A primeira presidente mulher e judia do México tem um compromisso com a Igreja

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07 Junho 2024

Nunca o México tinha tido uma mulher como presidente, tampouco uma pessoa judia no cargo. A vitória esmagadora de Claudia Sheinbaum – antiga presidente da Câmara da Cidade do México – já foi felicitada pelos bispos católicos do país, que fizeram questão de recordar à nova chefe de Estado o compromisso que assumiu com a Igreja, e que inclui dezenas de medidas que devem ser tomadas pelo governo e pelas instituições sociais para pacificar o país.

A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7Margens, 06-06-2024.

Durante a campanha eleitoral, Sheinbaum, que reconhece as suas raízes judaicas mas se assume como não religiosa, assinou o Compromisso pela Paz, um conjunto de sugestões formuladas pela Igreja Católica mexicana e por inúmeras organizações civis, produzido após dois anos de debates com mais de 1.600 instituições, recorda o jornal Catholic Herald. O documento abrange sete grandes temas: tecido social, segurança, justiça, prisões, adolescentes, governação e direitos humanos.

Nesta segunda-feira, 3 de junho, o dia imediatamente após a reivindicação da vitória, as instituições eclesiais responsáveis ​​pelo Diálogo Nacional para a Paz enviaram à recém-eleita uma carta para felicitá-la e a disponibilizar-se para um encontro. “Reiteramos a nossa vocação ao diálogo e à construção de pontes para trabalhar pela paz e pela justiça e a nossa disponibilidade para nos reunirmos nas próximas semanas para definir o caminho de colaboração para a implementação do compromisso pela paz”, dizia a mensagem.

“Sei de onde venho, mas os meus pais sempre foram ateus”

Nascida em 24-06-1962, na Cidade do México, Sheinbaum vem de uma família judia de origem lituana e búlgara. De acordo com vários meios de comunicação nacionais, citados pela Catholic News Agency, os seus avós paternos são judeus ashkenazi que emigraram da Lituânia para o México na década de 1920. Já os pais da sua mãe, Annie Pardo, são judeus sefarditas que chegaram da Bulgária na década de 1940, fugindo da perseguição nazista.

Numa declaração à edição espanhola do New York Times em 2020, Sheinbaum referiu-se ao seu distanciamento das práticas religiosas judaicas: “É claro que sei de onde venho, mas os meus pais sempre foram ateus… Nunca pertenci à comunidade judaica e crescemos um tanto distanciados disso”.

Mãe de dois filhos, avó de um neto, e, desde novembro de 2023, casada com o consultor do setor financeiro Jesús María Tarriba, Sheinbaum tem-se empenhado na luta contra a violência na capital do país. O fato de ter assegurado que iria manter as políticas econômicas do seu antecessor e colega de partido Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO) levam vários católicos a estar otimistas em relação à sua administração, assinala o Catholic Herald.

No seu discurso de vitória, Sheinbaum fez questão de dizer aos apoiadores: “Garantiremos a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião, de concentração e de mobilização. Somos democratas e por convicção nunca criaríamos um governo autoritário ou repressivo”. E acrescentou: “Também respeitaremos a diversidade política, social, cultural e religiosa. Diversidade de gênero e sexual. Continuaremos sempre a lutar contra qualquer forma de discriminação”.

Prioridade ao diálogo com todos, pedem bispos

A maior parte dos analistas vê a violência como o desafio mais crítico que Sheinbaum – cientista climática de formação – terá de enfrentar no seu mandato, que começa em 1º de outubro. Durante o mandato de AMLO, ocorreram pelo menos 30 mil assassinatos todos os anos no país.

“Na Cidade do México, Sheinbaum conseguiu unir os três poderes do governo para combater o crime, conseguindo reduzir drasticamente o número de mortes violentas”, sublinha o padre Alberto Gómez Sánchez, que dirige uma instituição de acolhimento de migrantes no estado de Chiapas, no sul do país, citado pelo site Crux.

Mas a região tem assistido a uma onda de violência sem precedentes causada pela disputa entre dois grandes cartéis de droga. Líderes comunitários, camponeses e membros de grupos indígenas que ousaram resistir às operações ilegais das máfias foram massacrados nos últimos meses.

“A delinquência tem crescido como um tumor cancerígeno e infiltrado no Estado e nas instituições, até na Igreja Católica. Até algumas pessoas que trabalham conosco nos ministérios pastorais se acostumaram a receber dinheiro dos cartéis”, disse o padre.

Gómez culpa os governos anteriores, lideradas por Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto, pelo poder crescente dos grupos criminosos em Chiapas e no México como um todo. AMLO não conseguiu mudar essa realidade em apenas seis anos, argumenta Gómez, mas agora Sheinbaum tem condições para obter mais sucesso. “Ela é uma mulher muito inteligente e agora receberá de AMLO um país com uma base mais firme”, disse Gómez.

Os bispos também estão esperançosos. “Elevamos as nossas orações para que, com a responsabilidade e a sabedoria que o cargo exige, e sempre buscando o bem comum, ela possa conduzir.

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