02 Setembro 2023
A confiança no sensus fidei e a fé no Espírito Santo fornecem ingredientes essenciais para os resultados tão necessários do Sínodo.
O comentário é de Justin Stanwix, diácono na Paróquia St Mary Star of the Sea, na Diocese de Wollongong, Austrália. O artigo foi publicado por La Croix Internacional, 30-08-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A apenas um mês da Primeira Assembleia do Sínodo em Roma, as especulações sobre a relevância, o apoio público e até as recentes expressões de medo em relação ao Sínodo talvez sejam inevitáveis. Recentemente, Peter Steinfels desmascarou alguns falsos temores em relação ao Sínodo, conforme escritos por Robert P. Imbelli. Assim, mesmo um otimista hesitante deveria ficar encantado por esse assunto ser classificado como um tema de debate e de comentários sérios.
A leitura do Evangelho do domingo passado, que em outros anos é a festa de Santa Mônica, tão apropriadamente escolhida para ser a mãe de Santo Agostinho, proclamou a questão cósmica universal: quem vocês dizem que eu sou? A resposta de Pedro foi selada com as chaves do Reino dos Céus. Essas chaves não foram dadas para acessar uma câmara vazia ou para participar de um festival de conversas conviviais, mas com o propósito expresso de ação: ligar e desligar. Esse é o desafio para os participantes do Sínodo e de uma magnitude que raramente foi tão necessária.
Essas lideranças são chamadas a embarcar em uma jornada histórica, em um momento único da história moderna. Elas não estão preocupadas em reagir a problemas do tipo da pós-Reforma ou mesmo a um “aggiornamento”, mas sim às necessidades da Igreja de uma dimensão global diferente – que não é mais eurocêntrica, em um mundo secular para o qual a Cristandade se reduz a uma memória para muitos, mas uma Igreja encarregada para sempre de levar a mensagem de Jesus até aos confins da Terra. Por esses motivos, o Papa Francisco apela a uma Igreja diferente (não a uma Igreja nova) para o novo milênio.
Já se passaram quase 70 anos desde que Yves Congar propôs, por sua conta e risco, uma verdadeira reforma na Igreja. Nós nos beneficiamos das notáveis intuições e das reformas substanciais feitas pelo Vaticano II. Já ultrapassamos até os 60 anos “obrigatórios” para que os decretos do Concílio sejam implementados. Infelizmente, ainda temos um longo caminho pela frente, apesar da oposição estridente de alguns setores.
Em um mundo de comunicação instantânea, de diminuição da adesão à Igreja no mundo ocidental, de domínio das mídias sociais difusas, de um fracasso generalizado em atrair a generosidade dos jovens, tudo sublinhado pela agitação mundial, será que podemos adiar mais ainda o enfrentamento corajoso dos desafios do nosso tempo?
Perante tais circunstâncias, a Igreja envolveu-se no mais amplo processo de consulta de sua história. A preparação foi conduzida meticulosamente em todo o mundo. O Instrumentum laboris sintetizou as contribuições de todas as regiões e forneceu um itinerário para a jornada. Não é um rascunho de nada, e seria muito errado caracterizá-lo como tal. O caminho da escuta ativa, no exercício do discernimento, deve agora continuar com seriedade.
O discernimento, por sua natureza, não é uma tarefa simples: dada a complexidade e a antiguidade de muitas questões, a ponderação orante das questões será fundamentalmente desafiadora. É possível mencionar as estruturas de governo da Igreja e o apego aos estilos monárquicos, a revisão incompleta do direito canônico que João XXIII anunciou há mais de 60 anos, a reforma litúrgica atrasada e a revisão da linguagem litúrgica.
Muitas delas se defrontam a posições tradicionais, exigem o exame da injustiça que tem sobrevivido há 2.000 anos, como o adequado reconhecimento das mulheres, o diaconato feminino, a revisão de uma decisão de 1.000 anos atrás sobre o clero casado e a luta com questões contemporâneas urgentes, que notavelmente não estavam realmente na vanguarda anteriormente, como o cuidado da nossa casa comum, a nossa atitude para com as pessoas homossexuais, os casais divorciados e recasados, a nossa resposta cristã à pobreza e à falta de moradia, a situação mundial dos refugiados... A lista poderia continuar.
A lista só é assustadora se nos opusermos a qualquer forma de mudança, ainda mais a qualquer forma de atualização ou reforma. Não é mais possível descartar os assuntos como “questões polêmicas de sempre” e sorrir diante de rótulos desdenhosos. Conhecemos e apreciamos bem a tradição do julgamento prudencial, mas essa sabedoria não pode ser mal utilizada para justificar a inação ou a resistência às mudanças necessárias.
Nesta semana [em sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano], o Papa Francisco nos convidou, como Povo de Deus, a “convergirmos em um majestoso rio de reflexão e renovação (…) num abrangente caminho de diálogo sinodal e conversão”. Ele também escreve que “uma Igreja sinodal deve dar vida semeando justiça e paz em cada lugar que atinge”.
Rezemos pelos membros do Sínodo e por um resultado sinodal bem-sucedido.
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Sínodo sobre a Sinodalidade: esperança sim, medo não - Instituto Humanitas Unisinos - IHU