Zelensky, o Papa e o equilíbrio EUA-China. Artigo de Agostino Giovagnoli

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15 Mai 2023

“Se hoje russos e ucranianos estão mais do que nunca unidos contra a paz, é melhor ampliar nosso olhar. Desenvolvimentos interessantes estão em andamento no cenário internacional”. A opinião é do professor Agostino Giovagnoli, historiador da Universidade Católica de Milão, publicada por Formiche, 14-05-2023.

Eis o artigo.

"Com todo o respeito a Vossa Santidade, não precisamos de mediadores." O grande comunicador Volodymyr Zelensky se comunicou mal desta vez. Não se sai do escritório do Papa batendo a porta. Não só porque o Papa é o Papa, mas também porque a voz de Francisco – que lhe deu um ramo de oliveira de bronze – é hoje a voz de tantos que sofrem com a guerra. Portanto, é também a voz dos ucranianos exaustos pela agressão russa.

E então: você tem certeza de que hoje o Papa pretende fazer a mediação entre a Rússia e a Ucrânia? Claro, a esperança de trazer russos e ucranianos para a mesa da paz é sempre buscada tenazmente por Francisco e ai se não fosse esse o caso. Mas depois de mais de um ano de guerra, o Vaticano não tem muitas ilusões sobre um acordo entre dois contendores focado mais do que nunca no confronto militar. E não parece que a Santa Sé tivesse grandes expectativas nesse sentido em relação à visita de Zelensky.

Pode ser porque sua viagem foi preparada em poucos dias, mas diz algo que o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, não se encontrou com o presidente ucraniano porque ele estava ocupado em Fátima. Ele falou com o papa e com D. Paul Gallagher, secretário de Relações com Estados e Organismos Internacionais, e tratou principalmente de questões humanitárias. Já se sabia nos últimos dias que a Santa Sé está olhando para outro lugar quando Francisco, voltando da Hungria, falou de uma missão de paz do Vaticano, ainda encoberta pelo sigilo. A Rússia e a Ucrânia imediatamente declararam que não sabiam nada sobre isso e para muitos isso soou como uma negação. Mas talvez ele apenas quis dizer que os "canais" de que fala o Papa não os interessam imediatamente.

Se hoje russos e ucranianos estão mais do que nunca unidos contra a paz, é melhor ampliar nosso olhar. Desenvolvimentos interessantes estão em andamento no cenário internacional. A missão de Li Hui à Ucrânia começa na segunda-feira, seguida de uma viagem à Rússia. Ele é um diplomata de longa data, ex-embaixador em Moscou, enviado pelo líder Xi Jinping para tornar ainda mais concreta a iniciativa de paz chinesa, cuja consistência foi teimosamente negada por muitos observadores ocidentais até ontem.

Na realidade, desde o início da guerra Pequim manifestou inquietação com a agressão russa na Ucrânia, para depois passar gradualmente a invocar a paz, apresentar um plano de doze pontos, procurar contatos com outros interlocutores, sobretudo europeus. Pequenos passos, se quiserem, mas todos na mesma direção.

O presidente francês Emmanuel Macron estava certo ao creditar sua autenticidade: a infeliz escolha do líder russo Vladimir Putin tem muitos efeitos negativos para os interesses chineses. Isso não significa que a missão de Li Hui dê resultados imediatos. Em Roma, Zelensky congelou muitas esperanças ao declarar que no máximo poderá servir mais tarde.

Mas, entretanto, está a emergir uma aproximação entre os Estados Unidos e a China: primeiro o discurso de Janet Yellen, secretária do Tesouro, e depois o de Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional, na sequência do encontro em Pequim entre o embaixador dos EUA, Nicholas Burns e o ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, e depois a de Wang Yi, chefe da diplomacia do Partido Comunista Chinês, e o próprio Sullivan em Viena: é provável que a Santa Sé também esteja observando atentamente esses desenvolvimentos da situação internacional, tão importantes pela paz na Ucrânia e além. Também por isso, na véspera de sua jornada em Roma, o New York Times publicou a manchete "Zelensky chega à Itália para encontro com o Papa Francisco", colocando em segundo plano os encontros do presidente ucraniano com os representantes do Estado italiano.

Um erro, portanto, o de Zelensky com o papa. A menos que ele estivesse errado sabendo que estava errado. Porque, em suma, ele não poderia fazer de outra forma. Na ausência da menor abertura do lado russo, provavelmente Zelensky - que nunca abandonou a camuflagem e o moletom ao entrar nos palácios romanos - não pode fazer nada além de desempenhar o papel de comandante em chefe. Há algo de trágico em sua figura, neste aspecto especular à de Putin, ambos incapazes de sair do papel que a situação lhes impõe.

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