10 Setembro 2024
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 09-09-2024.
"Encomendo Timor-Leste e todos os seus habitantes à proteção da Imaculada Conceição, sua Padroeira celestial invocada com o título de Virgem de Aitara. Que ela os acompanhe e ajude sempre na missão de edificar um país livre, democrático, solidário e alegre, onde ninguém se sinta excluído e todos possam viver em paz e com dignidade".
O castelhano terá seu espaço na viagem papal pela Ásia e Oceania. À sua chegada a Timor Leste, Francisco decidiu utilizar sua língua materna para se dirigir aos representantes políticos e da sociedade civil no palácio presidencial de Dili, com um discurso no qual reivindicou a luta deste pequeno país para alcançar sua independência, ao mesmo tempo que reivindicou uma reconciliação plena com os irmãos da Indonésia.
"A Ásia e a Oceania se tocam e, de certo modo, se encontram com a Europa, distante geograficamente, mas próxima pelo papel que teve nestas latitudes nos últimos cinco séculos", começou o Papa, lembrando o papel dos primeiros missionários dominicanos que chegaram de Portugal no século XVI. Um caminho de ida e volta, pois "o cristianismo, nascido na Ásia, chegou a estas regiões distantes do continente através de missionários europeus, o que testemunha sua vocação universal e sua capacidade de harmonizar-se com as mais diversas culturas, que, ao encontrar-se com o Evangelho, chegam a uma nova síntese, mais elevada e profunda".
"Esta terra, adornada com montanhas, selvas e planícies, rodeada por um mar resplandecente, rica em frutos e madeiras preciosas e fragrantes, é uma terra que desperta na alma sentimentos de paz e alegria", proclamou Francisco, que lembrou o passado de "convulsões e violência que costumam ocorrer quando um povo se lança em busca de sua plena independência e essa busca de autonomia é negada ou frustrada".
Assim, o Papa recordou os anos vividos desde a declaração de independência de Timor (1975) até sua efetiva realização (2002). Timor Leste "viveu os anos de sua paixão e de sua maior prova. (...) A partir daí, o país soube ressurgir, encontrando um caminho de paz e abertura para uma nova fase, que pretende ser de desenvolvimento, de melhoria nas suas condições de vida, de potencialização — em todos os níveis — do esplendor natural deste território, assim como dos seus recursos naturais e humanos", glosou o Papa, que reivindicou que "não perderam a esperança, e também porque, após dias sombrios e difíceis, finalmente despontou uma aurora de paz e liberdade". Um objetivo para o qual "foi de grande ajuda estarem arraigados na fé católica".
Nesse sentido, o Papa agradeceu o seu diligente compromisso para alcançar uma reconciliação plena com os irmãos da Indonésia: "Vocês mantiveram firme sua esperança mesmo no meio da aflição e, graças ao caráter de seu povo e à sua fé, transformaram a dor em alegria".
"Tomara que também em outras situações de conflito, em diferentes partes do mundo, prevaleça o desejo de paz e de purificação da memória, para curar as feridas e combater o ódio com a reconciliação e o confronto com a colaboração", pediu.
Ao mesmo tempo, reconheceu que o Timor Leste tenha incorporado no "documento nacional a Declaração sobre a Fraternidade Humana", que foi incluída no plano de estudos em suas escolas. "Quero também exortá-los a continuar, com renovada confiança, a sábia construção e consolidação das instituições da sua República, para que os cidadãos possam sentir-se efetivamente representados nelas e sejam plenamente adequadas para servir ao povo de Timor Leste", acrescentou o pontífice.
Olhando para o presente e o futuro, o Papa proclamou os "novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver", para os quais pediu aos governantes "que seja a fé, que os iluminou e sustentou no passado, a que continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro".
Quais são esses desafios? O Papa enumerou alguns: "Penso no fenômeno da emigração, que constitui sempre um indicador de um uso insuficiente ou inadequado dos recursos, assim como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza um benefício justo e que garanta às famílias os rendimentos correspondentes às suas necessidades básicas". Também, "na pobreza presente em muitas zonas rurais, e na consequente necessidade de uma ação coral ampla que envolva as múltiplas forças e diferentes responsabilidades, civis, religiosas e sociais, para remediá-la e oferecer alternativas viáveis à emigração".
Finalmente, Francisco também lamentou as "verdadeiras pragas sociais, como o abuso no consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens e sua incorporação às gangues que, encorajadas por seu conhecimento das artes marciais, em vez de utilizá-las em defesa dos indefesos, aproveitam-se dele para exibir o poder efêmero e danoso da violência", sem esquecer "tantas crianças e adolescentes feridos em sua dignidade; todos somos chamados a agir com responsabilidade para prevenir todo tipo de abuso e garantir um crescimento sereno aos nossos jovens".
Junto a isso, uma melhoria na gestão das reservas naturais do país, entre as quais destacou as de petróleo e gás, "que poderiam oferecer possibilidades de desenvolvimento sem precedentes", para o que convidou a "uma formação especializada àqueles que estão chamados a ser, em um futuro não distante, a classe dirigente do país".
O que pode fazer a Igreja? "A Doutrina Social da Igreja não é uma ideologia", esclareceu. "A Igreja põe à disposição sua doutrina social como base para esse processo de formação, que constitui um pilar insubstituível sobre o qual desenvolver os conhecimentos específicos, e no qual sempre é preciso apoiar-se para verificar se os novos avanços realmente beneficiarão o desenvolvimento integral ou se serão, pelo contrário, um obstáculo que produz desequilíbrios inaceitáveis e uma elevada proporção de excluídos, que ficam de lado", destacou o Papa, que voltou a encorajar os timorenses a "terem confiança e manterem um olhar esperançoso para o futuro".
"Vocês são um povo jovem, não em razão de sua cultura ou pelo tempo de assentamento nesta terra, que são muito antigos, mas porque cerca de 65% da população de Timor Leste tem menos de 30 anos", lembrou o Papa, incentivando a "investir na educação, seja na família ou na escola."
Uma educação "que coloque no centro as crianças e os jovens, e promova sua dignidade", o que, unido à "experiência e à sabedoria dos mais velhos", forma "uma mistura providencial de conhecimentos e impulsos generosos para o amanhã. Reúnam as crianças com os avós", repetiu.
"A Igreja Católica, sua doutrina social, suas instituições de assistência e caridade para os pobres, também as educativas e as de assistência médica, estão a serviço de todos e constituem um recurso valioso que permite olhar para o futuro com olhos cheios de esperança", destacou Francisco, que constatou o compromisso da Igreja com o bem comum, e lembrou o Acordo entre a Santa Sé e Timor, do qual se cumprem agora oito anos.
"Timor Leste, que soube enfrentar momentos de grande tribulação com paciência e heroísmo, vive hoje como um país pacífico e democrático, que está comprometido na construção de uma sociedade solidária e fraterna, e desenvolve relações pacíficas com seus vizinhos no âmbito da comunidade internacional", concluiu Francisco, que se mostrou confiante de que "vossa nação também será capaz de enfrentar as dificuldades e os problemas atuais com inteligência e criatividade".
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Francisco às autoridades de Timor Leste: "Edificar um país livre, democrático e solidário, onde ninguém se sinta excluído" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU