04 Dezembro 2019
A teologia da libertação oferece lições inspiradoras para a situação atual do Iraque e do Oriente Médio.
A opinião é de Louis Raphael Sako, cardeal iraquiano do Patriarcado Caldeu da Babilônia, em artigo publicado por Site do Patriarcado Caldeu da Babilônia, 02-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A teologia da libertação nasceu da dor e da agonia dos países da América Latina, como resultado da corrupção política, administrativa e financeira na maioria desses países. Esse tipo de teologia se inspirou na teologia cristã, além dos requisitos políticos, sociais e econômicos.
A teologia da libertação se focava no cuidado dos pobres, dos famintos e dos oprimidos. Exigia também a liberalização política, administrativa e econômica dos seus miseráveis países, sem roubar a sua riqueza nacional.
Esse tipo de teologia remonta às décadas de 1960 e 1970. Foi liderada por fiéis cristãos, com a benção de alguns teólogos proeminentes, como Gustavo Gutiérrez, do Peru, Leonardo Boff, do Brasil, e Juan Luis Segundo, do Uruguai, que apoiaram os pobres reivindicando os valores da justiça social, da cidadania e dos seus direitos a uma vida digna.
Cada um deles se inspirou no exemplo da “revolução” de Jesus Cristo. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10,10), e também afirmou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” (Lucas 4,18). Uma teologia em que encontramos lições inspiradoras para a nossa situação atual.
É notável que o principal fator comum compartilhado pelos manifestantes do Iraque e do Líbano (que são, em sua maioria, jovens de ambos os sexos) é a forte defesa da sua pátria, dos seus direitos humanos legítimos e do seu futuro, enfrentando o sectarismo, a discriminação, a marginalização, a exclusão e a corrupção inerente que têm dominado desde 2003.
1. Protesto pacífico. Assim como Jesus Cristo, que não empunhava uma espada, mas disse: “Todos os que usam a espada, pela espada morrerão” (Mateus 26,52). Esse exemplo influenciou muito Mahatma Gandhi em sua luta pacífica contra o colonialismo britânico na Índia, e Nelson Mandela, que lutou contra o movimento antiapartheid na África do Sul. No fim, a “mudança” ocorreu, apesar do preço inestimável. É isso que os manifestantes iraquianos estão fazendo ao carregarem a bandeira do Iraque e gritarem: “Nossas almas e sangue são o resgate do Iraque”.
2. Demandas. Paz, estabilidade e vida digna. A paz será alcançada na nossa sociedade ao se estabelecer um sistema constitucional nacional, livre do sectarismo, em que a justiça social e o Estado de Direito prevaleçam para que ninguém seja oprimido, fique faminto, marginalizado, deslocado ou forçado a migrar.
3. O preço. Jesus Cristo pagou o preço pela sua nobre missão na cruz. Esses manifestantes estão pagando um custo tão inestimável que o número de vítimas já ultrapassou 430 mártires e 15 mil feridos.
Eu acredito que esse sangue precioso e os enormes sacrifícios farão com que o Iraque emerja como uma nova pátria decente que abraça todos os seus componentes de modo igual.
Nós, cristãos, começamos nesse domingo, 1º de dezembro de 2019, o tempo do Advento da liturgia da Igreja, preparando-nos para o nascimento de Jesus Cristo. Rezemos para que a mensagem do nascimento de Jesus se cumpra na nossa terra e na nossa região: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lucas 2,14).
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Teologia da libertação no Iraque: uma leitura teológica das manifestações iraquianas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU