04 Julho 2023
"No imaginário difundido dos adultos, não há vestígio da ideia fundamental para o Papa Francisco da experiência da fé como aquela experiência de alegria que sempre nasce e renasce no encontro com Jesus", escreve Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Settimana News, 30-06-2023.
Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo, o oitavo, o nono, o décimo, o décimo primeiro, o décimo segundo, o décimo terceiro, o décimo quarto, o décimo quinto e o décimo sexto artigos da série.
Antes de proceder a uma análise detalhada daquilo que com o Papa Francisco chamamos de “pastoral da amizade”, é oportuno considerar o que os adultos de hoje esperam de uma paróquia. De fato, tal olhar "de fora" tem o poder de nos devolver imediatamente a urgência com que a Opção Francisco sublinha a tarefa de abandonar o quanto antes a pastoral da consolação.
Pois bem, ouvindo atentamente os adultos de hoje, verifica-se que as suas expectativas em relação à instituição paroquial – permanecer precisamente na forma mais ordinária com que a Igreja se faz presente no mundo de hoje – movem-se na órbita de uma experiência cristã ainda enclausurada pela tema de consolo e conforto.
De fato, os adultos imaginam que é possível ir à paróquia apenas para obter ajuda ligada a momentos de particular desafio que a vida oferece. Estou pensando aqui no tema da morte súbita em idade não muito avançada de um parente próximo; descobrir uma doença degenerativa; a chegada de uma criança com deficiências particulares; as consequências de um acidente rodoviário muito grave. Em suma, a paróquia representa para o mundo adulto nada mais que um “espaço limite” para situações extremas.
A título de exaustividade, não podemos deixar de referir a ideia, cara sobretudo aos adultos com filhos, da paróquia como lugar graças ao qual é possível organizar suntuosas celebrações para a primeira comunhão dos mais novos e para a crisma dos mais velhos.
Por outro lado, a ideia de ir à paróquia para encontrar Jesus ou fazer com que os filhos encontrem Jesus, pedir orientação para a nossa vida cada vez mais longa e imprevisível, aprender a rezar e rezar, encontrar-se em uma comunidade de irmãos e irmãs unidos por uma fé comum no Evangelho, quase não há vestígios nas expectativas que a população ocidental adulta tem em relação à paróquia.
É preciso notar que, no imaginário difundido dos adultos, não há vestígio da ideia fundamental para o Papa Francisco da experiência da fé como aquela experiência de alegria que sempre nasce e renasce no encontro com Jesus.
Não é por acaso – movendo-se mais diretamente no seio da Igreja italiana – que a parcela da população mais ausente da paróquia seja justamente a adulta. Os dados que Franco Garelli nos forneceu há poucos anos em seu formidável ensaio Pessoas de pouca fé são de uma eloquência inigualável. E nos conduzem à questão central da Opção Francisco: a restauração do caráter materno/generativo da comunidade eclesial.
A Igreja só faz sentido, na realidade, se gerar novos discípulos e discípulas do Senhor Jesus, e tal tarefa será cada vez mais difícil de realizar se essa mesma comunidade não se empenhar em credenciar uma imagem da experiência de fé precisamente entre adultos sintonizados com o horizonte de alegria e de grande ganho que sempre alcançam aqueles que respondem positivamente à oferta de amizade que vem de Jesus.
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Olhando “de fora”. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU