14 Agosto 2024
"Esse fato também pôs em embaraço o Papa depois que o artista foi acusado por várias freiras de terem sido abusadas sexualmente por ele: os fatos em questão teriam ocorrido há mais de trinta anos. Caíram em prescrição, mas Francisco decidiu submeter o ex-religioso (dispensado por desobediência da Ordem dos Jesuítas) a um processo canônico que deveria começar no dicastério da Doutrina da Fé", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 12-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A relação entre arte e moral sexual muitas vezes criou tensões entre artistas e autoridades eclesiásticas: antigamente – é o caso do grande Michelangelo - mas também nos nossos dias, como demonstra o caso do padre Marco Ivan Rupnik, famoso mosaicista cujas obras também foram executadas em Lourdes.
O padre Rupnik agora é acusado de ter abusado sexualmente de várias freiras. Rupnik, jesuíta de origem eslovena, é um dos mosaicistas mais conhecidos do mundo: suas obras também estão em santuários famosos.
Esse fato também pôs em embaraço o Papa depois que o artista foi acusado por várias freiras de terem sido abusadas sexualmente por ele: os fatos em questão teriam ocorrido há mais de trinta anos. Caíram em prescrição, mas Francisco decidiu submeter o ex-religioso (dispensado por desobediência da Ordem dos Jesuítas) a um processo canônico que deveria começar no dicastério da Doutrina da Fé. A questão abriu um problema singular: mosaicos realizados por um artista (e padre!) acusado de violência sexual podem ser mantidos em santuários importantes e até mesmo em uma capela do Vaticano?
Em julho, o bispo de Lourdes, D. Jean-Marc Micas, expressou a opinião de que seria oportuno remover esses mosaicos, acrescentando, no entanto, que essa solução teria provocado muitas polêmicas: depois, talvez também devido a pressões do Vaticano, acrescentou que por enquanto seria melhor não agir. Agora, porém, ficamos sabendo que em Bolonha, a convite do Cardeal Matteo Zuppi, Presidente da Conferência Episcopal Italiana, o artista tinha começado a executar alguns mosaicos em uma igreja paroquial, que agora deveriam ser concluídos. A pergunta que muitas se fazem é se é apropriado terminar a obra na suposição de que o tribunal do Vaticano confirme os atos reprováveis cometidos pelo ex-religioso.
A questão não é de fácil solução se olharmos para a história. Há cinco séculos, Michelangelo pintou alguns condenados nus na Capela Sistina: um fato que, alguns anos mais tarde, perturbou o Papa Pio IV que, em 1565, encomendou ao pintor Daniele da Volterra que cobrisse sua nudez. Quarenta anos antes, também Rafael, que havia pintado obras famosas no Vaticano, teve uma vida pessoal nem sempre coerente com os preceitos da Igreja na esfera sexual. Esses artistas, entretanto, não haviam cometido violências sexuais. Agora, porém, o caso é diferente: Rupnik é acusado de violências contra freiras: se o dicastério do Vaticano considerar as acusações procedentes e o condenar, as obras de um estuprador sexual poderão permanecer nas igrejas? Ainda mais - como já aconteceu algumas vezes - que algumas vítimas do ex-jesuíta se viram rezando diante de mosaicos feitos por seu abusador.
O caso de Rupnik – por quem, antes da explosão do caso, Francisco havia expressado estima - confronta o pontífice com uma decisão bastante espinhosa. E o mesmo se aplica ao Cardeal Zuppi que, como presidente da CEI, tem uma particular tarefa de exemplaridade.
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Arte e moral, os novos problemas. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU