10 Setembro 2024
"As autoridades locais [da Indonésia] às vezes tendem a favorecer o islamismo e dificultam a construção de uma igreja; em algumas províncias, a Sharia (a lei islâmica rigorosa) foi instaurada; os casamentos inter-religiosos são proibidos", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 09-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esperanças e problemas afloraram por ocasião da viagem do papa à Indonésia, que, sendo o país com a maior porcentagem de muçulmanos do mundo (86% de seus 275 milhões de habitantes), torna-se um teste decisivo para ver como uma minoria, como a católica (3% do total), pode se posicionar nele.
Foi muito festiva a recepção a Francisco na diocese de Jacarta - onde, em uma população de 20 milhões, os fiéis de Roma somam meio milhão -: não apenas eles, mas também multidões de muçulmanos lotaram as ruas para saudar o peregrino. Até mesmo as autoridades, a começar pelo presidente, Joko Widodo, foram extremamente corteses com o pontífice. Afinal, as religiões têm uma importância especial na Constituição do país (uma república desde 1945, mas efetivamente independente somente em 1949, após a retirada das tropas holandesas que controlavam sua colônia mais importante). De fato, o artigo 29 da Carta constitucional afirma: “O Estado é baseado na fé em um único Deus. Ele garante a liberdade de religião e de praticá-la a todos os cidadãos”. Na prática, islã, catolicismo, protestantismo, hinduísmo, budismo e confucionismo são protegidos. Uma lista surpreendente (ignora os ateus!) para nós, europeus, acostumados com a secularidade do Estado. Em essência, essa visão está ligada à Pancasila (Cinco Princípios Básicos) defendida por Achmad Sukarno, herói da independência dos holandeses e primeiro presidente da Indonésia, que na constituição, depois do artigo que acabamos de mencionar, prevê estes princípios: justiça e civilização humana, unidade da Indonésia, democracia liderada pelos representantes do povo, justiça social.
Nos fatos, porém, nem tudo é tão idílico: no vasto país (1,982 milhão de quilômetros quadrados, espalhados por 17.508 ilhas), as autoridades locais às vezes tendem a favorecer o islamismo e dificultam a construção de uma igreja; em algumas províncias, a Sharia (a lei islâmica rigorosa) foi instaurada; os casamentos inter-religiosos são proibidos. Tensões que, como fogo sob as cinzas, ocasionalmente explodem: entre 1999 e 2002, nas Molucas - ilhas na parte sudeste do país - um forte conflito eclodiu entre a comunidade muçulmana animada pelo grupo islâmico Laskar Jihad (suspeito de ligações com a Al Qaeda) e a comunidade cristã: as vítimas, em sua maioria cristãs, foram estimadas entre seis e quinze mil; milhares de pessoas tiveram que abandonar suas aldeias para se salvar. Mas Nasaruddin Umar, o grande imã da mesquita Istiqlal (Liberdade) de Jacarta, a mais imponente do sudeste asiático, assinou com Francisco uma Declaração que, opondo-se aos fundamentalismos, pede o pleno respeito à liberdade religiosa e ao seu exercício. No momento, num eventual conclave, estaria presente apenas um cardeal indonésio, o arcebispo de Jacarta, Ignatius Suharyo: ele, então, poderá mostrar os resultados concretos da peregrinação de Bergoglio no país.
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Indonésia, luzes e sombras. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU