13 Agosto 2024
Em Fenstanton, na Inglaterra, trabalhos relacionados a um empreendimento imobiliário descobriu um sítio da época romana.
A reportagem é de Francesco Maria Galassi, publicado por La Lettura de 11-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entendeu-se que o assentamento constituía um centro de produção especializado, provavelmente também caracterizado pela presença de escravos. Nas cinco áreas de cemitério adjacentes (datadas entre os séculos I e IV d.C.), foram encontrados 48 esqueletos, dos quais 44 eram certamente do período romano. A análise do DNA antigo permitiu entender que todos esses indivíduos pertenciam a uma população local. Digno de atenção especial é um indivíduo, classificado com o código de esqueleto 4926, encontrado em uma cova na terra nua, enterrado em posição estendida, supina, com as mãos cruzadas sobre a pélvis e os membros inferiores estendidos. O teste de carbono radioativo indicou uma data entre 130 e 360 d.C. com 95,4% de probabilidade.
A análise antropológica revelou que o indivíduo era do sexo masculino, uma descoberta que também foi confirmada pelo exame paleogenético. Ao avaliar outros detalhes anatômicos, a idade da morte foi estimada entre 25 e 35 anos (ou seja, um jovem adulto), com uma altura estimada entre 165 e 170 centímetros. O esqueleto em questão mostra os sinais de uma série de patologias, também encontradas no restante da população do cemitério, como osteoartrose ou problemas dentários, que eram muito comuns na antiguidade, assim como hoje. Além disso, mostra uma fratura curada da fíbula esquerda. O aspecto mais interessante desse achado, no entanto, é constituído por um prego de formato típico para a história da Bretanha romana, com 5,15 centímetros de comprimento, mas com a ponta quebrada, fincado, e ainda em posição horizontal, no interior do calcâneo direito do indivíduo: entrou lateralmente (pelo lado externo) e saiu pelo lado interno do calcâneo. O orifício de entrada na face lateral do calcâneo é maior do que o orifício de saída na face medial e, pela tipologia das margens, na qual não são evidentes sinais de consolidação óssea, pode-se compreender como a penetração do prego tenha ocorrido em um momento próximo à morte (lesão perimortem). Em razão da tipologia de lesão, da localização, do instrumento utilizado e da época, após análise cuidadosa de outros possíveis diagnósticos (tortura sofrida em vida, inserção acidental do prego durante a deposição e sepultamento do sujeito, imobilização do cadáver para evitar o retorno do morto do além-túmulo), a crucificação foi sugerida como a solução mais plausível, dado também seu uso difundido no Império Romano.
A crucificação - tão arraigada no imaginário coletivo graças à narrativa bíblica e às subsequentes representações artísticas - provavelmente foi usada pela primeira vez na Mesopotâmia e levada para o Mediterrâneo oriental por Alexandre, o Grande. Foi desenvolvida como um método de execução, embora com grande variação, pelos romanos, responsáveis por algumas das maiores crucificações em massa registradas no mundo antigo. Basta pensar no fim que teve o exército servil rebelde liderado por Spartacus em 71 a.C., que ficou famoso pelo homônimo filme de 1960, de Stanley Kubrick, estrelado por Kirk Douglas no papel do líder rebelde. A crucificação de cidadãos romanos foi proibida por Constantino após sua conversão em 312 d.C., mas os escravos não eram protegidos e continuaram a ser punidos dessa forma.
Embora as fontes literárias antigas forneçam uma quantidade substancial de exemplos de crucificação no mundo romano, o mesmo não pode ser dito das descobertas bioarqueológicas, que até hoje são bastante escassas. Isso não deve surpreender: muitas vítimas provavelmente foram deixadas sem sepultamento e é improvável que venham a ser encontradas, assim como é possível que esqueletos de indivíduos crucificados tenham sido efetivamente encontrados, mas, devido à corrosão do tecido ósseo (e também dos pregos) pela ação do solo ou pela remoção dos pregos em momentos posteriores, não foram reconhecidos como tais.
Até o momento, de fato, apenas três casos são conhecidos na literatura, dos quais apenas um é inquestionável devido à preservação do prego in situ. Especificamente, trata-se de um calcâneo direito encontrado em Giv'at ha-Mivtar, Jerusalém Oriental, perfurado - como no nosso caso inglês - por um prego metálico de 11,5 centímetros de comprimento, que acabou se dobrando e se prendendo no osso.
O estudo preliminar do caso de Fenstanton foi apresentado em Los Angeles, na 51ª Reunião da Associação de Paleopatologia (março de 2024), pelo autor do artigo, juntamente com a coordenadora científica do projeto, Dra. Corinne Duhig (Universidade de Cambridge), e a Dra. Elena Varotto (Universidade Flinders), e em breve será objeto de uma abordagem científica mais ampla.