11 Abril 2025
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, referente ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 19,28-40/Lucas 22,14-25,36, que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo C do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 07-04-2025.
O mundo está cheio de igrejas cristãs presididas pela imagem do Crucificado, e também está cheio de pessoas que sofrem, crucificadas pela desgraça, pela injustiça e pelo abandono: os doentes privados de cuidados, as mulheres abusadas, os idosos ignorados, as crianças violadas, os imigrantes sem documentos nem futuro. E pessoas, muitas pessoas afundaram na fome e na miséria pelo mundo todo.
É difícil imaginar um símbolo mais cheio de esperança do que a cruz plantada pelos cristãos em todos os lugares: uma "memória" pungente de um Deus crucificado e um lembrete permanente de sua identificação com todos os inocentes que sofrem injustamente em nosso mundo.
Essa cruz, erguida entre as nossas cruzes, nos lembra que Deus sofre conosco. Deus se compadece da fome das crianças de Calcutá, sofre com os assassinados e torturados no Iraque e chora com as mulheres maltratadas dia após dia em suas casas. Não sabemos como explicar a raiz última de tanto mal. E mesmo que soubéssemos, não nos faria muito bem. Sabemos apenas que Deus sofre conosco. Não estamos sozinhos.
Mas os símbolos mais sublimes podem ser pervertidos se não recuperarmos seu verdadeiro conteúdo repetidamente. O que significa a imagem do Crucificado, tão presente entre nós, se não vemos gravados em seu rosto o sofrimento, a solidão, a tortura e a desolação de tantos filhos e filhas de Deus?
De que adianta carregar uma cruz no peito se não sabemos carregar a menor cruz de tantas pessoas que sofrem ao nosso lado? O que significam os nossos beijos ao Crucificado se não despertam em nós o afeto, a acolhida e a proximidade com aqueles que vivem crucificados?
O Crucificado desmascara nossas mentiras e covardias como ninguém. Do silêncio da cruz, Ele é o juiz mais firme e gentil do aburguesamento da nossa fé, da nossa acomodação ao bem-estar e da nossa indiferença para com aqueles que sofrem. Para adorar o mistério de um “Deus crucificado” não basta celebrar a Semana Santa; é preciso também aproximar-se do crucificado, semana após semana.