07 Janeiro 2019
O padre jesuíta Samuel Rayan foi um pioneiro da teologia da libertação. Soprou-a para sempre com uma perspectiva asiática, nascida de uma interpretação radical da Bíblia profundamente pessoal.
A reportagem é de Mada Jurado, publicada por Religión Digital, 05-01-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
Nasceu em 23 de julho de 1920 em um povo do distrito de Kollam. Era o quarto filho entre duas meninas e seis meninos. Origens normais e circunstâncias normais. Nada indicava o potencial que se desenvolveria em sua vida. Faleceu no dia 2 de janeiro em um hospital no estado de Kerala, sua cidade natal, no sul da Índia, como informa UCA News. Teve tempo para viver 98 anos, e para mudar a maneira de interpretar o cristianismo na Índia.
Foi um eterno lutador. Durante seus últimos anos, resistiu aos rompantes da demência, e viveu sob atenção médica por uma doença relacionada com a idade. Assim informou à imprensa o padre jesuíta da província de Kerala, George Mutholil. Anteriormente, o padre Rayan tinha desenvolvido um frutuoso trabalho como professor no seminário de teologia jesuíta no Vidyajyoti College, em Délhi. Começou em 1972. Também foi seu diretor de 1972 a 1976. Depois de mais de três décadas de ensino ali, voltou a Kerala em 2010.
Contudo, não é isto o que fez que o legado do padre Rayan seja tão importante. Sucessores, antigos companheiros e inclusive bispos descrevem um perfil de um homem que impactou como poucos na teologia asiática.
K. Michael Tharakan, presidente do Conselho de Investigação Histórica de Kerala, ex-vice-chanceler da Universidade de Kannur, lembrou o sacerdote falecido por sua simplicidade. Segundo conta seu sucessor, padre Mutholi, "o padre Rayan foi um pioneiro que teologizou a partir de uma perspectiva asiática ou do terceiro mundo". P. T. Mathew, um companheiro teólogo que trabalhou com o padre Rayan, insiste que "até o ascenso do padre Rayan como teólogo, as preocupações das pessoas da Índia não se encontravam na teologia que se originou na Europa ocidental".
O bispo Paul Mullassery, de Quilon, disse que a Igreja da Índia sempre "o recordará por sua interpretação radical da Bíblia e como um homem preocupado com os pobres e marginalizados".
O bispo Mullassery afirmou que a teologia do padre Rayan poderia ser amplamente classificada como parte da teologia da libertação, sempre no olho do furacão por seus vínculos com o marxismo. "Mas a sua não foi a versão militante da teologia da libertação. Sua teologia provém de suas profundas meditações do Evangelho", disse o bispo Mullassery. "O padre Rayan defendeu os pobres, falou pelo meio ambiente e sua teologia estava profundamente arraigada nos valores do Evangelho", disse o bispo.
Estes testemunhos descrevem um homem que revolucionou a maneira de entender a mensagem cristã em um subcontinente saturado de outras tradições religiosas. Mas nada como recolher seu testemunho diretamente. Em uma entrevista à UCA News em 1999, o padre Rayan disse que o teologizar na Índia é "fazer com que nossa fé cristã e nossa realidade indiana se encontrem cara a cara... Fazer que a fé cristã e as situações da vida das pessoas se encontrem, interajam e interpretem entre si. O arroz é para compartilhar, o pão deve ser partido e entregue. Cada tigela, cada barriga se encherá. Deixar um só prato vazio é roubar da história seu significado; pegar uma tigela para mim é esvaziar a história de Deus".
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A teologia da libertação asiática fica órfã com a morte do jesuíta Samuel Rayan - Instituto Humanitas Unisinos - IHU