03 Outubro 2023
"O crente é aquele que dirige o seu olhar sobre cada coisa – no céu e na terra – modelando-o ao de Jesus, para dar à sua própria existência uma orientação evangélica, fundamentalmente sintonizada com a nota da alegria", escreve Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto do Dicastério para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Settimana News, 30-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo, o oitavo, o nono, o décimo, o décimo primeiro, o décimo segundo, o décimo terceiro, o décimo quarto, o décimo quinto, o décimo sexto, décimo sétimo e o décimo oitavo artigo da série.
O segundo elemento decisivo da pastoral da amizade diz respeito a uma nova modalidade de apresentar a experiência da fé aos homens e às mulheres do nosso tempo. Já dissemos que, segundo o Papa Francisco, o cristianismo da alegria deve ser o cristianismo do futuro, resta agora aprofundar como as paróquias podem propiciar mais concretamente a difusão de tal imagem.
Nesse sentido, trata-se de aprender a fazer eco à verdade segundo a qual a alegria que nasce e renasce em cada encontro com Jesus está ligada ao acolhimento pessoal de uma dupla revelação, que o próprio Jesus oferece a qualquer um que abra o seu coração a Ele: a revelação do nome de Deus como nome da misericórdia e a revelação do cumprimento de cada existência humana como cumprimento no amor. A alegria do Evangelho tem a ver com aquela experiência específica do cristianismo que é ter fé. A alegria é o grande dom de quem crê em Jesus e é precisamente disso que deriva a urgência de redefinir o perfil do crente na cabeça e no coração de todos operadores pastorais.
Terminada a época da consolação, não nos é mais possível pensar o perfil do crente segundo as antigas instruções, que se alicerçam essencialmente na ideia de um crente à altura do vale das lágrimas e, portanto, à altura a uma condição de vida adulta particularmente desafiadora.
A partir desse contexto, já completamente ultrapassado no Ocidente, o crente era e ainda é, por inércia, imaginado principalmente como "cidadão honesto e bom cristão", ou seja, como alguém que assume com responsabilidade os ônus ligados à busca do bem comum e à educação humana e espiritual das novas gerações, em vista da sua entrada na condição adulta, aceitando de bom grado os sacrifícios previstos e imprevistos. E é com base nesse perfil que se estruturam as práticas da iniciação cristã atualmente em vigor.
É tempo agora de repensar completamente o perfil do crente à luz da Opção Francisco, se quisermos realmente implementar a pastoral da amizade. Assim vem em nossa ajuda uma formidável passagem do número 18 da encíclica Lumen fidei: “Na fé, Cristo não é apenas Aquele em quem acreditamos, a maior manifestação do amor de Deus, mas é também Aquele a quem nos unimos para poder acreditar. A fé não só olha para Jesus, mas olha também a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver”.
Eis o que “ser crente” deveria significar hoje: alguém se torna crente simplesmente participando do olhar de Jesus, assumindo a perspectiva dos olhos de Jesus, vendo com os olhos de Jesus, olhando como Jesus olha.
O crente é aquele que dirige o seu olhar sobre cada coisa – no céu e na terra – modelando-o ao de Jesus, para dar à sua própria existência uma orientação evangélica, fundamentalmente sintonizada com a nota da alegria. Tendo isso em mente e no coração, será possível imaginar uma introdução à experiência de fé dos mais pequenos e não apenas à altura do cristianismo da alegria.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os olhos de Jesus [19]. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU