Sobre a paz, posições distantes. “O plano do Papa não serve”

Papa Francisco recebe Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia. (Foto: Vatican Media)

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15 Mai 2023

Os frutos do encontro de sábado à tarde no Vaticano entre o Papa Francisco e Volodymyr Zelensky, se houver algum, serão vistos nas próximas semanas ou meses. Dos compromissos romanos mais importantes do presidente ucraniano - quarenta minutos de conversa com o papa e meia hora com monsenhor Paul Gallagher, o "ministro das Relações Exteriores" da Santa Sé - surgiram, de fato, duas narrativas bastante diferentes, que evidenciam posições decididamente distantes, quase inconciliáveis.

A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 14-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Os temas da conversa entre Bergoglio e Zelensky "referem-se à situação humanitária e política na Ucrânia causada pela guerra em curso", divulgou uma comunicação aos jornalistas da Sala de Imprensa da Santa Sé, publicada poucos minutos depois do presidente ucraniano ter deixado o Vaticano.

“O Papa garantiu sua oração constante, testemunhada por seus numerosos apelos públicos e pela invocação contínua ao Senhor pela paz, desde fevereiro do ano passado – acrescenta a nota -. Ambos concordaram com a necessidade de continuar os esforços humanitários em apoio da população. O Papa destacou em particular a urgência de gestos de humanidade para com as pessoas mais frágeis, vítimas inocentes do conflito”.

No encontro com Gallagher – o Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin não esteve presente porque se encontrava em Fátima para o aniversário das aparições marianas – falou-se sobretudo da guerra na Ucrânia, das “urgências a ela ligadas, em particular aquelas de natureza humanitária”, e da “necessidade de continuar os esforços para alcançar a paz”, informou o comunicado oficial do Vaticano. Mas também de “algumas questões bilaterais, relacionadas sobretudo com a vida da Igreja Católica no país”.

A reconstrução de Zelensky, confiada ao seu perfil no Twitter, é diferente: “Encontrei-me com o Papa Francisco. Sou grato a ele por sua atenção pessoal à tragédia de milhões de ucranianos, ele também destacou as dezenas de milhares de crianças deportadas: devemos fazer todos os esforços para trazê-los para casa. Além disso, pedi a ele que condenasse os crimes russos na Ucrânia, porque não pode haver igualdade entre a vítima e o agressor. Também falei sobre nossa fórmula de paz como único algoritmo eficaz para alcançar uma paz justa".

Depois, à noite, falando ao vivo em uma edição especial do programa Porta a porta apresentado por Bruno Vespa do terraço do Vittoriano, o presidente ucraniano foi ainda mais explícito: “Foi uma honra para mim encontrar sua santidade, mas ele conhece a minha posição: a guerra está na Ucrânia, por isso o plano de paz deve ser da Ucrânia. Estamos muito interessados em envolver o Vaticano em nossa fórmula de paz”. E ainda: “Com todo o respeito ao papa, não precisamos de um mediador entre a Ucrânia e um Estado agressor. Não se pode fazer uma mediação com Putin. Queremos uma paz justa para a Ucrânia, por isso convidamos o pontífice a trabalhar no nosso plano”.

Posições distantes, portanto, que também surgiram na tradicional troca de presentes: uma escultura em cobre representando um ramo de oliveira e alguns textos sobre a paz e a fraternidade humana de parte do papa, um ícone de Nossa Senhora pintado na chapa de um colete à prova de balas por Zelensky. E que, sobretudo, estão patentes nos vários planos de paz: aquele ucraniano, em dez pontos, que prevê, entre outras coisas, o retorno às fronteiras de 1991; e o da Santa Sé (apresentado em setembro de 2022 à Pontifícia Academia das Ciências), em sete pontos, que, ao contrário, imagina uma espécie de status especial para a Crimeia e a autonomia (dentro da Ucrânia) das regiões de Lugansk e Donetsk. O caminho para a paz realmente não parece passar pelo Vaticano. Pelo menos neste momento.

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