07 Abril 2025
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lamentou neste domingo (6) a falta de uma "resposta" americana à "recusa" do presidente russo, Vladimir Putin, de aceitar um cessar-fogo completo e incondicional na Ucrânia, após novos ataques russos mortais, particularmente em Kiev. Em mensagem no X, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu "ações fortes", caso Moscou continue "rejeitando a paz".
A reportagem é publicada por RFI, 06-04-2025.
Os Estados Unidos propuseram um cessar-fogo de 30 dias em março, que a Ucrânia aceitou. Mas o presidente Donald Trump, que se aproximou de Vladimir Putin, só conseguiu obter de Moscou um acordo para uma trégua no Mar Negro e uma moratória muito vaga sobre ataques à infraestrutura energética, que ambos os lados se acusam mutuamente de desrespeitar.
"A Ucrânia aceitou a proposta americana de um cessar-fogo completo e incondicional. Putin recusa", disse Zelensky no discurso diário que ele grava para a nação. "Estamos esperando a resposta dos Estados Unidos. Até agora, não houve resposta", criticou ele, dizendo que esperava uma ação dos europeus e de "todos no mundo que querem a paz".
Em mensagem no X, o presidente francês, Emmanuel Macron, endossou o pedido de Zelensky, condenando os novos "bombardeios mortais" da Rússia . Macron pediu "ações fortes", caso Moscou continue "rejeitando a paz".
"Os ataques da Rússia devem acabar. Precisamos de um cessar-fogo o quanto antes. E ações fortes caso a Rússia continue buscando ganhar tempo e rejeitando a paz", declarou o chefe de Estado francês na rede social.
Os europeus discutem se irão adotar novas sanções para manter a pressão sobre a Rússia e forçá-la a entrar em negociações de paz.
Após uma nova onda de bombardeios maçiços da Rússia contra o território ucraniano na última noite, Zelensky disse na manhã de domingo que o número de ataques aéreos russos contra seu país estava "aumentando" e que a pressão contra Moscou ainda é insuficiente. Kiev pede mais sanções econômicas, o que a Rússia está tentando aliviar nas discussões com o governo de Donald Trump.
"No início desta manhã, [a Rússia] lançou um ataque maciço contra a Ucrânia, utilizando mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e drones em todo o país", disse a vice-primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko.
No total, Moscou lançou 23 mísseis balísticos e de cruzeiro e 109 drones, informou a força aérea ucraniana. Os ataques causaram danos em seis regiões. A força aérea também relatou ter derrubado 13 dos mísseis e 40 drones, enquanto outros 54 não causaram prejuízos.
Em Kiev, explosões foram ouvidas durante a noite e uma espessa fumaça negra subiu na cidade, segundo jornalistas da AFP. O chefe da administração militar da capital, Tymur Tkachenko, informou nas redes sociais que pelo menos uma pessoa havia morrido e três ficaram feridas.
Os serviços de emergência reportaram incêndios em edifícios não residenciais, que danificaram um centro comercial, uma fábrica de móveis e vários armazéns. Escritórios de emissoras públicas que transmitem programas em língua estrangeira também foram danificados, anunciou o canal de televisão Freedom em um comunicado.
Na região de Kherson (sul), um drone matou um homem de 59 anos, e na região nordeste de Kharkiv, perto da fronteira com a Rússia, duas pessoas ficaram feridas em um ataque com bombas teleguiadas, segundo autoridades regionais.
Na região de Khmelnitsky (oeste), as defesas aéreas destruíram um míssil, mas vários fragmentos danificaram uma casa e uma mulher ficou ferida.
No sábado, o presidente ucraniano denunciou a reação "fraca" dos Estados Unido após outro ataque russo na sexta-feira, que matou 18 pessoas, incluindo nove crianças, em sua cidade natal, Kryvyi Rih.
Em Moscou, o Ministério da Defesa russo disse que interceptou e destruiu 11 drones ucranianos e também anunciou a conquista da localidade de Bassivka na região de Sumy, muito próxima do território russo.
Mais de três anos após a invasão russa no país, Trump pressiona por um cessar-fogo parcial entre Rússia e Ucrânia, mas as exigências do Kremlin aumentam a cada rodada de conversas. Kiev acusa Moscou de atrasar deliberadamente as negociações a fim de explorar sua vantagem na linha de frente e ganhar mais territórios. O exército russo ainda não conseguiu recuperar a totalidade da região de Kursk, invadida por tropas ucranianas em agosto passado, apesar do reforço que recebeu de soldados norte-coreanos.
O chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, disse no domingo que "a linguagem da força é a única que [o presidente russo Vladimir] Putin entende. Todos os nossos parceiros devem mudar para essa linguagem".
Em entrevista à TV, o enviado especial de Putin para assuntos econômicos, Kirill Dmitriev afirmou que americanos e russos poderão fazer novos contatos "na próxima semana".
Apesar das dificuldades para se chegar a uma trégua, Zelensky comemorou os "avanços tangíveis" sobre o possível envio de um contingente europeu para a Ucrânia no caso de um cessar-fogo, após uma visita dos chefes do Estado-Maior dos exércitos francês e britânico a Kiev.
As duas potências europeias propõem o envio de um contingente de países do continente, uma "força de garantia" para evitar a retomada do conflito quando uma trégua for estabelecida.