09 Setembro 2024
"Claro que resta a questão de fundo: no país com a maior presença muçulmana, a Igreja também tem que lidar com legislações restritivas e limitações. Sem contar os surtos anticristãos que ocorreram no passado e que estão sempre prontos para ressurgir quando começa uma retórica política antirreligiosa".
O artigo é de Fabrizio Mastrofini, jornalista e ensaísta italiano, em artigo publicado por Settimana News, 06-09-2024.
"Eu os encorajo a continuar nesse caminho: que todos, todos juntos, cada um cultivando sua própria espiritualidade e praticando sua própria religião, possamos caminhar em busca de Deus e contribuir para construir sociedades abertas, fundadas no respeito mútuo e no amor recíproco, capazes de isolar as rigidezes, os fundamentalismos e os extremismos, que são sempre perigosos e nunca justificáveis".
Papa na Indonésia | Foto: Setimanna News
Assim falou o Papa Francisco, em Jacarta, no encontro inter-religioso na maior mesquita da Ásia.
E da etapa na Indonésia (2-5 de setembro) da longa viagem pela Ásia e Oceania (2-13 de setembro), permanecem algumas imagens importantes.
Na ordem: a cordialidade no encontro com o presidente da República; as manifestações de respeito e amizade com o imã de Jacarta; a assinatura do documento comum de compromisso no diálogo inter-religioso realizada no "túnel da amizade" (a ligação entre a Mesquita e a Catedral Católica). E, naturalmente, ficará marcada a missa na tarde de quinta-feira, com a presença de uma multidão tão vasta que os organizadores improvisaram um segundo estádio, equipado com telões, para permitir aos fiéis acompanharem o Papa.
A mensagem do Papa Francisco na Indonésia seguiu três diretrizes. A primeira, expressa no encontro com as autoridades políticas e o corpo diplomático. Disse o Papa:
"O vosso lema nacional, Bhinneka tunggal ika (Muitos, mas um), manifesta bem essa realidade multiforme de povos diversos, firmemente unidos em uma só nação. E, além disso, mostra que, assim como a grande biodiversidade presente neste arquipélago é fonte de riqueza e esplendor, da mesma forma as diferenças específicas contribuem para formar um magnífico mosaico, no qual cada peça é um elemento insubstituível para compor uma grande obra original e preciosa. E esse é o vosso tesouro, é a vossa maior riqueza. A harmonia no respeito pelas diversidades é alcançada quando cada visão particular leva em conta as necessidades comuns e quando cada grupo étnico e confissão religiosa agem em espírito de fraternidade, buscando o nobre fim de servir ao bem de todos. A consciência de participar de uma história compartilhada, na qual cada um oferece sua contribuição e onde a solidariedade de cada parte em relação ao todo é fundamental, ajuda a identificar as soluções corretas, a evitar a exacerbação dos contrastes e a transformar a oposição em colaboração ativa. (...) Para promover uma harmonia pacífica e construtiva, que assegure a paz e una as forças para derrotar os desequilíbrios e os focos de pobreza, que ainda persistem em algumas áreas, a Igreja deseja aumentar o diálogo inter-religioso. (...) A Igreja Católica se coloca a serviço do bem comum e deseja fortalecer a colaboração com as instituições públicas e outros atores da sociedade civil, mas nunca fazendo proselitismo, jamais; respeita a fé de cada pessoa. E com isso, encoraja a formação de um tecido social mais equilibrado e para garantir uma distribuição mais eficiente e equitativa da assistência social."
A segunda, a respeito do diálogo inter-religioso:
"Queridos irmãos e irmãs, promover a harmonia religiosa para o bem da humanidade é a inspiração que somos chamados a seguir e que também dá título à Declaração Conjunta preparada para esta ocasião. Nela, assumimos com responsabilidade as graves e, por vezes, dramáticas crises que ameaçam o futuro da humanidade, em particular as guerras e os conflitos, infelizmente alimentados também por instrumentalizações religiosas, mas também a crise ambiental, que se tornou um obstáculo para o crescimento e a convivência dos povos. E diante deste cenário, é importante que os valores comuns a todas as tradições religiosas sejam promovidos e fortalecidos, ajudando a sociedade a ‘derrotar a cultura da violência e da indiferença’ (Declaração Conjunta de Istiqlal) e a promover a reconciliação e a paz. Agradeço-lhes por este caminho comum que vocês continuam a seguir. A Indonésia é um grande país, um mosaico de culturas, etnias e tradições religiosas, uma riquíssima diversidade, que também se reflete na variedade do ecossistema e do meio ambiente circundante. E se é verdade que vocês abrigam a maior mina de ouro do mundo, saibam que o tesouro mais precioso é a vontade de que as diferenças não se tornem motivo de conflito, mas se harmonizem em concordância e respeito mútuo."
A terceira diretriz, para a Igreja:
"Não se cansem de lançar-se ao largo, não se cansem de lançar as redes, não se cansem de sonhar, não se cansem de sonhar e de construir uma civilização de paz! Ousem sempre sonhar com a fraternidade, que é um verdadeiro tesouro entre vocês. Na Palavra do Senhor, encorajo vocês a semear o amor, a percorrer com confiança o caminho do diálogo, a praticar ainda sua bondade e gentileza com o sorriso típico que os distingue. Disseram-lhes que vocês são um povo sorridente? Não percam o sorriso, por favor, e sigam em frente! E sejam construtores de paz. Sejam construtores de esperança!"
No dia anterior, aos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, ele expressou sua orientação precisa:
"Eu os encorajo a continuar sua missão, fortes na fé, abertos a todos na fraternidade e próximos de cada um na compaixão. Fé, fraternidade e compaixão. Três palavras que deixo com vocês, e depois vocês refletirão sobre elas. Fé, fraternidade e compaixão. Abençoo vocês, agradeço-lhes por todo o bem que fazem todos os dias em todas essas belas ilhas! Rezo por vocês. Rezo, mas, por favor, peço-lhes que rezem por mim. E prestem atenção a uma coisa: rezem a favor, não contra! Obrigado."
Claro que resta a questão de fundo: no país com a maior presença muçulmana, a Igreja também tem que lidar com legislações restritivas e limitações. Sem contar os surtos anticristãos que ocorreram no passado e que estão sempre prontos para ressurgir quando começa uma retórica política antirreligiosa.
Após esta visita, o que poderá mudar?
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A Igreja na Indonésia e o Papa Francisco. Artigo de Fabrizio Mastrofini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
