresso Nacional, em Brasília (DF) nesta quinta-feira (10). Agentes atiraram bombas de gás contra parte dos manifestantes. Entre eles, estava a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG).
Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da parlamentar, Xakriabá aparece relatando dor nos olhos enquanto tenta atravessar uma barreira formada pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) para acessar o parlamento. “Sou deputada federal eleita”, repete.
“Mesmo após se identificar como deputada, Xakriabá foi impedida de deixar o local pelas forças de segurança e precisou receber atendimento médico na Câmara”, afirma nota divulgada pela assessoria da parlamentar.
Segundo a nota, a deputada registrou queixa no Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, denunciando “a violência política e de gênero sofrida”. Policiais teriam “impedido o socorro às vítimas e o Corpo de Bombeiros demorou a agir, obrigando indígenas a implorar por atendimento”, informa o texto. Xakriabá deve falar sobre o incidente em coletiva de imprensa marcada para a manhã desta sexta-feira (11) na Câmara.
A nota relata ainda que, em uma reunião realizada no dia anterior entre a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) e o movimento indígena, um advogado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) teve a fala interrompida por um participante identificado como “iPhoneDeca”, que declarou: “Deixa descer logo… Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”. Segundo a assessoria, a declaração “antecipou a truculência do dia seguinte”.
A Apib também se pronunciou por meio de nota, declarando que “repudia de forma veemente os atos de violência do Congresso anti-indígena, cometidos pelo Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF)”. “Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais.”
A entidade afirma ter “evidências de que os atos fazem parte de um contexto de violência institucional disseminada contra os povos indígenas”, em referência ao vídeo da reunião citada pela assessoria de Xakriabá. “A fala foi proferida por um provável agente das forças de segurança”, diz a nota.
As lideranças relataram que o protesto era pacífico e “que os indígenas que desceram em direção ao Congresso apenas portavam instrumentos ritualísticos, utilizados em cantos e rezas”, afirmou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), também em nota.
“Ainda não há confirmação sobre a quantidade de pessoas que precisaram de atendimento médico ou ficaram feridas. Os indígenas deixaram o local e retornaram para o acampamento. A Tropa de Choque da Polícia Militar chegou a ameaçar retirá-los à força”, diz o texto da entidade.
Nas redes sociais, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) publicou um vídeo da ação policial, classificada por ela como “inadimissível”. “Eles vieram com cantos, lutas e esperanças. Foram recebidos com bombas”, escreveu.
O deputado distrital Fábio Felix (Psol), que acompanhava o ato, também postou um vídeo criticando a ação policial.
Em nota, a assessoria de imprensa da Câmara, disse que aproximadamente mil indígenas que participavam da marcha romperam a linha de defesa da PM-DF, derrubaram os gradis e invadiram o gramado do Congresso. “As Polícias Legislativas Federais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal usaram agentes químicos para conter a invasão e impedir a entrada no Palácio do Congresso”, diz o texto.
No mesmo sentido, a PM-DF afirmou em nota que, ao final da marcha, “os manifestantes adentraram à área de segurança do Congresso Nacional. Momento em que a segurança do Congresso Nacional, a Polícia Legislativa, atuou com material químico”.
Segundo a assessoria, o combinado era que os manifestantes chegassem até a avenida José Sarney, anterior à avenida das Bandeiras, próxima ao gramado do Congresso. “Mas, parte dos indígenas resolveu avançar o limite. A situação já foi controlada e o policiamento das duas Casas Legislativas, reforçado.”
A assessoria do Senado ressaltou que “a dissuasão foi realizada exclusivamente por meios não letais e a ordem foi restabelecida”. “A Presidência do Congresso Nacional reforça seu respeito aos povos originários e a toda e qualquer forma de manifestação pacífica. No entanto, é indispensável que seja respeitada a sede do Congresso Nacional e assegurada a segurança dos servidores, visitantes e parlamentares”, afirma o texto.