11 Agosto 2023
Vamos reproduzir a reflexão de Armando Matteo, “Uma fé ‘adulta’. Linguagens de fé e cultura contemporânea”, que faz parte do dossiê da revista Orientamenti pastorali 6/2023. Armando Matteo é secretário da seção doutrinária da Congregação para a Doutrina da Fé e professor extraordinário de teologia fundamental na Universidade Urbaniana. No Settimana News publica a coluna Opção Francisco.
O artigo é de Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, publicado por Settimana News, 25-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O crescente ateísmo juvenil há muito assumiu características geracionais. Já não se trata mais de algum caso isolado de jovem que, tendo celebrado a crisma, se distancia do mundo eclesial por motivos de aberto ou velado dissenso a respeito desse ou daquele ponto da doutrina ou da moral católica; nem as razões do desinteresse juvenil pelo universo da fé devem ser buscadas na disposição típica de quem está envolvido com seu próprio caminho de crescimento para se diferenciar do universo mental e, portanto, religioso de seus pais e dos demais adultos da sociedade.
O ponto de ruptura está mais ligado à dificuldade da grande maioria dos jovens de vislumbrar algum sentido possível entre o que é considerado, ao longo dos anos da infância e da adolescência, sob o rótulo “cristão” e a sua própria busca por uma resposta mais autenticamente verdadeira à dramática e prepotente questão sobre o tipo de pessoa que, ao crescer, se deseja ser.
Em suma, a difícil relação dos jovens com a fé concentra-se no fato de que tudo o que se faz na Igreja para o seu amadurecimento espiritual não os habilita a encontrar uma resposta convincente à seguinte pergunta: mas o que significa ser cristão quando se cresce, isto é, quando não se é mais criança? É com esse questionamento que a comunidade crente é hoje chamada a confrontar-se.
Olhando mais de perto, o que o ateísmo juvenil de hoje testemunha é precisamente o fosso cada vez mais claro entre a experiência de vida que o cristianismo prospecta e a experiência de vida com a qual se confrontam os nossos jovens, a partir dos círculos das pequenas tribos familiares a que pertencem. Por essa razão, com a crisma normalmente se chega a um ponto sem retorno. O substancial fracasso da celebração desse sacramento registra o fato de que atualmente crer nas palavras de Jesus e deixar-se inspirar por elas não faz mais parte do modo ordinário de conceber e levar a vida, quando se cresce, quando se deixa de ser crianças.
Em síntese, certifica que a fé cristã não encontra mais nenhuma colocação central ou ao menos relevante no imaginário do ser adulto contemporâneo. No fundo, é como se os jovens e as jovens nos mostrassem que o seu esforço para compor o cristianismo assimilado na paróquia com as instruções de vida recebidas na família e no âmbito mais amplo da sociedade que frequentam (penso aqui em particular na experiência escolar) - a sua descrença, numa palavra - tem a ver propriamente com o testemunho recebido sobre as coisas realmente caras aos seus adultos de referência e, portanto, ao mundo do adulto como tal. Do qual é natural que aspirem a fazer parte.
Pois bem, nesse coração adulto, hoje, há lugar para tudo: desde a equipe de futebol não por acaso chamada do “coração” ao carro dos sonhos, desde a procura de uma disponibilidade cada vez maior de dinheiro à busca obsessiva de se manter “sempre jovem”, desde a possibilidade de um exercício da sexualidade e da própria capacidade de atração erótica sem mais nenhum limite biológico até à desmedida abertura a todas as novidades que o aparato tecnológico põe à disposição dos consumidores atuais, desde o desejo de que nada falte aos filhos até o desejo de mantê-los consigo para sempre. Pois bem, nesse coração, há lugar para tudo menos para a experiência religiosa. Deus, Igreja, evangelho, pecado, salvação, oração pessoal, morte, juízo, paraíso, inferno, intercessão simplesmente não fazem mais parte do léxico familiar que os jovens frequentam, pois simplesmente não fazem mais parte do que é importante para os próprios adultos. E é assim que o atual caminho oferecido pelas paróquias aos jovens perde o seu impacto, pois já não está mais à sua disposição um contexto de partilha que favoreceria uma plena integração. Se Deus, oração, evangelho, caridade não são importantes para os pais e as mães de jovens, é difícil pensar que seriam decisivos para estes últimos em vista da busca sobre o que orientar a sua futura existência adulta.
Por outro lado, se a experiência cristã é substancialmente alheia ao mundo dos adultos, ao qual os jovens naturalmente aspiram a entrar, para esses jovens libertar-se dessa experiência torna-se uma urgência totalmente compreensível. Podem assim sancionar - isto é, com o abandono da fé - a saída daquela fase da vida a que a fé está agora quase exclusivamente relegada: a idade das crianças.
Esse é, na minha opinião, o verdadeiro cerne da questão da relação entre jovens e fé. Essa junção leva agora – deveria levar a comunidade crente – a mais de uma indagação sobre o cuidado que presta justamente à fé dos adultos, abandonando para sempre não só a ideia de um cidadão ocidental adulto naturalmente cristão, mas também a ideia de que o cidadão ocidental adulto seja crente, embora não praticante. A falha em alcançar uma fé “adulta”, por parte das novas gerações, encontra então a sua razão de ser em ter faltado e ainda em grande parte estar faltando um investimento pastoral para a fé possível dos adultos nas condições culturais e sociais de hoje. Esse é o ponto ao qual os crentes de hoje deveriam prestar muita atenção: somente conseguindo dar razão da fé cristã aos adultos e às adultas de hoje, será possível assumir o controle do crescente ateísmo juvenil. É a fé dos adultos que gera a fé "adulta" dos jovens. Vamos tentar aprofundar os pontos aqui mencionados.
Muitos anos se passaram desde que percebi que a relação das novas gerações com a fé católica estivava a à beira de uma virada particularmente significativa. Essas sensações iniciais assumiram depois a forma de uma evidência gritante: aquela dos jovens - ou seja, a geração nascida após 1980, os chamados millenials - era "a primeira geração incrédula"; assim surgiu, em 2010, o livro com o mesmo nome.
O ponto crítico de ruptura com o catolicismo das gerações anteriores era representado justamente pelo fato de que o desinteresse pelas práticas da fé se apresentava como traço distintivo de toda uma geração e não mais de indivíduos ou de uma minoria dela. Além disso, ainda era necessário perceber que, por trás daquele distanciamento progressivo da frequência regular à missa dominical, o desaparecimento do interesse por uma formação religiosa que fosse além do necessário para obter permissão para celebrar a crisma e o abandono da prática da leitura da Bíblia e da oração pessoal, surgia o verdadeiro cerne de todo o ateísmo juvenil.
Tratava-se do desinteresse da geração nascida depois de 1980 em considerar relevante para o percurso pessoal de acesso à idade adulta o que - sobre o evangelho e a Igreja – tivesse sido aprendido durante os anos de frequência às paróquias, às escolas dominicais, às horas de religião na escola e nas tantas associações e movimentos que compõem o mundo católico. Em suma, estava em jogo o desinteresse de toda uma geração para encontrar uma resposta convincente para a pergunta: o que significa ser cristãos quando não se é mais criança? E era por isso – argumentava-se - que os jovens começaram a não mais se interessar pelas coisas que a Igreja faz e diz, quando fala de fé, e que não hesitavam mais em se considerar fora da tribo católica.
Como mencionado, já se passaram mais de dez anos desde que tudo isso começou a tomar forma na minha cabeça. Nesse ínterim, o que mudou não foi o panorama da religiosidade juvenil, mas a confirmação empírica de que aquele panorama realmente mudou. De fato, nos últimos anos foram realizadas numerosas pesquisas sociológicas em nível nacional e internacional que corroboram o que a expressão "primeira geração incrédula" entendia e ainda hoje entende chamar à atenção do pessoal de Igreja. Sem saber como compor o que se aprendeu sobre o cristianismo durante a infância e a adolescência com a própria urgência de crescimento adulto, os jovens estão aprendendo a viver sem o Deus apresentado pelo evangelho e sem a experiência de Igreja que dele decorre.
Mas não há apenas esse aspecto geral do recente desinteresse do mundo juvenil pela fé católica. Vale a pena considerar pelo menos mais dois. O primeiro - realmente surpreendente, em relação aos imaginários tradicionais do panorama católico de todas as latitudes do nosso planeta - é aquele representado pelo avanço do ateísmo juvenil feminino. Poder-se-ia realmente afirmar que a especificidade da primeira geração incrédula é dada justamente pelo fato de que as pequenas ateias crescem.
As meninas e jovens nascidas após 1980, em termos gerais, já não apresentam mais nenhuma diferença substancial face à sua relação com o universo da Igreja Católica e seus pares do sexo masculino. Exceto alguma propensão a mais pela oração pessoal, todos os demais parâmetros que são usados sociologicamente para sondar uma experiência de fé encontram toda a geração dos millenials orientada para um decidido desinteresse comparado com as gerações anteriores. Isso se impõe de forma muito específica justamente ao longo do eixo representado pelas meninas e jovens. Aliás, deve-se acrescentar que é justamente essa diferença "entre gênero" que marca o panorama católico atual. Por isso as novas gerações de mulheres vão à igreja, afirmam crer e rezar, se identificam com os valores do catolicismo mais ou menos na mesma medida que seus pares masculinos.
Qualquer um que tenha um mínimo de familiaridade com os ambientes eclesiais sabe bem como é fecunda e maciça a presença de mulheres que participam dos ritos, que rezam, que se dedicam à catequese e às diversas atividades de voluntariado, sem esquecer a incansável e inestimável obra realizada pelas freiras. Justamente estas últimas são agora a parte da Igreja que está pagando o preço mais alto pelo advento da primeira geração incrédula, sendo cada vez menos e cada vez mais idosas.
A disposição das jovens de embarcar no caminho de uma vida consagrada está, sem dúvida, no nível mais baixo. Não somente. Quase todas as paróquias católicas hoje lutam muito para encontrar jovens dispostas a se dedicar ao catecismo, às atividades de voluntariado, aos diversos serviços que a manutenção de uma paróquia ou de uma escola dominical implicam. Também nesse caso, a longevidade das atuais catequistas e das senhoras “empenhadas”, como costuma-se dizer na linguagem dos padres, permite-nos não perceber com toda a seriedade a questão que o afastamento das jovens comporta no nível tão elementar, mas não por isso menos decisivo, da disponibilidade de assumir – e gratuitamente – as atividades da Igreja, não ligadas ao ministério do padre.
O dado é, portanto, particularmente significativo e, em certa medida, pode ser registrado também nas realidades eclesiais de fundação mais recente. Estamos pensando aqui na África, na América Latina e na Índia. Se é certamente verdade que nesses lugares a maior presença na Igreja é garantida precisamente pela componente feminina da população, também é verdade que, tão logo que essas mulheres iniciam um percurso de trabalho, radicalmente diminui a sua disponibilidade – e talvez também o seu interesse – pela participação na vida da comunidade. Além disso, não se pode esquecer que é precisamente o âmbito de trabalho aquele que vê, nos contextos de antiga presença católica, a população jovem feminina mais preparada e disponível para a mudança e para a inovação do que a população masculina.
O fato de serem sobretudo as mulheres jovens que imprimiram um caráter geracional ao atual ateísmo juvenil traz a nossa reflexão de volta à questão geral já indicada sobre o ateísmo juvenil. E a questão logo é nomeada: em que medida e sob quais condições é compatível a fé no Deus de Jesus com as novas constelações humanas que regem a vida quotidiana contemporânea e que encontram a sua confirmação mais clara precisamente na condição atual da mulher?
O segundo dado que caracteriza a atual relação das novas gerações com a fé toma forma a partir do relevo pelo qual - quanto mais recentes forem as pesquisas que em todos os níveis nacionais e internacionais verificam a relação das novas gerações com a experiência da fé - mais aumenta a proporção de jovens que se declaram completamente fora do mundo da religião, sem “se” nem “mas”. Cruzando os levantamentos realizados sobre a religiosidade juvenil nos últimos dez anos em linha diacrónica, pode-se facilmente ver que aquilo que podemos definir como a percentagem de jovens que com convicção afirmam não ter nenhum interesse pela religião não só está em constante crescimento, mas que esse crescimento tem uma natureza exponencial.
Uma possível interpretação desse dado é aquela para a qual a parcela "mais jovem" dos jovens - aquela que alguém já renomeou de geração z a geração da rede, referindo-se aos nascidos após 1995 - acelera todos os sinais de desinteresse pela fé já bem presentes e marcados na atual cota dos millenials que agora se encaminham para a entrada na vida adulta, ou seja, nos jovens "menos jovens". Em suma, especialmente os atuais adolescentes e obviamente as atuais adolescentes expressam ainda menos interesse pela religião do que aqueles que os precederam!
Essa constatação em progresso confirma que a fé está se tornando cada vez mais algo de meninos e meninas. Mais radicalmente, torna-se algo “infantil”, ou seja, ligado justamente àquela forma de imaginar e vivenciar o mundo de forma infantil que depois entra em crise com a entrada dos pequenos na fase adolescente. Lentamente, mas profundamente, a fé passa assim por uma profunda reescrita.
Nesse mundo "criança", acredita-se em Jesus e na Nossa Senhora da mesma forma que se confia na presença e nas atividades sumariamente importantes do Papai Noel; num mundo desse tipo reza-se com a mesma vontade com que se brinca, e assiste-se à missa da mesma forma que se assiste à televisão com os avós ou com a babá de plantão. A própria catequese, composta de desenhos, músicas, danças e brincadeiras, não difere muito das mil atividades que caracterizam a atual escola básica.
Mas há mais, na verdade. De fato, deve-se acrescentar que a idade média dos catequistas muitas vezes se assemelha mais àquela da avó ou do avô do que à da mãe ou pelo menos à do pai; acrescente-se que hoje a única forma universalmente reconhecida como válida pelas famílias para solicitar e obter algum empenho dos filhos é a que passa pela promessa de uma generosa recompensa; acrescente-se ainda a projeção natural para a frente que caracteriza o ser humano pelo menos nesse estágio de sua existência, e se terá que, quanto mais cresce na criança o desejo de crescer, maior será a sua consciência de ter que abandonar tudo o que se refere ao mundo das crianças.
E, finalmente, aqui está o ponto de condensação do raciocínio: como a primeira forma de "adultez" é hoje representada pela posse pessoal de um celular, o aparelho é quase sempre prometido como presente para a missa de primeira comunhão. E assim, por mais enfadonho que possa a certa altura se tornar o catecismo, por mais que o ar que se respira também no domingo durante a celebração da missa quase em nada lembre o que poderia ser um dia festivo, por mais que custe um pouco levantar no domingo de manhã para ir à paróquia, tudo isso não pesa quase nada em comparação com a conquista daquele pedaço do mundo adulto que representa o smartphone prometido para a missa de primeira comunhão. E assim se configura o mundo da fé como inteiramente parte daquilo que as crianças fazem quando são crianças e enquanto são crianças.
Claro, o tom destas últimas linhas é deliberadamente e exageradamente tragicômico; no entanto, a questão que pretende destacar é particularmente decisiva: a fé é uma questão considerada válida apenas para crianças e enquanto se é criança; a fé não habita mais os espaços do mundo adulto e por isso aqueles que já agora se aventuram no terreno da adolescência (literalmente "tempo para se tornar adultos") manifestam um crescente desinteresse pela religião, pelas questões que ela suscita e pela sua proposta de vida.
A pergunta que aparece de imediato é àquela relativa às causas de uma mudança tão radical que os adolescentes e os jovens anunciam no campo da experiência religiosa. Em suma, como aconteceu que a fé se tornou algo específico apenas para crianças e enquanto se é criança, com exceção talvez daquela outra faixa etária - a dos avôs e avós - na qual, em certa medida, se experimenta também alguma forma retorno a ser criança?
A resposta para as perguntas apresentadas até aqui é clara: a correia de transmissão da fé se rompeu. Sim, a correia de transmissão geracional da fé gradualmente se desgastou e depois se rompeu definitivamente. Querendo ou não, os adultos pertencentes às duas gerações que hoje dominam o mundo em formas e pesos diferentes - os da geração dos boomers (1946-1964) e os da geração X (1964-1970) - não favoreceu nenhuma forma de testemunho sobre a importância de crer, orar, ler algum texto sagrado, o Evangelho por exemplo, para com seus filhos. E isso não é porque houve algo como uma decisão coletiva da classe adulta contra o mundo da religião; nos próprios adultos, ao contrário, é a própria fé - a experiência concreta de ter fé - que lentamente se esvaiu, se marginalizou, foi removida e apagada.
As pesquisas falam por si. Nas famílias, e naquilo que muitas vezes sobrevive ou se reinventa das famílias, não há mais espaço para a oração, para a leitura da Bíblia e, por fim, para discussões que possam de alguma forma, mesmo remotamente, tocar as grandes questões da existência humana, desde o sentido das diferentes fases da vida até a busca do que poderia permitir o cultivo efetivo da própria interioridade, desde o sentido da inelutável necessidade de ter que morrer até o da precariedade radical da nossa espécie.
Já faz anos que os meninos e jovens que vêm ao mundo não veem mais nenhum vestígio da presença de Deus nos olhos de suas mães e pais, não veem mais suas cabeças reunidas em um momento de devota concentração, não veem mais suas mãos folheando as páginas da Bíblia, não veem mais seus pés dirigindo-se para a igreja, no domingo, no Natal ou na Páscoa pelo menos, não ouvem mais seus lábios erguerem gritos de dor ou hinos de gratidão a um Pai que proveria do céu seus filhos na terra e, finalmente, não ouvem mais aqueles mesmos lábios invocando alguma benção divina por ocasião de aniversários, eventos, recorrências. É precisamente a vida dos adultos, na verdade, uma vida que definitivamente aprendeu a viver sem Deus e sem Igreja, com o efeito de um código que é a própria vida adulta que cada vez mais é imaginada e definida a partir dessas duas ausências.
Certamente, a fé é e continua sendo para todos, inclusive para os jovens, uma decisão pessoal, mas é e continua sendo uma decisão que respira e se inspira no ambiente em que se vive. Os seres humanos não aprendem a vida sozinhos, não desfrutam de um aparato instintivo completo, não estão automaticamente habilitados para o ofício de viver. Os seres humanos aprendem vendo e, vendo, aprendem: assim nasce a possibilidade de cada pequeno humano dar um valor às coisas do mundo e ao mundo das coisas em sua totalidade. E se é verdade que os olhos da mãe e do pai, as mãos e os pés da mãe e do pai, as palavras e os "refrãos" da mãe e do pai são o primeiro mapa de valores do mundo, na mesma medida aqueles olhos, aquelas mãos, aqueles pés, aquelas palavras, aqueles "refrãos" são o primeiro mapa teológico do universo. São, numa palavra, a primeira e fundadora cátedra daquilo que cada um, ao crescer, decidirá assumir como padrão de medida da sua pertença à espécie humana.
O ateísmo juvenil atual é substancialmente alimentado pela morte do cristianismo doméstico e familiar, pelo eclipse de Deus nos olhos paternos e maternos, na perda de sua devoção íntima, no seu afastamento da participação na vida eclesial, daquelas longas discussões - que povoam as noites e os dias de festa das pequenas tribos familiares - sobre o que realmente conta em uma existência humana digna de ser vivida.
Desnecessário ficar dando voltas: entre as coisas que realmente importam na existência dos adultos, não há espaço para Deus, para a Igreja, para o evangelho, para a oração, para a devoção. O que realmente importa para eles agora é quase somente sua posição socioeconômica, sua busca por estar sempre em forma apesar de sua carteira de identidade e, por fim, sua torcida esportiva. De fato, quem não vê que em muitas famílias é justamente o horário em que joga o seu time ou aquele em que se disputa uma competição nesse ou naquele torneio automobilístico ou de motovelocidade que dita a agenda do antigo “dia do Senhor”?
A correia de transmissão da fé rompeu-se assim sem dramas e quase sem pesares. Na medida em que Deus foi gradualmente desaparecendo do horizonte da consciência dos adultos nascidos entre meados da década de 1940 e o final da década de 1970, na mesma medida emerge uma figura de adulto cada vez mais marcada por um horizonte de vida no qual Deus simplesmente não tem mais lugar. E é a figura do adulto a quem os jovens inevitavelmente se referem à medida que crescem. Em suma, é praticamente impossível para os nossos jovens discernir o que significa crer quando já não são mais crianças, precisamente porque os termos "adulto" e "crente", "adulto" e "cristão" nas famílias já não se encontram mais e não se cruzam mais. Os jovens simplesmente não sabem mais o que é uma fé "adulta"!
E é por isso que, assim que esses mesmos jovens dão os primeiros passos para fora da adolescência e da primeira juventude – ou seja, por volta da idade em que frequentam o ensino secundário – basta-lhes um pretexto qualquer para abandonarem a prática (infantil) da fé: uma aula de filosofia kantiana ou pós-kantiana, uma discussão sobre a evolução numa aula de biologia, um evento de luto, uma desilusão amorosa, a escuta de algum divulgador científico e assim por diante… Experiências como essas só podem confirmar o que já haviam amadurecido dentro de si, ou seja, que a fé não é coisa de adultos. Que a fé é inútil quando você cresce. Que não existe fé "adulta".
Essas considerações nos remetem ao tema decisivo de nossa reflexão: é tempo de assumir a fé dos adultos, tentando reescrever uma gramática da fé capaz de suscitar justamente nos adultos um renovado desejo de Deus e de Igreja. É sempre a eles que os jovens se dirigirão para compreender se a fé faz parte ou não da vida humana do mundo! Para saber que forma tem uma fé "adulta".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Fé “adulta” e ateísmo juvenil. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU