Como é o dia a dia das crianças palestinas na Cisjordânia ocupada em meio às ruínas

Foto: Vatican Media

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07 Março 2025

As crianças são vítimas colaterais da situação na Cisjordânia ocupada e quase 6.000 menores palestinos estão fora da escola, de acordo com dados divulgados pela UNRWA, a agência da ONU dos refugiados palestinos. Em Jenin, o cotidiano das crianças é pontuado pelas detonações das bombas e o barulho contínuo do drone de vigilância, das escavadeiras e dos tanques do Exército israelense.

A reportagem é de Amira Souilem, publicada por RFI, 06-03-2025.

A jovem Ranim, 17 anos, acaba de se mudar para Jenin. Ao lado do seu irmão, Farouk, de dois anos, ele mostra o novo apartamento da família, para onde eles acabaram de se mudar.

Ranin morava com sua família em um campo de refugiados de Jenin. Eles fugiram em busca de um lugar mais seguro em uma cidade vizinha, mas que também acabou sendo ocupada pelo Exército israelense.

A família tenta viver com uma certa normalidade. Ranin e suas outras quatro irmãs agora estão estudando à distância.

As meninas de 8 a 17 anos tentam acompanhar quatro horas de aulas por dia, mas nem sempre conseguem. A conexão instável e os cortes de energia lembram a dura realidade em que a cidade está mergulhada há semanas, e que provavelmente vai piorar devido à ação das tropas enviadas pelo Exército israelense.

"Para não incomodarmos uns aos outros, cada um ocupa um cômodo diferente da casa. Minha irmã mais velha estuda em nosso quarto, minha irmãzinha na varanda, eu no segundo quarto e a última na sala de estar", conta Ranim.

Diante da instabilidade, as meninas às vezes são obrigadas a faltar às aulas e, mesmo à noite, vivem em pânico: quando ouvem os tanques ou drones se aproximando, acordam assustadas.

A família é obrigada a viver trancada dentro de casa. Esta foi a única solução encontrada pelos pais da adolescente para tentar proteger os filhos da violência nas ruas. "Estamos sitiados há 43 dias. Se você sair, pode levar um tiro, pode ser preso, é muito perigoso”, descreve a jovem.

Rimah, a mãe, que é professora, atualmente desempregada, sofre com a situação.

"Minhas filhas estudam ao som de tanques e escavadeiras. Eu me lembro de um dia, no meio da aula, quando ouvimos que o Exército estava se aproximando de casa. Então tivemos que começar a nos preparar para sair."

"41 dias fora da escola"

Perto dali, o Exército israelense bombardeou um apartamento durante a noite, deixando três mortos. Israel afirma que as vítimas eram “terroristas”, entre eles um líder do Hamas de Jenin.

Apesar do cenário de guerra, as crianças continuam brincando na rua, repletas de sangue e de carros destruídos. Yosr e Mohammad, de 10 e 11 anos, contam que foram para a escola pela última vez “há 41 dias".

Mohammad passa os dias batendo bola e andando de bicicleta pelo bairro com seus vizinhos. Sem notícias de seus colegas de classe, ele está preocupado. Principalmente porque não há nenhuma previsão de retomada das aulas. Sobre o futuro, e o que esperam ser quando crescer, os dois respondem que querem se tornar "combatentes".

Oficinas de teatro para aliviar traumas

Cansada de ver as crianças de sua cidade brincando de "israelenses e palestinos", Rawand Arqawi, moradora de Jenin, tenta agir à sua maneira. Fundadora do Fragment Theatre há doze anos, ela organiza oficinas de teatro para os menores. Apesar da ofensiva israelense, ela está tentando manter uma certa regularidade nas aulas, mas lamenta ter perdido de vista algumas crianças deslocadas pela violência, cujo destino ela ignora.

Onde acha energia para organizar aulas de teatro em meio à destruição? A resposta é simples e direta: ela faz isso em primeiro lugar por si mesma, para exteriorizar sua ansiedade e se sentir útil para esta geração que muitos imaginam estar “perdida”.

Rawand acredita no poder da arte para aliviar os tormentos muitas vezes invisíveis das crianças de sua cidade, além de sua própria dor. Ela diz que vê as oficinas como "lugares seguros" onde as crianças podem descarregar suas emoções e como uma maneira dela própria cuidar de sua "saúde mental".

Ela admite que às vezes pensa em desistir, mas a perspectiva de devolver às crianças um pouco da infância que a guerra tomou delas é suficiente para acabar com suas dúvidas. E continuará sua luta, mesmo que seja ao som do drone que nunca deixa de rondar Jenin.

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