A semana foi marcada por um “caldo de ódio turbinado pela desinformação”, com mais uma demonstração de poder da tecnologia, que aliada à extrema-direita dissemina notícias falsas que atingem em cheio as democracias, fazendo inclusive o governo brasileiro ceder à pressão. Do Oriente Médio chega a tardia, mas boa notícia: um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Embora considerado frágil, é uma trégua que traz alívio aos palestinos. A volta da tormenta à Casa Branca é outro ponto de inflexão sobre o futuro do mundo. Essas e outras notícias nos Destaques da Semana do IHU.
Confira os destaques na versão em áudio.
Enfim, a trégua chegou. Depois de 469 dias de massacres sucessivos em Gaza, com mais de 46 mil mortos, sendo mais de 17 mil crianças, Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo. A primeira fase do pacto começa nesse domingo, 19 de janeiro, e vai durar 42 dias. O Hamas vai liberar 33 reféns nas próximas semanas. No entanto, o acordo ainda é frágil. Xavier Abu Eid, cientista político e antigo conselheiro da equipe negocial palestina, disse que “o mais importante é a implementação”. “Lembremos que Israel não é um país conhecido por implementar os acordos que assina. Não fez isso com o Líbano, não implementou o Acordo de Oslo... O que importa aqui é o papel dos países garantes do acordo: Catar, Egito e Estados Unidos. Lá veremos realmente qual será o papel da Administração Trump para fazer com que este acordo continue”, pontuou. O psicanalista italiano Massimo Recalcati expõe um dos aspectos que impõe uma dificuldade na hipótese da criação de dois estados é porque a "presença de pressões fundamentalistas de tipo religioso ativas em ambos os lados. Compartilho dessa observação porque o discurso religioso, quando assumido pelo fanatismo fundamentalista, sempre tende a impor o Um sobre o Dois".
🇵🇸 Palestinos festejam em Jerusalém o cessar-fogo em Gaza anunciado por Telavive, como uma vitória. pic.twitter.com/qUQpK8t38m
— geopol•pt (@GeopolPt) January 16, 2025
Enquanto Gaza hospeda o maior grupo de crianças amputadas da história moderna, os palestinos comemoram a “pausa na máquina de matar” israelense e a chegada da ajuda humanitária, após um ano. Uma das mais bonitas imagens que vem da Faixa, é a declaração de uma mulher palestina: “Vamos reconstruir e Gaza será mais linda do que antes. A verdadeira conquista é nossa. Nós resistimos. Nenhuma liderança ou país”. Emociona também o jornalista Anas Al-Sharif, um herói que conseguiu se salvar e fez o anúncio ao vivo de cessar-fogo. Apesar da esperança, Netanyahu sabota o acordo. Desde a divulgação da trégua, as Forças Israelenses fizeram novos ataques e já mataram mais 80 pessoas na Palestina.
"Vamos reconstruir e Gaza será mais linda do que antes. A verdadeira conquista é nossa. Nós resistimos. Nenhuma liderança ou país. Temos orgulho do que conquistamos"
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) January 15, 2025
Mulher palestina manda recado ao mundo. A vitória é do povo palestino. Dia 467 do Holocausto Palestino. pic.twitter.com/XGTwRtXULD
Imagem histórica do jornalista e herói palestino Anas Al-Sharif retirando colete de imprensa e anunciando acordo de "cessar-fogo" após 467 dias de Holocausto Palestino. pic.twitter.com/SwpKxsXzHT
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) January 15, 2025
🇵🇸🇺🇳 Numerosos camiões com ajuda humanitária começaram a entrar em Gaza ontem à noite, pela primeira vez em mais de um ano, após o acordo de cessar-fogo do Hamas com Israel. pic.twitter.com/w48oIuiJvp
— geopol•pt (@GeopolPt) January 16, 2025
No melhor dia das suas vidas, os dois milhões de palestinos que sobreviveram agora rezam por um tempo de paz duradouro. Pelas ruínas de Gaza, nos campos de refugiados, "as fervorosas esperanças da tarde transformaram-se em celebrações noturnas assim que chegaram as notícias do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas". Palestinos se orgulham da sua resistência e planejam um amanhã mais colorido. Oxalá permita que o céu de Gaza nunca mais fique mais cinza, que os palestinos, com o olhar voltado para o céu, com os olhos daqueles que sofreram a guerra de aniquilação, possam continuar suspirando aliviados.
"Uau! Gaza é tão assustadora assim pra eles? Mantenho minha cabeça erguida. Tenho orgulho de ser desta terra que o mundo inteiro lutou contra injustamente"
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) January 17, 2025
Palestino manda recado ao mundo. Dia 469 do Holocausto Palestino. pic.twitter.com/UQGwaAR0Tl
Israeli historian Ilan Pappe tells Al Jazeera that he believes there are many factors, from a Trump presidency to international isolation, that show Zionism is entering its “last phase” before its collapse. pic.twitter.com/Bl3fnomFWf
— Al Jazeera English (@AJEnglish) January 14, 2025
A quem interessa sonegar os impostos no Pix? Há muita gente que atua na economia subterrânea. Não estamos falando aqui dos trabalhadores, pobres, pequenos empreendedores, mas daqueles que fazem fortuna às custas da sonegação ao erário público. Em uma campanha criminosa, o deputado Nikolas Ferreira fez rodar uma Fake News que levou o governo Lula voltar atrás e revogar uma medida de fiscalização do Pix pela Receita Federal. No post criminoso, o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, através de Inteligência Artificial, aparecia anunciando a suposta taxação da operação bancária. Esse é uma clara demonstração de como as grandes corporações tecnológicas e a desinformação afetam as decisões políticas do país. Para o jornalista Luis Nassif, é hora de criar um grupo de inteligência para entrar nessa guerra semiótica.
Entenderam agora o impacto monstruoso de uma fake news né? Ela tem poder de impactar políticas públicas, negócios, ameaçam a institucionalidade do país, criam um ambiente de pânico em meio a meros ajustes burocráticos. Não dá para o país ficar a mercê de uma estrutura assim.
— George Marques 🇧🇷 (@GeorgMarques) January 15, 2025
... em entrevista ao IHU, Moysés Pinto Neto avaliou que “não basta o governo Lula apresentar resultados de crescimento se não for capaz de entregar ideias e mobilizar a base social”. Para o filósofo, “a lógica do algoritmo hoje é uma ferramenta que, sozinha, controla mais que qualquer outra formação social. Os brasileiros são um povo extremamente conectado e, hoje, estão com a vida completamente entrelaçada nas redes. Sabemos que estas favorecem a extrema-direita, não apenas por alianças explícitas – como Musk e Zuckerberg com Trump, agora –, mas pela sua própria estrutura, que envolve a economia da atenção, a captura de dados e a circulação de conteúdo maximizada pela audiência sem preocupação com sua consistência”, advertiu. Ainda sobre política brasileira, Manuel Domingos Neto destacou a força da corporação militar desde a Guerra do Paraguai. Segundo o pesquisador, até aqui, “todos os presidentes abdicaram da condição de comandante supremo. A autonomia corporativa sempre prevaleceu”, ponderou.
Voltando ao tema de como a tecnologia captura a vida, dando também uma força inédita à extrema-direita, o filósofo Massimo Cacciari elaborou uma análise que nos coloca a pensar. “O poder da Tecnologia (o aparato global formado por economia, finanças, ciência, inovação e desenvolvimento) há muito tempo deixou de ser percebido como aquilo capaz de responder às nossas necessidades, de superar as necessidades, mas a Autoridade soberana que as produz e dita. A Tecnologia domina o ‘ter de ser’ da humanidade e se tornou, com toda evidência, sua nova religião. É ela que nos guia através do nevoeiro, prometendo, se confiarmos em sua inteligência, eliminar a angustiante imprevisibilidade do próprio futuro”, assinala. “O que a Tecnologia afirma, continua o pensador, se transforma em um tipo de profecia. [...] o que universalmente se sente é que a Máquina, uma Máquina que já se tornou inteligente, ‘espiritual’, representa o fator fundamental em nossas vidas. E seus senhores são, portanto, necessariamente, seus soberanos. Portanto, assombrar-se com a afirmação política de Musk poderia soar aos ouvidos de um saudável realismo como um patético lamento”, observou o filósofo. “E nessa onda de fascismo-liberal, também o espaço é privatizado”, denunciou o jurista Luigi Ferrajoli.
O mundo prende a respiração à espera da posse de Donald Trump no dia 20 de janeiro. 11 milhões de imigrantes podem ser deportados. As ameaças de contra Canadá, Groenlândia e o canal do Panamá e outros países, até então parceiros comerciais, deixam o mundo em suspenso. Para o jornalista uruguaio Raúl Zibechi, teremos um retorno à Doutrina Monroe, “ao passo que Trump rejeita o multilateralismo e propõe retornar à velha agenda imperialista e expansionista que foi a principal característica do império”. O pensador avalia que será uma volta “ao início do século XX, quando ocorreram dezenas de intervenções armadas dos Estados Unidos, marca um ponto de inflexão que deve nos levar a observar o nosso futuro no espelho de Gaza, Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia, pelo menos”. Em sua análise, sinaliza que ainda não estamos prontos para gerir a tormenta que se avizinha na América Latina. “Este duro panorama faz parte da reorganização do capitalismo que os zapatistas chamam de ‘tormenta’. Não estamos em condições de deter a tormenta, nem temos força suficiente para apresentar alternativas que vão além do local, como destacou o Capitão Marcos, no ano passado. Por isso, propõem trabalhar desde já para que em 120 anos os povos estejam em condições de enfrentar o ‘dia depois’ da tormenta”, coloca.
O papa Francisco deu mais um importante passo em direção às reformas da Igreja ao nomear a primeira mulher prefeita de um Dicastério. Simona Brambilla é religiosa da Consolata e assumiu o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no dia 06 de janeiro passado. A mulher mais poderosa da Igreja Católica é responsável pelos religiosos de todo o mundo, o que agora “ajudará a mudar ainda mais a face da Igreja’, declarou Stefan Orth. Apesar de os conservadores já terem começado “a chiar” e de ainda não curar a ferida da desigualdade de gênero, é um impulso do Papa Bergoglio para desmasculizar a Igreja.