14 Janeiro 2025
"Os debates sobre as diferentes composições do texto são superados de imediato pela percepção de que se está diante de 'uma complexa afirmação sobre a realidade'. Pouco importa se Gênesis foi escrito antes ou depois, por quem: 'É como dizer que se o pouso na lua foi realmente filmado no Arizona, não existe o universo'", escreve Edoardo Rialti, professor de Literatura Medieval e Humanística e Literatura Italiana na Universidade de Florença, em artigo publicado por La Stampa, 11-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por milênios, o Gênesis forneceu à cultura ocidental coordenadas fundamentais no arranjo de instrumentos individuais e coletivos para a abertura de uma relação entre Deus e o homem, entre o cosmo e o homem. Nosso papel no mundo, a relação entre os sexos, a natureza e a origem do mal. Marilynne Robinson, escritora, católica e calvinista, em seu Reading Genesis (Lendo o Gênesis), faz uma releitura do texto com uma sensibilidade não muito diferente daquela com que Dorothy Sayers, em A mente do criador, estabelecia relações entre as afirmações do Credo e a experiência que ocorre na psique de cada criativo. Assim, os traços humanizadores sobre o Deus de Gênesis, em vez de constituírem prova de ingenuidade primitiva, obrigam a se perguntar qual é a fonte última de nossas experiências mais intensas. “Ele é antropomórfico no sentido de que desfruta de um prazer que preparou para Seu homem e Sua mulher e todos os seus descendentes, uma brisa noturna, um passeio em um jardim”.
Os debates sobre as diferentes composições do texto são superados de imediato pela percepção de que se está diante de “uma complexa afirmação sobre a realidade”. Pouco importa se Gênesis foi escrito antes ou depois, por quem: “É como dizer que se o pouso na lua foi realmente filmado no Arizona, não existe o universo”. A palavra-chave nessa recepção é imaginar: “Imagino um círculo de piedosos estudiosos, rabinos antes da palavra, relembrando juntos o que suas avós lhes haviam contado, encontrando a beleza da antiga memória em um estranho giro de frase, percebendo juntos que esses contos estranhos sustentavam um senso ricamente renovado da presença de Deus”. As estrelas brilham para nós a milhões de anos-luz de distância, embora estejam mortas há muito tempo, de modo que nossos pensamentos, sentimentos e ações participam de algo que os precede e os compreende, com a consciência humilde e irônica de que “a história e a experiência são, elas próprias, parábolas à espera de seus profetas”.
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O Deus do Gênesis também era humano. Artigo de Edoardo Rialti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU