15 Julho 2024
A Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil) realiza de 12 a 14 de julho em Aparecida (SP) seu 8º Encontro Nacional, com o tema: “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”. Trata-se de um espaço de reflexão, de partilha, de busca de novos caminhos para avançar juntos em vista do anúncio do Evangelho.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Nessa dinâmica comunicativa, cada vez mais determinada pela cultura digital, Moisés Sbardelotto refletiu sobre “Igreja em saída nas estradas digitais”, partindo sua reflexão da ideia de caminhar juntos nas estradas digitais. Faz-se necessário lembrar as palavras do Papa Francisco no Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2014: “entre as estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida”.
Moises Sbardelotto | Foto: Luis Miguel Modino
Essa afirmação nos leva a refletir, segundo Sbardelotto, sobre a presença plena dos cristãos nas redes sociais, lembrando a colocação do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, que no número 230 afirma: “A Igreja é chamada a se inculturar digitalmente, e sua presença nos ambientes digitais é incentivada por ser um lugar de testemunho e anúncio do Evangelho. Isso exige que os cristãos e as cristãs presentes na rede consigam ir além dos instrumentos e tomem consciência das mudanças fundamentais que as pessoas, a cultura e a sociedade experimentam nesse contexto, para aí também serem sal e luz do mundo”.
Uma participação nas redes sociais precisa levar a refletir sobre o modo como pessoal e comunitariamente se deve viver no mundo digital, com amor ao próximo, atentos aos outros no caminho comum ao longo das rodovias digitais. É algo que nos remete à sinodalidade, lembrando que, no Informe de Síntese da Primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, o capítulo 17 fala dos “Missionários no ambiente digital”, o que mostra que essa temática é uma preocupação da Igreja católica.
Sbardelotto abordou a questão dos pedágios das estradas digitais, ressaltando que o cristão não pode ser ingênuo: “nos ambientes digitais não podemos entrar como se fosse um lugar neutro, existem problemáticas”. Ele apresentou os resultados de uma pesquisa sobre o uso das mídias sociais no Brasil, afirmando que no início a internet era um espaço livre, um lugar aberto, democrático, que se tornou um latifúndio dominado pelas plataformas: Google, Amazon, Apple, Meta, Microsoft. Ele refletiu sobre a soberania dos nossos dados, questionando para onde estão indo os nossos dados, algo de fundamental importância, porque “os dados são o petróleo contemporâneo, a grande fonte de renda dessas empresas”.
PASCOM | Foto: Luis Miguel Modino
De fato, a internet não é um lugar neutro, é um lugar com interesses políticos e econômicos, sublinhou. Nesse sentido, ele refletiu sobre o lucro dessas empresas com as informações, que nem sempre são positivas, destacando que o que interessa é gerar lucro. Como consequência dessa realidade colocou o aumento de depressão e suicídio com o surgimento das redes sociais, surgindo assim o que denominou de “geração ansiosa”. Uma realidade que demanda da Igreja pensar no impacto que isso tem em sua missão.
Partindo do livro Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas, Sbardelotto questionou se o que acontece é engajamento ou assujeitamento. Algo que leva à criação frequente de conteúdos que geram impacto; disputa pela visibilidade e pela relevância; temor constante de desaparecer; não transparência algorítmica das plataformas. A consequência disso é o que ele chama contratestemunhos digitais, deixar-se levar pelo bezerro digital: visibilidade, voltar os olhos para mim; futilidade, esquecendo da essência da fé cristã; falsidade; agressividade. São atitudes que levam a pisotear o Evangelho, o que tem que levar a pensar o que está acontecendo no caminho da missão digital.
É preciso haver necessário um discernimento entre a lógica do lucro e a lógica da graça. A primeira propõe uma economia da atenção, consumo, individualidade, descarte; a segunda se concretiza na economia do dom, Deus que se entrega gratuitamente; a comunhão, a comunidade, o encontro. Desde aí abougou por uma presença discernente no ambiente digital, discernir o que nós fazemos em rede.
Ele lembrou as palavras de Francisco: “Nós cristãos não temos um produto para vender, mas uma vida para comunicar”. Diante disso afirmou a necessidade de ter clareza disso para que nossa missão seja fiel ao Evangelho, refletindo sobre as estradas digitais á luz do Caminho, que deve nos levar de volta às fontes, ao Jesus dos Evangelhos e ao Evangelho de Jesus. Daí a proposta de partir do Evangelho, de como o caminho pensado para caminhar hoje à luz do Evangelho.
Sbardelotto propôs alguns caminhos: o Caminho da proximidade, a atitude do Bom Samaritano, prestar atenção às pessoas que estão à margem da nossa comunicação digital, presença samaritana nas redes; o Caminho do anúncio do Reino, pensar em estratégias coletivas de missão coletiva, para chegar naqueles que chamou de pagãos digitais, aqueles que seguem o caminho do mercado, que tem que levar às ovelhas perdidas, superando uma linguagem católica só para católicos, buscando caminhos alternativos de engajamento social.
Igualmente propôs o Caminho do banquete, anunciar uma coisa boa, o amor de Deus, que é Pai, que é Mãe, comunicar um banquete apetecível; o Caminho estreito, ser coerentes, fiéis ao Evangelho nesse mercado que vai muitas vezes contra o Evangelho, falando de ser um anti-influenciador digital, jogar contra a lógica dos influenciadores; o Caminho da Cruz, o missionário digital é seguidor de alguém que afastou de se mesmo a tentação da fama, do dinheiro, do poder, alguém que não condescendeu com a mercantilização da Casa do Pai, que não serviu a dois senhores. Na Cruz, ressaltou Sbardelotto, tudo foi invertido, não houve curtidas e praticamente nenhum seguidor perante a Cruz, onde todas as lógicas são relativizadas. Tudo isso seguindo o que ele chamou de método Emaús, que tem como passos o encontro, a escuta, o diálogo e o testemunho.
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Moisés Sbardelotto: “Viver atentos aos outros no caminho comum ao longo das rodovias digitais” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU