07 Março 2025
“O plano de rearmamento apresentado pela Europa é um erro trágico do ponto de vista político”. Stefano Zamagni rejeita a estratégia de Von der Leyen em todos os aspectos, e não poderia ser de outra forma, uma vez que ele vem pregando sem ser ouvido há tempo, juntamente com um grupo de outros intelectuais, na direção oposta para no mínimo chegar, finalmente, a uma trégua.
Sobre o percurso necessário para “uma paz equitativa” na Ucrânia, ele já havia desenvolvido uma proposta de 7 pontos no outono de 2022, que abrangia desde as garantias a serem dadas a Kiev sobre soberania e independência até as concessões a serem feitas à Rússia com relação a sanções e acesso aos portos comerciais. “As diretrizes permanecem as mesmas, embora algo precisaria ser revisado hoje”, observa o economista que já foi presidente da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. ”Certamente, o pedido que chega da Comissão da UE para investir em armamentos não tem nenhuma justificativa científica e nem mesmo política”.
A reportagem é de Diego Motta, publicada por Avvenire, 05-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por quê?
Porque 800 bilhões, uma soma considerável por si só, ainda não são suficientes para diminuir a distância em relação à Rússia, que tem o maior número de ogivas atômicas do mundo, o que realmente conta quando se trata de segurança. Com os fundos indicados por Von der Leyen, seria possível atingir uma meta de armas convencionais não adequada. Portanto, em vez de aumentar os gastos militares, deveríamos nos concentrar em políticas de desarmamento que sejam equilibradas entre os vários países. Sem esquecer que a corrida armamentista leva a consequências nefastas no plano humanitário.
O advento de Trump na Casa Branca levou a uma aceleração convulsiva, mais que a uma negociação, das tensões para chegar, no mínimo, a uma trégua. Por onde se deve começar, em sua opinião?
Devemos decidir o que proteger: a razão de Estado, como afirmava Maquiavel, ou a vida humana? Se a primeira prevalecer, já estamos agora no cenário certo. Acredito que a segunda deveria prevalecer, o que também é uma forma de garantir um futuro para a humanidade e realizar o bem comum. Mas para concordar com a negociação, todos precisam dar um passo atrás. Além disso, deve ser escolhido um árbitro, e ele só pode ser indicado pelas partes envolvidas: Ucrânia e Rússia. É evidente para todos que esse árbitro não pode ser Trump, mesmo que ele tenha se autodenominado como tal.
Portanto, cabe à ONU ou à Europa desempenhar um papel de orientação e mediação?
A ONU está bloqueada por aquela maldita regra que dá o direito de veto aos países que têm assento permanente no Conselho de Segurança. Quanto a isso, é necessária uma reforma o mais rápido possível: conceder a um sujeito a possibilidade de dizer “não” indefinidamente com base em seus próprios interesses, interrompendo qualquer processo de pacificação como nesse caso, equivale, de fato, a conceder uma espécie de direito de monopólio, o que é moralmente inaceitável. A Europa, por outro lado, carece de uma classe dirigente. Se tivéssemos hoje os Adenauer, os De Gasperi e os Schuman... Cabe, portanto, à sociedade civil e aos órgãos intermediários se encarregarem da criação de novas instituições de paz, partindo de baixo. Sem esquecer que uma contribuição pode vir das grandes religiões.
Concretamente, no que pensa? De qualquer forma, não estamos, infelizmente, já atrasados?
É necessário criar uma agência internacional independente para a gestão das ajudas, para a qual fluiriam os recursos disponibilizados pelo “dividendo da paz”. No entanto, antes de chegarmos a essa fase, é preciso iniciar uma pré-negociação na qual sejam estabelecidas as regras do jogo que depois serão respeitadas. Aqueles que querem ir em frente com a guerra o fazem porque sabem que a guerra gera lucros para aqueles que produzem armas. Mas são lucros encharcados de sangue, e o mero pensamento de aumentar o orçamento bélico da UE é imoral. Desde 2010, o setor de armas foi privatizado e não está mais sob controle dos Estados. As empresas cotadas na Bolsa exercem pressão sobre seus governos, como foi visto. Portanto, é necessário introduzir impostos sobre os lucros excessivos dessas empresas.
Os sete pontos para uma proposta de cessar-fogo na Ucrânia ainda são válidos hoje? Obviamente, deveriam ser modificados de acordo com o contexto, mas os princípios só podem ser aqueles de um compartilhamento de esforços e garantias para os dois países: para Kiev, a renúncia da ambição de entrar para a OTAN com a possibilidade de se tornar parte da UE e garantia de sua soberania. Para Moscou, por sua vez, a remoção das sanções ocidentais e o acesso aos portos do Mar Negro, juntamente com a Ucrânia. Além disso, seria importante, do ponto de vista bilateral, montar um fundo multilateral para a reconstrução e o desenvolvimento das áreas destruídas pela guerra, para o qual a própria Rússia seria chamada a contribuir.
O mundo diversificado que pede paz, na Ucrânia e em todos os outros cenários de conflito, está dividido entre aqueles que apoiam a paz “sem se nem mas” e aqueles que querem a “paz justa”. De que lado você está?
Eu sempre falei de paz equitativa, não de paz justa. Justiça não é a mesma coisa que equidade, e a próxima negociação deve prever, em minha opinião, a aplicação concreta do princípio da equidade.
As regras justas são, por definição, universais e abstratas; a verdadeira questão é prever condições equitativas, ou seja, que levem em conta a situação e o contexto. Certamente devemos dizer “não” ao que chamo de “pacifismo de rendição”, disposto a abrir mão da liberdade e aceitar os abusos. Ao mesmo tempo, vejo os riscos de um pacifismo restrito ao puro testemunho, que, em última análise, cultiva o sonho de eliminar a guerra sem destruir a cultura bélica que a sustenta. É por isso que há uma necessidade urgente de dar passos rápidos em direção a um novo pacifismo, que chamo de institucional e cujo slogan é: se você quer paz, prepare instituições de paz. Justamente como o Evangelho pede aos cristãos: sejam construtores de paz e pacificadores.