06 Setembro 2024
Não é uma viagem simples aquela do papa à Ásia e à Oceania, e não apenas por causa das óbvias dificuldades representadas pela distância, pela duração (de 2 a 13 de setembro), pela idade e pelas condições de saúde do pontífice; tudo isso naturalmente terá seu peso, mas ao mesmo tempo a situação política e social dos países que o papa planeja visitar oferece vários pontos de interesse. Da Indonésia à Papua Nova Guiné, do Timor Leste a Cingapura, será um tour no coração de uma Ásia em tumultuado crescimento econômico, onde ao mesmo tempo não faltam elementos de forte crise, uma região caracterizada pela presença de muitas tradições religiosas, onde o catolicismo é uma minoria ativa e crescente e onde não faltam problemas ligados ao exercício da liberdade religiosa.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicado por Domani, 04-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A primeira parada da visita de Bergoglio é, portanto, a Indonésia e sua capital Jacarta, o maior país muçulmano do mundo é também aquele que tentou experimentar uma forma convivência multirreligiosa ampla e concreta; a liberdade religiosa está, de fato, sancionada em sua constituição, que reconhece oficialmente seis religiões: islamismo, budismo, confucionismo, hinduísmo, protestantismo e catolicismo (surgem problemas para aqueles que se declaram não crentes ou para aqueles que seguem as tradições religiosas locais).
De qualquer forma, é provável que Francisco enfatize essa tradição de tolerância religiosa e a celebre como uma mensagem válida em nível global.
Entretanto, o fundamentalismo islâmico, aliado a derivas políticas autoritárias, corre o risco de destruir o modelo indonésio. No final de agosto, violentos protestos de rua impediram que o parlamento aprovasse uma reforma do sistema eleitoral desfavorável à oposição, pouco antes de importantes eleições locais que se realizarão em novembro próximo, ou seja, imediatamente após o presidente Joko “Jokowi” Widodo deixar o cargo em 20 de outubro para Prabowo Subianto, o ex-general que venceu as eleições de fevereiro passado junto com Gibran Rakabuming, que será o vice-presidente, filho de Widodo.
Há também o capítulo sobre a crescente influência dos movimentos islâmicos radicais no país: em muitos distritos, foram aplicadas normas derivadas da Sharia, a lei islâmica. Outro aspecto que está causando discussão é a restrição que é de fato imposta à construção de novos locais de culto. De acordo com o que disse à agência de notícias missionária Asianews o padre Paulus Budi Kleden, que desde 22 de agosto está à frente da arquidiocese de Ende, na ilha de Flores, o coração do catolicismo indonésio, “a harmonia social hoje está ameaçada por alguns políticos que exploram as questões religiosas ou de identidade religiosa para obter votos. A insensibilidade em relação à construção de prédios religiosos onde há poucos fiéis de tal religião também é outro fator. Assim como o econômico: quando os habitantes de um lugar que são fiéis de uma religião veem que seus vizinhos de outras religiões recebem mais privilégios e apoio para iniciar e administrar suas atividades, se criam tensões”.
Não por acaso o tema do diálogo inter-religioso estar entre os mais relevantes da viagem do papa; afinal, até mesmo na Indonésia há pressões reformistas ao lado de impulsos fundamentalistas. Assim, Francisco, ao se encontrar com o grande imã Nasaruddin Umar, participará de um encontro inter-religioso na mesquita Istiqlal, a maior da Indonésia; em seguida, os dois líderes religiosos assinarão uma declaração conjunta. Também deve ser destacado que a mesquita está ligada à catedral católica de Jacarta, que fica em frente a ela, por uma passagem subterrânea chamada de “túnel da amizade”, que será visitada pelo papa e pelo grande imã.
Por último, mas não menos importante, há uma questão que certamente não é de menor importância e que se enquadra nos temas não escritos da viagem, ou seja, o relacionamento entre a Santa Sé e a China, em uma região onde Pequim exerce enorme influência. A esse respeito, o Secretário de Estado, Pietro Parolin, falando ao Vatican News sobre a etapa de Cingapura, observou: “A população da cidade-estado é majoritariamente de etnia chinesa”, portanto, Cingapura “constitui um lugar privilegiado para o diálogo com a cultura e o povo chinês em geral”. Em seguida, acrescentou: “Dois - e logo serão três - dos países envolvidos na visita papal são membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, à qual logo se juntará o Timor Leste, uma comunidade que também inclui outras nações importantes da região, como Vietnã e Mianmar. A proximidade e a mensagem de paz que o Papa Francisco levará durante essa viagem também são dirigidas a todas essas realidades”.
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A viagem do papa entre liberdade religiosa e diálogo com a China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU